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Uma consciência, um grito

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Nascimento do Menino Jesus

Por Dom Henrique Soares da Costa

A Igreja de Cristo está vivendo o santo Tempo do Advento, quatro semanas que nos preparam para o Natal do Senhor e nos recordam que Ele virá um Dia.
No século XII, pregando aos seus monges neste tempo de Advento, São Bernardo de Claraval, falava em três vindas de Cristo: aquela na humildade de nossa humana condição, em Belém; aquela gloriosa, como Juiz, que aguardamos para o final dos tempos e mais uma: aquela vinda pequena e escondida, de cada dia. Isso mesmo: Ele vem vindo, vem vindo sempre: nas situações, nas pessoas, na Sua Palavra santa e, sobretudo, na Eucaristia.

Sabemos reconhecê-Lo?
Sabemos acolhê-Lo?
Sabemos abrir-Lhe nosso coração e nossa vida?

Neste tempo, a Igreja lê preferencialmente o livro do Profeta Isaías. Um pequeno texto desse profeta afirma:

“Eis, uma voz que diz: ‘Clama’, ao que pergunto: ‘Que hei de clamar?’ – Toda carne é erva e toda a sua graça como a flor do campo. Seca-se a erva e murcha-se a flor… Mas a Palavra do nosso Deus subsiste para sempre” (Is 40,6-8)

Aqui duas coisas chamam atenção. Primeiro: a afirmação de que toda carne é erva. Na Bíblia, carne é o todo ser vivo (e o homem, especialmente) enquanto é frágil, passageiro, limitado, mortal e tendente à imperfeição.

Pois bem: o homem atual, iludido, quer fazer-se Deus, julga-se tão sábio e maduro a ponto de prescindir do Criador, acha que pode construir sozinho a sua vida, decidindo por si próprio o que é bem e o que é mal, o que é certo e o que é errado, o que lhe convém e o que não convém.

É preciso gritar-lhe, recordar-lhe:

“Toda carne é erva, é pó! Tu és apenas erva, tu passarás. Tu não és Deus! Deus está no Céu e tu, ó pó pensante e saudoso, estás na terra!”

Isto não é para nos humilhar, mas para fazer enxergar sem magalomanias a nossa realidade. O homem somente não passará se se abrir para o Eterno, para Deus, que o plenifica e faz com que o seu sonho de vida, felicidade e plenitude não seja um quimera, mas uma doce e certa realidade!

Há uma segunda coisa, impressionante. O texto do Profeta diz que toda carne, todo homem, é erva que murcha, mas a Palavra de Deus subsiste para sempre. Note-se o contraste: de um lado, a carne que murcha e passa, do outro, a Palavra que subsiste para sempre. E, no entanto, para nossa surpresa, o Evangelho afirma:

“A Palavra (que não passa, que subsiste) Se fez carne (que murcha e passa) e habitou entre nós!” (Jo 1,14)

Por pura misericórdia, para dar ao homem, que é carne, a vida verdadeira, a subsistência autêntica e eterna, a Palavra, o Verbo eterno de Deus, fez-Se carne, fez-Se homem débil e mortal, enchendo de promessa de vida e imortalidade a nossa humana existência.
O homem é pequeno, mas amado e, no amor de Deus, que vem a ele, pode descobrir sua verdadeira grandeza!

Eis a grande mensagem para a qual o Advento deseja nos preparar! Por nós mesmos, somos pequenos e insuficientes; abrindo-nos para Deus, nossa vida ganha gosto de Eternidade. Quem dera deixássemos a soberba e acolhêssemos a Palavra que nasceu em Belém…

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