Sumário. Eis como Maria, enquanto na sua casa está suplicando a Deus pela vinda do Redentor, vê um anjo que a saúda e lhe anuncia ser ela mesma destinada para Mãe do Salvador. A humilde Virgenzinha, julgando-se nimiamente indigna de tamanha honra, fica toda perturbada; mas afinal dá o consentimento, e naquele mesmo instante o Verbo divino se tornou seu Filho. Ó grande Mãe de Deus, vós, tão privilegiada e tão humilde, nós, tão pecadores e tão orgulhosos, obtende-nos a santa humildade.Ecce concipies in utero et paries filium, et vocabis nomen eius Iesum — “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc 1, 31)
Explica-se literalmente a segunda palavra de Cristo na Cruz
A segunda palavra ou sentença proferida por Cristo na Cruz, segundo, testifica São Lucas foi à magnifica promessa a um dos dois ladrões também com Ele crucificados:Foi a origem desta segunda palavra haverem sido dois ladrões condenados ao mesmo suplício da Cruz, e estar cada um pendente na sua, um à direita, outro à esquerda de Cristo, e agravar um deles os seus passados crimes, injuriando o Redentor, dizendo-Lhe, arguindo-o de nada poder:"Amém. Hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23, 39)
Ora São Marcos e São Mateus dizem (Mt 27; Mc 15), que os ladrões, crucificados com Cristo lhe exprobravam o seu pouco poder, porém o que se deve entender, é, que aqueles Evangelistas empregaram o número plural por singular; o que é freqüente na Sagrada Escritura, como observou Santo Agostinho nos Livros da uniformidade dos Evangelistas (1): pois o Apóstolo escrevendo aos hebreus a respeito dos profetas, diz (Hb 11, 33-37): Açaimaram as bocas dos leões; foram apedrejados, foram serrados, e apesar disto, quem açaimou as bocas dos leões, foi só Daniel; só Jeremias foi apedrejado; e serrado só Isaías. A isto se deve acrescentar, que São Mateus e São Marcos não dizem tão claramente que ambos os ladrões insultaram Cristo, como São Lucas explicitamente escreve (Lc 23, 39): Um dos ladrões que com ele foram crucificados, lhe dirigia impropérios; acrescendo mais, que não há motivo nenhum para o mesmo ladrão ora O insultasse, ora O louvasse."Se és Cristo livra-te dos tormentos, e a nós também"
Sumário. Ó, quão bem sabe Deus recompensar, nesta vida e na outra, os pequenos sacrifícios dos seus servos. Eis como São Bento, por haver deixado as comodidades da casa paterna, possui agora um reino imenso e eterno. Por haver deixado parentes e amigos, ei-lo feito Pai de uma família numerosa e gloriosa. Regozijemo-nos com o santo Patriarca, e para participarmos um dia de sua recompensa, correspondamos à nossa vocação. Vivamos sobretudo desapegados dos bens terrenos, e se o Senhor te chamar a deixar inteiramente o mundo, não hesites em fazê-lo, que nunca disso te arrependerás.Omnis qui reliquerit domum, vel fratres, aut sorores, aut patrem, aut matrem... propter nomen meum, centuplum accipiet, et vitam aeternam possidebit — “Todo aquele que deixar por amor de meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe...receberá o cêntuplo, e possuirá a vida eterna” (Mt 19, 29)
Com esta passagem da sua epístola dá ao Apóstolo a conhecer, que nós pelo mistério da Cruz podemos saber que a grandeza da caridade de Cristo é tamanha, que excede todo o saber humano, por ser maior do que a força da nossa inteligência pode compreender, pois nós, quando sofremos alguma grande dor, ou dos olhos, ou dos dentes, ou da cabeça, ou de outra alguma parte, tanto dela nos deixamos dominar, que a mais nada damos atenção; e por isso nem recebemos amigos, que venham visitar-nos, nem outros indivíduos, que por diversos motivos nos queiram falar."E conhecer também a caridade de Cristo, que excede todo o entendimento" (Ef 3, 19)
Explica-se literalmente a primeira palavra de Cristo na Cruz
Cristo, Jesus, Verbo do Pai Eterno, e de quem seu mesmo Pai disse claramente: Ouvi-o (Mt 17), e, que de Si mesmo disse também claramente: Um só é o vosso Mestre, o Cristo (Mt 23), para desempenhar cabalmente a Sua missão, não só nunca deixou de ensinar, enquanto viveu; porém, mesmo da cadeira da Cruz fez uma pregação curta, mas ardente, proveitosíssima, de muita eficácia e inteiramente digníssima de ser recolhida pelos cristãos no íntimo do coração, de lá ser guardada, meditada e posta em prática. A primeira sentença é esta: Jesus então dizia: Meu Pai perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (Lc 23, 34), a qual quis o Espírito Santo, que como nova e insólita fosse profetizada por Isaías naquelas palavras:"Meu Pai perdoa-lhes; não sabem o que fazem" (Lc 23, 34)
Com quanta verdade o Apóstolo São Paulo, disse (1Cor 13, 5): A caridade não busca os seus próprios interesses, pode facilmente conhecer-se da ordem daquelas sentenças; pois delas, três dizem respeito ao bem dos outros, três ao bem próprio, e uma é comum, o Senhor, porém, teve primeiramente cuidado dos outros, e em último lugar de Si."E rogou pelos transgressores" (Is 53, 12)
I
São João tornara-se a luz da Ásia.«Convinha, escreve um grande doutor, que a Igreja, em seu começo, tivesse em algum lugar um facho resplandecente que ficasse aceso a fim de esclarecer as dúvidas dos fiéis. Primeiramente, Maria fora esse facho; ela morta, ficou São João para ser a luz da Igreja, até que esta tomasse sua forma definitiva e sua consistência» (1)Graças à estadia prolongada e luminosa no centro da Igreja do primeiro século, foi que João pôde reunir um certo número de discípulos que receberam suas lições, apossaram-se de seu espírito e transmitiram-no em seguida às longínquas cidades do Oriente e do Ocidente. Formam eles o que se chamou a escola de São João. Era, sem dúvida, numerosa; e entre os que a frequentaram, muitos são desconhecidos. Outros fizeram-se conhecer pelo brilho de suas virtudes ou de suas obras; e a história desses discípulos lança uma última luz sobre a do mestre. Inácio e Policarpo ocupam um lugar proeminente nesta escola.