Lição 1: O Eclesiastes
1. O nome grego Eclesiastes é a tradução do hebraico Qoheleth - o homem que fala na qahal ou na assembléia, ou o orador, o pregador. Tal titulo é tirado de Ecl 1,2.12; 7,27; 12,8-10; significa que o autor pertence ao círculo dos sábios, e que no seu livro transmite reflexões já propostas em uma assembléia de sábios ou discípulos. 2. O livro do Eclesiastes é próximo ao de Jó. Ambos tratam do problema da retribuição de Deus aos homens: enquanto Jó parte da realidade do mal (da doença...), o Eclesiastes procede do vazio ou da deficiência de todos os bens; enquanto o livro de Jó decorre sob a forma de um diálogo entre Jó e seus amigos, o do Eclesiastes é um monólogo: o autor discute consigo mesmo a respeito da possibilidade de encontrar felicidade no gozo do prazer (2,1-11), no trabalho (2,18-23), no cultivo da sabedoria (2,12-17), nas riquezas (5, 9-7,1), e verifica que em tudo há decepções para o homem; todos os bens se assemelham a vaidade, isto é, a sopro ou vento: escapam quando alguém os quer segurar nas mãos (1,2.14; 2,1.11...). Tudo se encaminha para a morte, que põe termo a tudo: 2,17; 3,19-21. Ninguém sabe o que acontece depois desta: 3,19-22. Em conseqüência, o sábio aconselha o leitor a gozar dos prazeres materiais que a vida presente lhe oferece: 3,12s; 8,15; 9,7-9 (coma, beba, vista-se bem e perfume a cabeça em companhia da esposa).Lição 1: Os Salmos
1. A palavra salmo vem do grego psallem, o que significa cantar hino com o acompanhamento de instrumentos de cordas. O salmo é, por conseguinte, um canto que originariamente era acompanhado. Psaltérion é o nome desse instrumento, em grego; saltério hoje designa, para nós, a coleção de 150 salmos colecionados em livro próprio na Bíblia. A numeração dos salmos varia nos textos hebraico, grego e latino, conforme a seguinte tabela:Texto Hebraico | Setenta (grego) e Vulgata (latim) |
1-8 | 1-8 |
9-10 | 9 |
11-113 | 10-112 |
114-115 | 113 |
116,1-9 | 114 |
166, 10-19 | 115 |
117-146 | 116-145 |
147, 1-11 | 146 |
147, 12-20 | 147 |
148-150 | 148-150 |
Lição 1: Os Livros Sapienciais
Após os livros históricos, o cânon do Antigo Testamento apresenta os livros sapienciais ou didáticos, que são: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes ou Qoheleth, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico ou Sirácida. Os livros sapienciais cultivam a Sabedoria. Por sabedoria entendiam os judeus mais antigos um conjunto de normas que guiavam a vida prática e moral dos jovens e dos adultos. Todo povo tem sua sabedoria de vida expressa, não raro, em provérbios, como: "Quem vai ao vento, perde o assento”, "Um dia é da caça, outro dia é do caçador", "Em casa de ferreiro, o espeto é de pau"... Essa sabedoria foi sendo cultivada com especial interesse desde a instauração da monarquia em Israel (séc. XI a.C.): na corte do rei, os sábios instruíam os jovens sobre o comportamento a assumir durante as refeições, diante dos amigos, dos estranhos, dos tribunais, no comércio, etc.; ver Pr 1,2-6; 10,1.5.16; 11,1; 12,4.11.28...; Eclo 10,1-5; 11,7-9.29-34; 13,1-3... O rei Salomão ficou sendo, para os judeus, o rei sábio por excelência, mais sábio do que os outros reis e sábios dos povos vizinhos (que também cultivavam a sabedoria); ver 1 Rs 5,9-14. Aos poucos a sabedoria foi tomando caráter religioso; tem suas raízes no temor do Senhor e procura agradar a Deus; ver Pr 1,7; 6,16; Jó 28,28; Eclo 1,11-21.. . É um dom que o Senhor concede; ver Jó 32,8; Ecl 2,26; Eclo 1,1; 2,6s; Sb 7,27...Lição 1: O fundo de cena
Os livros de Esdras e Neemias relatam a restauração do povo judeu na sua terra após o exílio (587-538 a.C.). Cobrem um período de tempo que vai possivelmente até 398 a.C. Após esta data, a história de Israel não nos é documentada pela Bíblia até a época dos Macabeus, que começa em 175. A partir de fontes não bíblicas, podemos assim reconstituir os principais acontecimentos: O domínio persa, sob o qual os judeus voltaram à Terra Santa, não ocasionou dificuldades religiosas para Israel. Os persas foram vencidos por Alexandre Magno na batalha de Arbelas (331 a.C.). Já antes, em 338 a.C., Alexandre havia invadido a Palestina. Morto o imperador em 323, os seus territórios foram repartidos entre os generais: Ptolomeu I Lago ficou com o Egito e, a partir de 295, com a terra de Judá; o domínio da família dos Ptolomeus se estendeu até 198 sem incômodo religioso para os judeus (exceto sob o reinado de Ptolomeu IV, 221-203).Os livros de Tobias, Judite e Ester pertencem a um gênero literário próprio: o midraxe ou a hagadá. Esta é uma maneira de propor a história que realça os aspectos edificantes e moralizantes da mesma, no intuito de promover a formação espiritual dos leitores. Distinguem-se dois períodos da literatura hagádica bíblica: 1) o período imediatamente posterior ao exílio (587-538), no qual os autores sagrados procuravam em termos tranqüilos a edificação dos fiéis (tal é o caso de Tb, Rt, Jn, Jó); 2) o período hasmoneu (sec. II/I), no qual a luta pela independência nacional alimentava antagonismo aos estrangeiros e rígido senso religioso (veja Jt, Est e partes de Dn).