Skip to content Skip to footer

A Santa, Indivisa e Consubstancial Trindade – Parte 2

Trindade Santa
Por Dom Henrique Soares da Costa

Vimos, no tópico passado, que nem o Antigo Testamento nem ninguém na época de Jesus suspeitava que Deus fosse trino, que o Filho e o Santo Espírito fossem Deus! O Deus de Israel chamava-se Javé (Jeová é uma tradução errada do nome de Deus) e basta!

Vimos também que Jesus Se apresentou e agiu como “filho de Deus“… Mas, na mentalidade dos judeus, “filho de Deus” não significava que Ele era igual a Deus, que Ele era Deus! Finalmente, vimos que Jesus agia e falava com uma autoridade que deixava os Seus contemporâneos espantados: “Sendo apenas homem, Tu Te fazes Deus!” (Jo 10,33)

Ficamos, no tópico passado, com uma pergunta: Como, então, a Igreja apostólica descobriu que Deus era trino? Foi no Dia da Ressurreição! Quando, naquele primeiro dia depois do sábado, o Ressuscitado veio ao encontro dos discípulos, eles foram surpreendidos. Não somente porque Jesus estava vivo, mas, sobretudo porque estava ressuscitado, quer dizer, completamente transfigurado: Seu corpo estava totalmente transformado; era o mesmo Jesus, trazia ainda as marcas da paixão, mas estava de tal modo glorificado que mal os discípulos conseguiam reconhecê-Lo! Antes, só O reconheciam porque Ele mesmo Se dava a conhecer (cf. Lc 24,15s.30s; 24,36ss; Jo 20,11ss; 20,26ss; 21,4ss). Seu corpo, apesar de real, não mais pertencia a este mundo: o espaço, o tempo, a matéria como a conhecemos, tudo isto fora ultrapassado por Jesus! Também Sua alma estava transfigurada: Suas palavras, gestos, atitudes, tinham agora uma majestade que os discípulos, diante Dele, prostravam-se e O adoravam (cf. Mt 28,17; Lc 24,50ss; Jo 20,17). Jesus aparecera, então com uma glória que não é deste mundo, que é divina. Mais tarde, São João dirá: “Nós vimos a Sua Glória, Glória que tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e verdade” (Jo 1,15).

Mas, quem glorificou Jesus deste modo? E como? Quem o glorificou foi Javé, o Deus de Israel, aquele a Quem Jesus chamava de Pai! Ele transformou de tal modo a natureza humana de Cristo, que agora aparecia claro que Jesus tinha a mesma Glória de Javé. Os escritos do Novo Testamento estão cheios desta convicção:

“Jesus, o Nazareu, … vós O matastes, mas Deus O ressuscitou!” (At 2,24);

“Deus constituiu Senhor e Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes” (At 2,36);

“… a ação do Seu Poder eficaz (de Deus), que Ele (Deus) fez operar em Cristo, ressuscitando-O de entre os mortos e fazendo-O assentar à Sua direita nos céus, muito acima de qualquer Principado… e de todo nome que se possa nomear. Tudo Ele (o Pai) pôs debaixo de Seus pés (do Filho), e O pôs acima de tudo” (Ef 1,19ss)

Então, para os discípulos, agora tudo aparecia claramente: Jesus não somente era “filho de Deus” num sentido figurado mas, pela Sua ressurreição, estava totalmente glorificado, divinizado, adorável como Javé! Ora, se Ele agora aparecia claramente como divino, então é porque sempre o fora:

“Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que Se apegar ciosamente. Mas esvaziou-Se a Si mesmo, e assumiu a condição de servo” (Fl 2,6)

Desde a ressurreição, os discípulos podiam compreender: Jesus sempre fora Filho e Javé sempre fora Pai desse Filho eterno. Agora adquiriam pleno sentido algumas palavras de Jesus:

“E agora, glorifica-Me, Pai, junto de Ti, com a Glória que Eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse” (Jo 17,5);

“Quem Me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em Mim” (Jo 14,9s);

“Antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8,58)

Portanto, o Filho existe eternamente e provém eternamente de Javé, que é eternamente Pai: os dois são divinos, os dois têm a mesma dignidade:

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus (Pai) e o Verbo era Deus (como o Pai)” (Jo 1,1);

“Ele (o Filho) é o resplendor de Sua Glória (do Pai) e a expressão do Seu Ser” (Hb 1,3)

Quando o Filho disse que o Pai era maior que Ele (cf. Jo 14,28) é porque, ao Se fazer homem, Ele tomou a condição de servo, fazendo-Se obediente ao Pai por nós (cf. Fl 2,6-7). Agora, com a ressurreição, Ele apareceu totalmente glorificado mais uma vez; glorificado inclusive na Sua natureza humana, antes tão humilde quanto a nossa!

Assim, portanto, naquele Domingo da ressurreição, os discípulos experimentaram, descobriram, testemunharam que Javé é Pai do Filho eterno, que, por Sua vez, é igual a Ele: Jesus!

Mas, de que modo Javé ressuscitou Jesus, como O glorificou? Os discípulos já tinham ouvido falar, no Antigo Testamento, no Espírito de Javé: era uma força de Deus que impelia os profetas e reis! Mas, agora, o que eles descobriram foi uma coisa totalmente surpreendente: esse Espírito não só dava força, mas glorificava, quer dizer, divinizava (= tornava divino). Sim: o Espírito que o Pai derramou sobre Jesus morto divinizou a Sua natureza humana! Ora, ninguém dá o que não tem: se o Espírito diviniza, é porque é divino, é porque é Deus! O Novo Testamento está cheio desta certeza:

“(Jesus) morto na carne (= na Sua natureza humana) foi vivificado no Espírito (no Espírito Santo)” (1Pd 3,18)

Jesus foi estabelecido pelo Pai…

“Filho de Deus com poder através de Sua ressurreição dos mortos, segundo o Espírito de santidade” (Rm 1,4)

Pedro, no dia de Pentecostes, disse para quem quisesse ouvir:

“Este mesmo Jesus, Deus O ressuscitou; e disto somos testemunhas. E agora, exaltado pela direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo” (2,32s)

Assim, este Espírito não era somente uma força do Pai, uma energia, mas era Deus também, como o Pai e o Filho! Por isso, aquelas palavras de Jesus:

“Rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade” (Jo 14,16);

“O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em Meu Nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14,26);

“Quando vier o Paráclito, que vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da Verdade, que vem do Pai, Ele dará testemunho de Mim” (Jo 15,26);

“Quando Ele vier (o Paráclito), estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento” (Jo 16,8);

“Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará…” (Jo 16,13)

Agora, sim, tudo estava claro: Javé é o Deus eterno, o Deus de Israel; mas Ele, o Deus único, não é um Deus solitário: Ele é o Pai eterno do eterno Filho, Deus com Ele e como Ele! E mais: com o Pai e o Filho existe eternamente o Santo Espírito, Deus como o Pai, Deus como o Filho! Na Páscoa, o Pai ressuscitou o Filho (na Sua natureza humana), divinizando-O, glorificando-O, na potência divina do Santo Espírito!
Foi assim que a Igreja descobriu, experimentou e professou, adorando, a Trindade Santa. Mas, isso era apenas o começo!

São um ou três deuses? Como expressar com palavras esse mistério tão grande? Como compreender as relações entre esses três? O que é um na Trindade? O que são três? No próximo tópico…