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Discórdia

Discórdia, Tesouros de Cornélio à Lápide

Causas da discórdia

Donde provém as guerras e os pleitos entre vós?, pergunta o Apóstolo São Tiago. Não são vossas paixões que combatem em vossa carne? Unde bello et lites in vobis? Nonne hinc, ex concupiscentiis vestris quae militant in membris vestris? (Tg 4, 1).

A discórdia é infernal e diabólica; emana de Lúcifer, que foi o primeiro a introduzi-la entre os Anjos no Céu.

Uma das fontes da discórdia é a cobiça e avareza, fundando-se, na maioria das vezes, nas palavras: o teu… e o meu.

Outro manancial de discórdias é o orgulho, dizem os Provérbios: Inter superbos semper jurgia sunt (Pr 13, 10).

A discórdia é pecado

Seis coisas há, disse Salomão, que o Senhor abomina, e outra, ademais, é- Lhe detestável: os olhos altaneiros, a língua mentirosa, as mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina desígnios perversos, os pés ligeiros para correr ao mal, o falso testemunho, e aquele que semeia discórdias entre irmãos: Sex sunt aque odit Dominus, et semptimum detestaturaniam ejus… eum qui seminat inter fratres discórdias (Pr 6, 16-19).

Esta passagem da Sagrada Escritura claramente indica que a discórdia é um grande crime…

Estragos que a discórdia produz

A discórdia engendra a imprudência, as provocações, as palavras mortificantes e as maldições. Provoca aqueles cujos vícios descobre, e trata de descobrir, por sua vez, os de seus adversários. De uma e de outra parte delatam-se, aumentam-se, inventam-se uma multidão de fatos. Assim é que o homem que se deleita na discórdia torna-se infame e perde sua reputação; criam-se inimizades, disputas e desgraças, e faz aos demais participar de igual sorte.

O homem de discórdia manifesta uma alma vil, covarde, débil, invejosa e má. As crianças e as mulheres que estão devorados por este vício horrível não podendo vingar-se, à mão armada, vingam-se com a língua, enchendo de invectivas, de recriminações e imprecações a seu adversário.

São Basílio compara ao eco aqueles que semeiam a discórdia e propendem a armar disputas. O eco, diz o Santo, repete o som da voz que recebeu: quanto mais griteis, mais ele grita; e também quanto mais o insulteis, tanto mais ouvireis repetir ao vosso redor, como um eco, as injúrias e os ultrajes: Sicut si vocem emittas, respondebit eadem voce echo, et quo magis vociferaris, eo magis vociferabitur echo; sic pariter, qui você proba jacit, similia sibi ab alio, quase ab echo, responderi jacique audiet (Serm. cont. Irascent.).

Irritados uns contra os outros, os homens de discórdia repreendem-se todos os seus defeitos, até os ocultos, e lançam-se na cara. Lúcifer é seu pai: ele os inspira, excita-os, insta… Foi a discórdia o que criou o Inferno e o que levou Satanás à perdição, bem como a seus anjos. A discórdia é a que transforma os homens em réprobos e demônios.

A discórdia, diz Salustio, destrói as maiores coisas: Res maximae discordia dilabuntur (Anton. in Meliss).

A discórdia introduz a turbação, a desordem e a ruína nas famílias e nações. Olhai o que é uma família, um exército ou uma nação, divididos pela discórdia.

Motivos que nos obrigam a evitar a discórdia

Suscita-se uma disputa entre os pastores dos rebanhos de Abraão e os do rebanho de Ló, diz o Gênesis, até ao ponto de Abraão dizer a Ló: Rogo-vos que não haja diferenças entre nós e nem entre vossos pastores e os meus, pois somos irmãos: Fratres enim sumus (Gn 13, 7-8).

Recordai-vos, vós que amais a discórdia, deste admirável exemplo; recordai- vos de que somos irmãos em Jesus Cristo; e, então, conseguireis vos deter. Recordai-vos de que Deus impôs-nos a todos o dever de amar-nos.

A paciência é um excelente meio para evitar a discórdia. Com a paciência, diz Santo Agostinho, rechaçais a palavra que fere, e esta, então, volta-se contra aquele que a lançou, ficando vós mesmos ilesos: Maledictum, patientia repercussum in suum redit autorem, illaeso, eo qui patebatur (Serm. XV, De Ressurrect.).

Devemos sempre sofrer com igualdade de ânimo, diz Sêneca, os ultrajes dos imprudentes: Aequo animo audienda sunt imperitorum convicia (In Prov.).

O ódio oculta-se no fundo do coração para saltar e ferir em ocasiões inesperadas. O remédio é cortar toda a sua raiz, e destruí-la, assim, inteiramente.

Guardar silêncio é também um meio de afogar a discórdia. O fogo sobe ao rosto do homem que ama as disputas e encoleriza-se; tende, pois, calma: se seus olhos agitam-se, olhai-o com bondade; se ele levanta a voz, respondei-lhe com brandura, ou melhor, não lhe respondais (Epist.).

Temos de suportar aos homens irascíveis e inflamados, diz o Venerável Beda; porque ninguém pode chegar a ser um Abel, se a malícia de Caim não põe à prova a sua paciência e a sua virtude: Tolerandi sunt ubiqueproximi; quia Abel fieri non valet, quem Caim malitia non exercet (In Colect.).

É uma honra para o homem o fugir de contendas, dizem os Provérbios: Honor est homini qui separat se a contentionibus (Pr 3).

Para evitar a discórdia e afogá-la, convém, pois, praticar a paciência, a caridade, a prudência e a doçura.