Meditaremos: 1.° A santidade do tempo quaresmal; 2.° Os meios de santificar este tempo. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De resguardarmos melhor o nosso coração e os nossos sentidos do pecado e da distração; 2.° De tratarmos durante este tempo da reforma do defeito que mais nos importa corrigir. O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:
"Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora os dias de salvação" - Ecce nunc tempus acceptabile, ecce nunc dies salutis (2Cor 6, 2)
Conformando-nos com o espírito da Igreja, meditaremos sobre a coroação de espinhos, e admiraremos neste mistério: 1.° Um mistério de dor e de humilhação; 2.° Um precioso ensino para a salvação. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De aceitarmos de boa vontade as mortificações e humilhações que sobrevierem; 2.° De fazermos muitas vezes atos de contrição por causa da nossa sensualidade e do nosso amor-próprio. O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Bernardo:
"Envergonhemo-nos de ser um membro delicado debaixo de uma cabeça coroada de espinhos" - Pudeat sub spinato capite membrum fieri delicatum (Serm. V, in Fest, omn. SS. n.º 9)
Meditaremos: 1.° A lição de humildade que nos dá a Igreja com a cerimônia da Cinza; 2.° As razões porque a Igreja nos dá esta lição no princípio da Quaresma. — Tomaremos depois a resolução: 1.º De nos conservarmos toda a Quaresma com um espírito humilhado e contrito à vista do nosso nada e dos nossos pecados; 2.° De aceitarmos de boa vontade a penitência da Quaresma, como muito inferior ao que merecemos. O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Igreja:
"Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar" - Memento, homo, quia puivis es et in pulverem reverteris (Gn 3, 19)
Consideraremos quanto o mistério de Jesus ultrajado na Eucaristia faz sobressair: 1.° A Sua humildade; 2.° A Sua bondade; 3.° A perfeição do Seu recolhimento de espírito. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De tratarmos hoje toda a gente com bondade e urbanidade; 2.° No meio da distração geral, de nos conservarmos em um espírito de meditação e de oração. O nosso ramalhete espiritual será o convite do Salmista:
"Vinde, adoremos e prostremo-nos diante do Senhor" - Venite, adoremus, et procidamus... ante Dominum (Sl 94, 6)
Para entrarmos no espírito da Igreja, durante estes dias de adoração e de expiação, meditaremos: 1.° Quanto a ingratidão dos homens faz sobressair o amor de Nosso Senhor na Eucaristia; 2.° Que deveres nos resultam de tanto amor desconhecido. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De fazermos hoje uma visita de retratação ao Santíssimo Sacramento por todas as desordens do mundo, durante estes três dias de licença; 2.° De vivermos mais santamente hoje por espírito de reparação dessas desordens. O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Davi:
"Eu vi as prevaricações do mundo e afligi-me" - Vidi praevaricantes, et tabescebam (Sl 118, 158)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 18, 31-43
Tomando os Doze consigo, Jesus disse-lhes: «Olhai, subimos agora a Jerusalém e vai cumprir-se tudo o que foi escrito pelos profetas acerca do Filho do Homem: vai ser entregue aos gentios, vai ser escarnecido, maltratado e coberto de escarros; e, depois de o açoitarem, vão dar-lhe a morte. Mas, ao terceiro dia, ressuscitará.» Eles, porém, nada disto entenderam. Aquela linguagem era incompreensível para eles, e não entendiam o que lhes dizia. Quando se aproximavam de Jericó, estava um cego sentado a pedir esmola à beira do caminho. Ouvindo a multidão que passava, perguntou o que era aquilo. Disseram-lhe que era Jesus de Nazaré que ia a passar. Então, bradou: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!» Os que iam à frente repreendiam-no, para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Quando o cego se aproximou, perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» Respondeu: «Senhor, que eu veja!» Jesus disse-lhe: «Vê. A tua fé te salvou.» Naquele mesmo instante, recobrou a vista e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, ao ver isto, deu louvores a Deus.
Meditaremos sobre a leitura espiritual, e veremos: 1.° Qual é a sua excelência; 2.° Como a devemos fazer. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De sermos exatos em fazer cada dia a leitura espiritual, e para isto, de fixarmos bem o momento no nosso regulamento de vida; 2.° Daí tirarmos desta leitura, como da oração, resoluções práticas próprias para nos tomarmos melhores. O nosso ramalhete espiritual será a palavra que a história refere de São Efrem:
"Ele retratava nos seus atos a pagina que tinha lido" - Actibus pingebat paginam quam legerat (Ennodius, in vita S. Ephrem)
Meditaremos: 1.° As razões que devem levar-nos a ler e a meditar a Sagrada Escritura; 2.° A maneira de fazermos bem esta leitura. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De não deixarmos passar nenhum dia sem ler ao menos um capítulo da Sagrada Escritura; 2.° De lermos de tempos a tempos, ao menos em algum resumo da Bíblia, a tão edificante narração dos fatos históricos do Antigo Testamento. O nosso ramalhete espiritual será o versículo do Salmo:
"Que doces são ao meu paladar as vossas palavras, ó meu Deus! Elas o são mais do que é o mel à minha boca!" - Quam dulcia fancibus meis eloquia tua, super melori meo! (Sl 118, 103)
Breve introdução sobre a Caridade e o Apóstolo Patrono
Para obter o grande tesouro do amor a Jesus Cristo, é necessário: 1.° Desejá-lo ardentemente; 2.° Pedi-lo muitas vezes; 3.º Dar-lhe lugar, expelindo do nosso coração todo o apetite desordenado; 4.° Fazer frequentes atos de amor; 5.° Meditar assiduamente na Paixão de Jesus Cristo. A Caridade é a rainha das virtudes, as quais a seguem onde quer que entre para lhe formarem vistosa corte. Persuade-te que nem teu pai, nem tua mãe, nem homem algum te dedica maior amor que Deus, teu Senhor. Consequentemente, não deves amar a ninguém mais do que a Deus. Deves dizer-Lhe:
Meu Deus se deu inteiramente a mim; também eu me entrego a Ele sem restrição. Ele escolheu minha alma para Sua amiga; eu O escolho dentre todos para meu único amigo. Ó meu Deus, por que me amais tanto? Que bem vedes em mim? Já Vos esquecestes das ofensas que Vos fiz? Visto que me tratastes tão amorosamente, em vez de me condenardes ao inferno, e me concedestes tantas graças, como poderei amar, no futuro, outra coisa fora de Vós, meu Deus e meu tudo?
Além disso, deves nutrir um grande desejo de progredir cada vez mais no amor de Deus. Os santos desejos são as asas com que nos elevamos a Deus. Pede muitas vezes ao divino Salvador Seu santo amor. Logo que despertares, de manhã, faze um ato de amor a Jesus e, de noite, não te esqueças de fazer, antes de dormir, um ato de contrição. Deves igualmente desejar e te esforçar para que outros amem também a Jesus e, para isso, deves falar muitas vezes a teu próximo do amor de Deus. Quem muito ama a um amigo, sente, muitas vezes, maior alegria com seu bem-estar do que com o próprio. Por isso deve causar-te especial consolação o pensamento de que Deus é infinitamente feliz. Dize-Lhe muitas vezes:
Meu Senhor e Deus, alegro-me de vossa felicidade, muito mais do que meu bem-estar, porque eu Vos amo mais do que a mim mesmo
Não te esqueças também de suspirar muitas vezes pelo céu. Anela por deixar este lugar de desterro, esta região de pecado e de perigo para a alma e entrar na pátria do amor, onde amarás a Deus com todas as tuas forças. Dize-lhe muitas vezes:
Ó Senhor, enquanto eu vivo, estou no perigo de tornar-me infiel a Vós e perder o Vosso amor; quando poderei deixar esta vida, na qual Vos ofendo incessantemente, para Vos amar de toda a minha alma?
Esforça-te continuamente para conformares perfeitamente tua vontade com a vontade de Deus; esse deve ser o fim de todas as tuas ações, desejos, meditações e orações. Oferece-te, pois, a Deus amiúdo durante o dia, dizendo-lhe:
Senhor, eis-me aqui: fazei de mim o que Vos aprouver. Que devo fazer? Dizei-me, que estou pronto para tudo
Meditaremos nos meios de tirar proveito da palavra de Deus, e veremos que devemos: 1.° Ouvi-la com fé; 2.° Apropriar-no-la; 3.° Deduzir dela resoluções praticas. — Tomaremos depois a resolução: 1.º De nos figurarmos, a cada ensino ou a cada lição o próprio Deus que nos instrui, e de nos apropriarmos o que Ele nos diz; 2.° De tirarmos de cada ensino ou leitura resoluções práticas para a reforma da nossa vida. O nosso ramalhete espiritual será o conselho de São Tiago:
"Sede fazedores da divina palavra, e não ouvidores tão somente, enganando-vos a vós mesmos" - Estote factores verbi, et non audotres tantum, falentes vosmetipsos (Tg 1, 22)