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A Santa, Indivisa e Consubstancial Trindade – Parte 3

Santíssima Trindade. The Holy Trinity (Nicoletto Semitecolo)
Santíssima Trindade. The Holy Trinity (Nicoletto Semitecolo)

Por Dom Henrique Soares da Costa
Vimos, nos tópicos passados desta série de meditações, que Javé (Adonai) é o Deus eterno, o Deus de Israel; mas Ele, o Deus Único, o Indivisível, o Imultiplicável, o Simples, o Infinito fora do Qual nada há nem pode haver, Ele não é um Deus solitário: Ele é o Pai eterno do eterno Filho, que é Deus com Ele e como Ele! E mais: com o Pai e o Filho existe, ou melhor, é eternamente o Santo Espírito, Deus como o Pai, Deus como o Filho!

Na Páscoa, o Pai ressuscitou o Filho, divinizando-O, glorificando-O, na potência divina que é o Santo Espírito!

Ora, esta revelação da Trindade, acontecida na Páscoa, a Igreja foi experimentando dia após dia, na sua vida concreta; experimentando a Trindade, adorando a Trindade e, pouco a pouco, compreendendo a Trindade, o quanto possível seja nesta vida. O próprio Jesus havia dito que o Espírito Santo iria levar Seus discípulos à verdade plena:

“O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em Meu Nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14,26);

“Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará…” (Jo 16,13).

Um dos sinais mais fortes da fé da Igreja na Trindade é o batismo. Desde o início ele é conferido em nome da Trindade Santa: “Então Jesus Se aproximou e lhes disse:

“Toda a autoridade Me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, fazei discípulos Meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,18s).

Um antiquíssimo texto cristão do século III, escrito por Santo Hipólito de Roma, sacerdote e mártir, mostra como o batismo era conferido em Nome de Trindade:

“Assim que o que vai ser batizado desce à água, diga-lhe aquele que batiza, impondo sobre ele a mão:
‘Crês em Deus Pai Todo-Poderoso?”
E o que é batizado, responda: Creio.
Imediatamente, com a mão pousada sobre a sua cabeça, batize-o (= mergulhe-o) aquele uma vez. E diga, a seguir:
‘Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus, que nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria e foi crucificado sob Pôncio Pilatos e morreu e (foi sepultado) e, vivo, ressurgiu dos mortos no terceiro dia e subiu aos Céus e sentou-Se à direita do Pai e há e vir julgar os vivos e os mortos?’
Quando responder: Creio, será batizado (= mergulhado) pela segunda vez.
E diga novamente:
‘Crês no Espírito Santo, na santa Igreja e na ressurreição da carne?’
Responda o que está sendo batizado: ‘Creio’.
E seja batizado pela terceira vez”.

Lembrem-se que a palavra batizar significa mergulhar. O cristão é, portanto, mergulhado no Pai criador, no Filho salvador e no Espírito Santo, presente na santa Igreja como Força de ressurreição. Mas, além do batismo, se olharmos com atenção, um número enorme de textos do Novo Testamento falam de Trindade. Note-se bem: estes textos não são uma explicação do mistério trinitário, mas sim uma mostra claríssima de como a Igreja vivia na Trindade. Um peixe não se preocupa em explicar o mar, em compreendê-lo, apesar de viver mergulhado nele! Assim foi a Igreja com a Trindade: ela cria, adorava e experimentava o Deus uno e trino. Basta!

Vejamos alguns desses textos.

“Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos (1Cor 12,4-6)”.

– Aqui aparece claramente que toda a vida da Igreja, seus dons, ministérios e atividades, é vivida trinitariamente: um mesmo Espírito, um mesmo Senhor (Jesus) e um mesmo Deus (Pai). É importante notar que quase sempre que o Novo Testamento fala em “Deus”, está se referindo a Deus Pai; Jesus é quase sempre chamado de “Senhor”.

“Em Cristo sois co-edificados para serdes uma habitação de Deus, no Espírito” (Ef 2,22).

– Mais uma vez a Trindade na vida dos cristãos: eles são edificados em Cristo (o Filho) como habitação pertencente a Deus (Pai) porque estão cheios do Espírito Santo.

“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus. Pois não recebestes um espírito de escravos para recair no medo, mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adotivos com o qual clamamos ‘Abbá, Pa’i” (Rm 8,14s).

– A ideia, aqui, é belíssima: o cristão é filho de Deus (Pai) porque recebeu o Espírito Santo derramado pelo Filho ressuscitado; é este Espírito Santo do Filho que nos faz dizer ‘Pai’ a Deus:

“E porque sois filhos, enviou Deus aos vossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abbá, Pai!” (Gl 4,6).

– Assim, segundo o Apóstolo, é o Santo Espírito Quem ora, Quem geme em nós. E a Sua oração é a do próprio Filho Jesus: “Abbá, Pai”! Por isso mesmo Jesus, o Filho amado do Pai, dizia:

“O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13).

Note-se bem: de tudo que aqui foi apresentado, vai aparecendo claramente que a Igreja sempre viveu na Trindade; a Trindade é seu fundamento, seu chão, seu horizonte, o ar que ela sempre respirou. Antes mesmo de conseguir encontrar palavras exatas para exprimir este mistério tão grande, a Igreja o viveu, o experimentou profundamente. É sempre assim que acontece nas coisas mais importantes da vida: primeiro se vive, se experimenta… Só depois é que se tenta conceituar, explicar por palavras.

Por agora terminemos com mais uma palavra de Paulo, palavra trinitária, de extrema beleza:

“Eu dobro os joelhos diante do Pai… para pedir-Lhe que Ele conceda que vós sejais fortalecidos em poder pelo Seu Espírito no homem interior, que Ele faça habitar Cristo em vossos corações pela fé” (Ef 3,14-17).

Isso mesmo: tendo o Espírito do Filho em nós, Espírito que o Filho manda de junto do Pai, o cristão tem o Filho habitando em si: o Espírito habita em nós; como é Espírito do Filho nos faz filhos e, assim, nós podemos chamar a Deus de Abbá, como Jesus chamava!

No próximo tópico vamos continuar a meditar sobre outros textos do Novo Testamento que falam da Trindade e vamos ver como foi que a Igreja, logo após a morte da primeira geração de cristãos, a geração apostólica, continuou a viver a sua fé na Trindade e procurou explicar melhor este mistério estupendo.