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Sobre a Presunção

Meditação para o Décimo Quarto Sábado depois de Pentecostes. Sobre a Presunção

Meditação para o Décimo Quarto Sábado depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre outro vício oposto à humildade, que é a presunção; e veremos:

1.° Quanto este vício é indigno de uma alma cristã;

2.° De quantos modos nos tornamos presunçosos.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos abismarmos diante de Deus no sentimento das nossas misérias, e de repelirmos toda a complacência no bom conceito, que fôssemos tentados a formar de nós mesmos;

2.° Confiarmos só em Deus, e de desconfiarmos de nós até evitar as menores ocasiões do pecado.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Espírito Santo:

“Quanto maior sois, tanto mais vos deveis humilhar em todas coisas” – Quanto magnus es, humillia te in omnibus (Ecl 3, 20)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor estimando-Se tão pouco, como homem que se reputa o opróbrio e desprezo dos homens (1), e a Si mesmo se denomina pelo seu profeta um bicho da terra, que só é próprio para ser calcado aos pés (2). Admiremos esta disposição do coração de Jesus, e tributemos-Lhe honra e glória.

PRIMEIRO PONTO

Quanto a Presunção é indigna de uma Alma Cristã

A presunção é um vício, que faz que, cheios do bom conceito de nós mesmos, confiemos nas nossas próprias forças, na nossa inteligência, nos nossos talentos, na nossa virtude, como se não dependêssemos de Deus. Esta presunção é reprovada em todas as páginas da Sagrada Escritura; aqui diz-se que é uma impiedade (3); ali está escrito que é uma insensatez (4). Em outra parte, Deus amaldiçoa-o. Amaldiçoa o homem que confia no homem (5), e por conseguinte em si mesmo, pois que não é mais que um homem. Confiar em nós mesmos e na nossa habilidade, excluindo Deus, é desconhecer o supremo domínio de Deus sobre todas as coisas, em oposição com a palavra dos nossos sagrados livros. Tudo é sujeito ao vosso império, ó meu Deus! (6) é desmentir a palavra de Jesus Cristo: Sem mim nada podeis fazer (7); é causar a nós mesmo o maior prejuízo: porque, com a confiança em Deus, em lugar da presunção, o homem mais fraco pode tudo. Davi prostra Golias, Judite derrota um numeroso exército, dizendo a Deus: Ouvi esta miserável que vos suplica e que tudo espera da vossa misericórdia (8); e a sua confiança não é confundida. Ao contrário, com a presunção, o mais poderoso é mal sucedido. O exército dos assírios confiava nas suas forças, e é destroçado, a pedido desta mulher forte:

“Mostrai, Senhor, que não desamparais aos que presumem de vós; e que humilhais aos que presumem de si mesmos, e se gloriam do seu poder” – Ostende quoniam non derelinquis praesumentes de te, et praesumentes de se et de sua virtute gloriantes humilias (Jud 6, 15)

É a lei que Deus estabeleceu para todos os séculos, e o primeiro dos Apóstolos a sofreu como os outros. Ele jura que será fiel a seu Mestre ainda mesmo com perigo da sua vida; mas porque, presumindo de si, confia unicamente nas suas próprias forças, dá a mais terrível queda. Quem não tremerá vendo cair esta coluna? (9) Se Pedro caiu, quem poderá presumir de si mesmo? (10)

SEGUNDO PONTO

De quantos modos nos tornamos Presunçosos?

Tornamo-nos presunçosos:

1.º Julgando possuir mais conhecimentos, mais juízo e prudência que os outros; o que faz que só se consulte a própria sabedoria, ainda nas coisas mais difíceis;

2.° Reputando-nos com talento bastante para ser bem sucedido em tudo, e não desconfiado da nossa fraqueza;

3.° Atribuindo aos nossos próprios méritos a graça de Deus e supondo que somos melhor que aqueles, que receberam mais graças do que nós;

4.° Deixando a outros o temor dos juízos de Deus e os cuidados da salvação, porque não ligamos importância às nossas próprias culpas, e nos gloriamos de não ter certos vícios que outrem tem;

5.° Antepondo-nos aos outros porque, se possuem alguns talentos mais do que nós, lisonjeamo-nos de possuir outros que eles não têm; e se são mais perfeitos que nós, provém isso não das nossas culpas, mas das graças mais abundantes que lhes foram concedidas. Cheios destas falsas ideias, exigimos grandes atenções, distinções e preferências; idolatramo-nos a nós mesmo, só aprovamos o que fazemos, só apreciamos o que dizemos; quase nunca cedemos a pessoa alguma, e com a nossa altivez e teimosia tornamo-nos desagradável aos outros.

Examinemos se não temos alguns destes vícios.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Opprobrium hominum et abjectio plebis (Sl 21, 7)

(2) Ego sum vermis, et non homo (Sl 21, 7)

(3) Qui confidit in cogitationibus suis, impie agit (Pr 12, 2)

(4) Qui confidit in corde suo, stultus est (Pr 28, 26)

(5) Maledictus homo qui confidit in homine (Jr 17, 5)

(6) In ditione tua cuncta sunt posita (Est 13, 9)

(7) Sine me, nihil potestis facere (Jo 15, 5)

(8) Exaudi me miseram deprecantem et de tua misericordia praesumentem (Jud 9, 17)

(9) Quis non contremescei ad illius columnae casum?

(10) Si Petrus lapsus est, quis alius de se jure praesumet? (São Bernardo, Sermão 6, De Caena Domini)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 168-171)