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Terceira razão de sermos Humildes: Nihil possumus

Meditação para a Décima Quarta-feira depois de Pentecostes. Terceira razão de sermos Humildes: Nihil possumus

Meditação para a Décima Quarta-feira depois do Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre uma terceira razão de sermos humildes, que é, que nada podemos – Nihil possumus, quer dizer:

1.° Que nada podemos de nós mesmos;

2.° Que ainda com os auxílios ordinários de Deus, somos à própria fraqueza.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De desconfiarmos de nós mesmos, e de fugirmos das ocasiões de pecado;

2.° De confiarmos em Deus, sem nos desanimarmos por causa das nossas fraquezas.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:

“Quando estou enfermo, então estou forte; tudo posso naquele que me conforta” – Cum infirmor, tunc potens sum (2Cor 12, 10). Omnia possum in eo qui me confortat (Fl 4, 13)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo, o único deste mundo que seja poderoso (1), aniquilando de tal sorte este poder, que se mostra nos dias de sua infância debaixo dos exteriores da mais completa fraqueza; que, em uma idade mais avançada, declara que nada pode fazer por sua própria virtude (2); e que depois da sua morte, fica no Sacramento da Eucaristia num estado em que, atendendo-se às aparências, não pode ver, nem ouvir, nem falar, nem mexer-se, a fim de nos ensinar a honrar a Deus com a humilde confissão da nossa fraqueza sem o seu socorro. Agradeçamos-Lhe este ensino que nos dá, e tributemos-Lhe os nossos costumados respeitos.

PRIMEIRO PONTO

Nada podemos de nós mesmos: Nihil possumus

É Jesus Cristo que no-lo afirma:

“Sem mim nada podeis fazer nada” – Sine me, nihil postestis facere (Jo 15, 5)

É a razão que no-lo dita, pois de nós mesmos nada somos e nada temos (3). Somos tão miseráveis, que, se Deus não nos sustentar, não nos mover, e não nos inspirar, somos como que um corpo morto (4), incapazes de praticar qualquer obra (5), de dizer qualquer palavra (6), de ter um pensamento (7), de conceber um desejo que mereça o céu (8), de fazer o mais pequeno movimento (9). Não podemos até a atribuir-nos a cooperação com a graça, porque esta cooperação é uma graça, nem o conhecimento de que nada podemos porque este conhecimento é uma das maiores graças que Deus possa conceder-nos.

Finalmente, somos tão incapazes de todo o bem, que foi necessário que Deus nos obtivesse, com o preço do Seu sangue, até o menor pensamento de obrar o bem, até o mérito da mais pequena oração, até o menor desejo da salvação. Ora, à vista de tão completa fraqueza, que devemos fazer senão, de um lado, humilhar-nos e orar como o pobre que pede esmola; do outro, agradecer, admirar e louvar a Deus pelos contínuos socorros que recebemos da Sua bondade? Fazemos uma e outra coisa?

SEGUNDO PONTO

Ainda com os auxílios ordinários de Deus somos a própria fraqueza

Não é verdade que, apesar das graças que recebemos de Deus, caímos em culpas muitas vezes, e a nossa vida é cheia de deploráveis fraquezas? Somos semelhantes ao paralítico, que não pode mover- se senão ajudado por uma mão caridosa: ainda quando essa mão se apresenta, não queremos, muitas vezes deixar nos conduzir por ela. As mesmas tentações tiram-nos as forças que Deus nos oferece (10); um pensamento, uma vista de olhos, um mau exemplo, uma palavra desonesta nos faz cair; a mais pequena paixão nos arrasta, a menor dificuldade nos detém.

Ó meu Deus! Quão fracos somos! Poderíamos, com a oração, obter uma graça mais eficaz que nos fizesse triunfar das nossas fraquezas; mas, ai! E é esta uma das nossas maiores misérias, oramos tão pouco, oramos tão mal! Que fazer, pois, senão confundir-nos diante de Deus por causa da nossa fraqueza, desconfiar de nós mesmos, julgar-nos incapazes de todo o bem, capazes de todo o mal, se a graça não nos contém, vigiar sobre os nossos sentidos, nosso espírito e coração, fugir das ocasiões perigosas, depois confiar em Deus, que é a nossa única força: esperar tudo dEle e só dEle, e pedir-Lhe, de toda a nossa alma, que se compadeça da nossa miséria?

“Confiem os outros nos meios humanos; mas nós ponhamos a nossa confiança só em Deus” – Hi in curribus, et hi in equis: nos autem in nomine Domine (Sl 19, 8)

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Tu solus… potens (Jud 11, 6)

(2) Non possum ego a meipso facere quidquam (Jo 5, 30)

(3) Dei est omne quod possumus

(4) Ex ipso, et per ipsum, et in ipso sunt omnia (Rm 11, 56)

(5) Omnia opera nostra operatus es nobis (Is 26, 12)

(6) Nemo potest dicere: Dominus Jesus, nisi in Spiritu Sancto (1cor 12, 3)

(7) Non quod sufficientes simus cogitare aliquid a nobis, quasi ex nobis: sed sufficientia nostra ex Deo est (2Cor 3, 5)

(8) Deus… qui operatur in vobis et velle et perficere (Fl 2, 13)

(9) In ipso vivimus, et movemur, est sumus (At 18, 28)

(10) Comederunt alieni robur ejus (Os 7, 9)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 72-75)

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