Da fé nasce a esperança. Pois Deus nos ilumina com a fé, fazendo-nos conhecer sua bondade e suas promessas, para que nos elevemos pela esperança ao desejo de possuí-lo. Possuindo Maria a virtude da fé por excelência, teve também, por excelência, a virtude da esperança. Bem podia dizer com Davi: Para mim a felicidade é apegar-me a Deus, pôr no Senhor Deus a minha esperança (Sl 22,28). Maria foi a fiel esposa do Espírito Santo, aplaudida nos Cânticos: Quem é esta que sobe do deserto inundando delícias, e firmada sobre o seu amado? (8,5). Sobre o texto diz o Cardeal Algrino:
“Maria foi sempre e totalmente desapegada dos afetos do mundo, que lhe passava por um deserto. Não confiava nem nas criaturas, nem nos próprios merecimentos, mas só contava com a graça divina, na qual estava toda a sua confiança. E assim se adiantou cada vez mais no amor de seu Deus”
Mostrou, de fato, a Santíssima Urgem quanto lhe era grande essa confiança em Deus, primeiramente ao ver a perplexidade de S José, seu esposo, que, ignorando a misteriosa maternidade de sua esposa, pensava em deixá-la
Parecia, então, como já consideramos, ser necessário que lhe revelasse o oculto mistério. Entretanto ela não quis manifestar por si mesma a graça recebida, diz Cornélio a Lápide. Preferiu abandonar-se à Providência divina, na certeza de que o próprio Deus viria defender-lhe a inocência e a reputação.
Provou ainda sua confiança em Deus quando, próxima ao parto, se viu em Belém, expulsa até da hospedaria dos pobres, e reduzida a dar à luz numa estrebaria.
“E o reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2,7).
Nem a menor queixa lhe escapou dos lábios. Abandonou- se, pelo contrário, completamente nas mãos de Deus e confiou que então a assistiria nesse transe.
Igual confiança mostrou também na Providência quando São José a avisou de que era necessário fugir para o Egito. Ainda na mesma noite, partiu para a longa e penosa viagem a um país desconhecido, sem provisões, sem dinheiro e sem outro acompanhamento senão o do Menino Jesus e de seu pobre esposo.
“E levantando-se, José tomou consigo, ainda noite, o Menino e sua Mãe e retirou-se para o Egito” (Mt 2,14).
Melhor ainda demonstrou, porém, sua confiança, quando pediu ao Filho o milagre do vinho em favor dos esposos de Caná. Disse-lhe apenas: Eles não têm vinho. Ao que respondeu Jesus: Que nos importa isso, a mim e a ti? Minha hora ainda não chegou (Jo 2,4). Apesar da aparente repulsa, confiada na divina bondade, ordenou a Virgem aos servos que fizessem resolutamente o que lhes ordenasse o Filho. Pois era garantida a graça rogada. Com efeito, Cristo Senhor mandou encher com água os vasos e depois a mudou em vinho.
Aprendamos, portanto, de Maria, como ter esperança em Deus, principalmente no grande assunto da salvação eterna
Para resolvê-lo, é indispensável a nossa cooperação; contudo só de Deus devemos esperar a graça para consegui-lo. Desconfiando de nossas próprias forças, devemos dizer com o apóstolo: Tudo posso naquele que me fortifica (Fl 4,13).
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