Capítulo XV
A corôa do sacerdote significa a corôa de espinhos que os soldados teceram e puseram na cabeça sacrossanta do Salvador.Os Paramentos
Chega o sacerdote. Vem paramentado como ministro e representante do Filho de Deus. Cada uma das sagradas vestes representa um objeto ou circunstância da Paixão. O Amicto que o sacerdote coloca sobre a cabeça e sobre o pescoço, representa o véu com que os judeus vendaram os olhos de Jesus em casa de Caifás, dizendo-lhe, por escárnio:Lembra-nos a cena horrível da soldadesca brutal a escarnecer o Filho de Deus.«Profetiza, Cristo: quem foi que te bateu?»
Capítulo XIV
Jesus Instituiu o ato essencial do Sacrifício; a consagração. Aos Apóstolos e à Igreja deixou o cuidado de desenvolver e cercar das cerimônias rituais este ato tão simples mas tão sublime: a Consagração. Para fazer realçar a grandeza infinita, a indizível majestade do dom divino, a Igreja que tão bem conhece e atende as necessidades dos seus filhos, que não podem elevar-se à meditação dos mistérios sobrenaturais sem o auxílio das coisas sensíveis, estabeleceu ritos exteriores, relativos à majestade do Sacrifício e conformes às nossas necessidades. Assim determinou que certas partes da Missa fossem celebradas em voz baixa e outras em voz alta; empregou as cerimônias mais variadas, as bênçãos, o canto, o incenso, as luzes, os ornamentos sagrados e outras instituições semelhantes, sancionadas pela disciplina eclesiástica.Capítulo XII
Os minutos de cada dia em que assistimos aos santos Mistérios são mais preciosos que todos os outros. São verdadeiramente minutos privilegiados e tudo aquilo que então fazemos torna-se um tesouro para nós. As outras horas do dia comparadas a estes minutos não são senão vil metal ao lado do ouro mais puro; pois que todos os bens temporais têm infinitamente menos valor que uma só Missa. Oh! Se vós, Cristãos, refletísseis nisso como seríeis assíduos em assistir ao Santo Sacrifício! Quanto ganham durante meia hora, o camponês que cultiva o seu campo, ou a costureira dando pontos? Uns vinténs apenas. Insensatos, pois, se invocam os seus afazeres para fugirem à Missa! Por uma só Missa enriquecer-se-iam de tal forma que o ganho chegaria para comprarem o Céu, e sacrificam esta fortuna a um trabalho pago com duas ou três moedas de cobre! Digamos, porém, mais: beneficiariam por todos os lados, pois que, na sua liberalidade, Deus compensaria a meia hora de cada dia tirada ao trabalho tornando depois este mais proveitoso.Capítulo XI
A transubstanciação é a parte mais importante, o verdadeiro centro da Missa. Por isso, para que os fiéis nela pudessem tomar uma parte íntima, quis a Igreja que o Corpo de Jesus, oculto sob as Santas Espécies, fosse imediatamente, depois da Consagração, elevado aos olhos dos fiéis. Neste momento, todo o Céu se põe em festa, as fontes de salvação brotam da terra, as chamas do Purgatório amortecem o seu ardor, os espíritos infernais tomam-se de pavor. É que nunca dom mais tocante nem mais precioso foi oferecido ao Senhor. Mas este Sacrifício sublime contém muitas outras maravilhas. A Humanidade de Jesus, espelho puríssimo e fidelíssimo da Santíssima Trindade, jóia infinitamente superior a todos os tesouros da terra, o sacerdote não a apresenta a Deus sob uma só, mas sob muitas formas. Entre as suas mãos o Verbo encarna de novo, de novo nasce, de novo sofre a Paixão, o suor de sangue, a flagelação, a coroação de espinhos, a crucifixão, a morte. De novo Ele Se interpõe entre a Santidade infinita e o mundo culpado, entre o justo Deus, e o pobre pecador. Se o coração de Deus Pai não havia de se comover-se perante este espetáculo!Capítulo X
Entramos na Igreja. O sacerdote sobe ao altar, revestido dos paramentos sagrados: formemos em nós mesmos a intenção de oferecer a Missa. Rezemos as orações próprias da Missa, que mais nos comovam o coração; rezemo-las até à Consagração, unidos ao celebrante por uma oração contínua. A partir este momento, apliquemo-nos a adorar Nosso Senhor e a oferecê-lO com o sacerdote ou por palavras nossas ou por meio do nosso livro. É possível que alguém diga:— Eu tenho escrúpulo em renunciar às minhas orações, prediletas pelas da MissaSossegai: as vossas orações ordinárias comparadas à Missa, são como o cobre comparado ao ouro. Nada impede, aliás, que as rezemos em seguida, a qualquer hora do dia, se tivermos ocasião de o fazer. Se um dia tivermos de faltar aos nossos exercícios de piedade, esta falta ser-nos-á menos prejudicial, que se faltássemos ao Divino Sacrifício.
Capítulo IX
Nós devemos fazer o mesmo que o sacerdote faz. O Santo Sacrifício não é só propriedade do povo que assiste. Não é só o sacerdote que oferece a Deus o Sacrifício incruento. Os fiéis que assistem, devem fazer o mesmo, devem oferecer o Sacrifício com o sacerdote. Na verdade que coisa mais oportuna poderiam eles fazer? Por isso ao depôr o cálice sobre o altar, o sacerdote, diz:«Nós, Vossos servos e Vosso povo santo, oferecemos à Vossa sublime Majestade um Sacrifício puro, um Sacrifício santo, um Sacrifício sem mácula, o Pão sagrado da Vida eterna e o Cálice da eterna salvação»
É, pois, um procedimento pouco conforme aos nossos interesses mesmo, se, depois da consagração, nos damos por satisfeitos com as nossas pobres e áridas orações e não nos unimos ao sacerdote, oferecendo a Deus o Seu Divino Filho.«Em toda a Missa — diz o grande teólogo Sanchez — o sacerdote não profere palavras mais preciosas, porque nem ele nem nós podemos fazer coisa melhor que oferecer a Deus este augusto Sacrifício»
Capítulo VIII
O Rei de Nínive
Os habitantes da cidade de Nínive como num capitulo anterior referimos e agora repetimos, perverteram-se a tal ponto que Deus, irado, resolveu destruir a ímpia capital. Todavia, porque a Sua misericórdia é imensa, quis avisar os pecadores, do castigo que sobre eles estava iminente. E pelas ruas e praças da grande cidade a voz do profeta Jonas pregou os castigos que Deus faria cair sobre os ninivitas. Chegou a nova terrível aos ouvidos do rei de Nínive, que, levantando-se do trono, rasgou as suas vestes em sinal de dor e se cobriu de cinzas. Depois ordenou que todos os seus súditos fizessem a mais dura penitência, para aplacar a Justiça Divina.E Deus viu a sua penitência — diz a Sagrada Escritura — e compadeceu-Se deles, retirando o castigo terrível que estava para lhes vibrar.«Quem sabe — dizia o rei — se o Senhor nos perdoará e Se aplacará de forma que não pereçamos?»
Capítulo VII
A dignidade do Santo Sacrifício resulta claramente das cerimônias, das orações, dos paramentos, das menores circunstâncias da sua celebração. Todavia nada demonstra com tanta evidência a suprema excelência e eficácia deste grande Sacrifício, como a pessoa do Sacrificador. O padre? O bispo? O Papa? Um Anjo? Maria Santíssima, a Rainha dos Anjos? Não, não. O Sacrificador, no tremendo sacrifício do Altar, é o Sacerdote dos sacerdotes, o Bispo dos bispos, o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, a Quem o Eterno Pai fez Sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque. Não é só a Vítima é também o Sacerdote. Sim! É Ele que dá à Missa o seu valor incomparável. É Ele que eleva o Sacrifício cristão à categoria de obra divina.«Os sacerdotes — diz São João Crisóstomo — são servos, mas servos admitidos a fazer o que os próprios anjos do Céu não podem fazer»
Capítulo VI
As palavras de Nosso Senhor a Santa Mechtilde far-nos-ão compreender bem o mistério da Missa e as graças que encerra.E para nos fazer saber que esta aplicação tem lugar especialmente na Santa Missa, Nosso Senhor acrescentou:«Olha, disse-lhe o Senhor, dou-te todas as amarguras da minha Paixão para que as consideres um valor teu próprio e as ofereças a meu Pai»
«Aquele que oferecer a minha Paixão, que Eu lhe doei, será duas vezes recompensado e isso acontecerá tantas vezes quantas a oferecer. Sucederá como Eu disse no Evangelho: Receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna»