Meditação para a Quarta-feira de Pentecostes
SUMARIO
Continuaremos as nossas meditações sobre o Espírito Santo; estudaremos a Sua ação sobre as almas, e veremos:
1.° Como Ele ilumina a nossa inteligência;
2.º Como eleva o nosso coração;
3.° Como aperfeiçoa os nossos atos.
— Tomaremos depois a resolução:
1.º De perguntarmos a nós mesmos durante o dia:
É efetivamente o Espírito de Deus que me anima neste momento; que me faz orar isto, dizer esta palavra, deter-me neste pensamento? Nada há de humano nas minhas intenções e nos meus projetos?
2.º A resolução de nos precatarmos de preocupação dos desejos ou das afeições, que nos impediriam de ouvir o Espírito Santo.
O nosso ramalhete espiritual será a invocação da Igreja:
“Vinde, ó espírito criador, visitai a mente dos vossos” – Veni, Creator Spiritus, mentes tuorum visita
Meditação para o Dia
Adoremos o Espírito de Deus como supremo e universal diretor das almas. Ele enche o céu e a terra das Suas santas inspirações, e nenhuma alma escapa à Sua ação senão quando ela quer (1). Oh! Quão bem merece debaixo deste título todos os nossos louvores e todo o nosso amor!
PRIMEIRO PONTO O
Espírito Santo ilumina a Inteligência
É o Espírito de Deus, está escrito, que ensina toda a verdade (2); é a Sua unção que instrui a alma em todas as coisas (3). O conhecimento puramente natural de Deus deixa-nos insensíveis e não nos fala ao coração; mas infunda o Espírito divino neste conhecimento a Sua luz e unção, logo ficamos enlevados, cheios de admiração, e de amor, e tem-se visto almas passarem horas inteiras a saborear esta palavra: Meu Deus. Sucede o mesmo com todas as verdades religiosas, a ponto de as provas da fé, até as mais vitoriosas, nunca resolveram um homem a crer, se o próprio Espírito Santo, o sublime iluminador das inteligências, lhas não mostra; o que faz, que o mesmo começo da fé seja uma graça, como a Igreja o definiu. E sucede assim conosco e com todas as coisas. Sem o Espírito de Deus, somos cegos, não nos conhecemos: daí a nossa soberba e presunção; não conhecemos a falsidade, o nada, o perigo dos supostos bens deste mundo: daí as afeições e as paixões; não sabemos nem o que é preciso fazer, nem o que é preciso dizer: daí as imprudências, as faltas quotidianas. Mas convosco, ó divino Espírito, ó bem-aventurada luz, vemos o nosso nada e a nossa miséria, a nossa malícia e ignorância, todas as razões emfim para nos desprezarmos, para nos conservarmos muito humildes, para desconfiarmos de nós, para fugirmos das ocasiões do mal, e para Vos implorar incessantemente.
“Vinde pois, ó Santo Espírito, e mandai-nos do céu um raio da Vossa luz” – Veni, Sancte Spiritus, et emitte caelitus lucis tuae radium
SEGUNDO PONTO
O Espírito Santo eleva o Coração
O Espírito de Deus, quando possui um coração eleva-o acima de todas as coisas da terra: as riquezas, para esse coração, perdem o seu brilho, os prazeres e as honras o seu atrativo. Exclama-se como Santo Inácio:
“Quão desprezível é a terra quando se olha para o céu!” – Quam sordet tellus cum caelum aspicio!
Se se têm que padecer, sente alegria; é a glória e a felicidade: Eles saíam gozosos por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (4), está dito dos Apóstolos. E é isto o que tem resolvido, desde há dezoito [vinte] séculos, e resolve ainda todos os dias tantas almas colocadas em brilhantes posições, a abandonar tudo para se dedicarem à vida austera e obscura dos claustros. É assim que o homem, que tem o Espírito de Deus, se eleva acima de tudo o que é transitório; eleva-se até ao mesmo Deus, e se Lhe une pela oração. Oh! Como ele ora bem! Como está recolhido consigo, enternecido, penetrado! Parece, que já se acha no céu entre os anjos e os santos. Como ele faz subir até ao coração de Deus esses gemidos inefáveis, que só o Espírito Santo sabe formar nas almas (5), essas ternas efusões de uma piedade toda filial, que faz clamar ao céu: Pai, Pai! (6). Como finalmente se contrai esse amor do coração e da união com Deus, que se torna a felicidade da vida! (7) Admirável efeito da caridade de Deus, que o Espírito Santo infunde em todas as faculdades da alma! É assim que se formam os nobres corações, as grandes almas, capazes de todos os sacrifícios, próprias para todas as santas obras.
Ó Espírito Santo, autor de tudo o que é bem, vinde tomar posse do meu pobre coração; vinde criar em mim um coração novo, um coração generoso, um coração que só palpite de amor por Vós, e pelos meus irmãos por amor de Vós e pelo desejo de Vos agradar
TERCEIRO PONTO
O Espírito de Deus aperfeiçoa os nossos Atos
Quando possuímos o Espírito Santo, fazemos bem todas as coisas, porque as fazemos, não com temor e constrangimento, mas com amor e por amor. Então nada nos custa, ou se custa sacrifícios, é uma alegria. Então já não obramos maquinalmente e sem um fim, por hábito, ainda menos por fantasia e capricho, por leviandade e irreflexão, ou pela falsa sabedoria do mundo; mas propomo-nos sempre as vistas elevadas da fé; e para melhor o conseguir, refletimos antes de obrar; consultamos mais depressa a luz da oração do que os cálculos da sabedoria humana; e durante a ação procedemos com madureza, sem essa pressa ou precipitação, que nos obscurece o entendimento e nos torna imprudentes. Obramos com humildade, mansidão e paciência, ajudados da sabedoria lá do alto, que modera e conduz tudo a um fim bom. É assim que, onde os olhos humanos só vê em trevas, a luz de Deus mostra o que devemos fazer; e com ela, onde os sábios do mundo se extraviam, fazemos prodígios: prova-o São Vicente dê Paulo, Santo Inácio, São Francisco Xavier e muitos outros, como a eminente sabedoria excedeu toda a sabedoria do mundo. É finalmente o que faz os homens de Deus próprios para toda a especie de bem; é o que aperfeiçoa todos os atos e santifica a vida. Aspiremos de toda a nossa alma a ter em todas as coisas o espírito de Deus e não o espírito do homem.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Nec est qui se abscondate a calore ejus (Sl 18, 7)
(2) Spiritus veritatis docebite vos omnem veritatem (Jo 16, 13)
(3) Unctio ejus docet vos de omnibus (Jo 2, 27)
(4) Iban gaudentes… quoniam digni habiti sunt pro nomine Jesu contumeliam pati (At 5, 41)
(5) Ipse Spiritus postulat pro nobis gemitibus inenarrabilibus (Rm 8, 26)
(6) In quo clamamus: Abba, Pater! (Rm 8, 15)
(7) Nos vero orationi… instantes erimus (At 6, 4)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 125-129)