Meditação para o Sábado da 2ª Semana depois da Epifania
SUMARIO
Consideraremos hoje:
1.° O reconhecimento;
2.º A confiança que devemos ao Menino Jesus no berço.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De termos muitas vezes aspirações de reconhecimento e de amor para com o divino Menino;
2.° De nunca nos deixarmos abater nem entristecer pelas nossas fraquezas, mas de nos animarmos incessantemente a ter uma vida melhor e a confiar no socorro de Jesus.
O nosso ramalhete espiritual será o cântico da Igreja:
“Quem não retribuirá amor com amor a um Deus tão cheio de ternura?” – Sic nos amatem quis non redamaret?
Meditação para o Dia
Aproximemo-nos com amor do berço do Menino Jesus. Consideremo-lO nessa humilde cama pensando em nós e na nossa salvação. Demos-Lhe graças e louvores por tanto amor (1), e amemos este Deus, que tanto nos amou primeiro.
PRIMEIRO PONTO
Reconhecimento devido a Jesus no berço
A vida de Jesus no Seu berço não era uma vida desocupada como a dos outros meninos. Nesse estado, em que os olhos humanos somente vêem um Menino que parece dormir, Jesus cuida continuamente de cada um de nós, e aproveita-Se de todos os momentos para nos salvar. O zelo da nossa salvação absorve-O totalmente. É este zelo que, oito dias depois do Seu nascimento, Lhe faz derramar as primícias do Seu sangue na circuncisão; é este zelo que, do Seu berço Lhe levanta as mãozinhas para o céu a fim de afastar as maldições lançadas contra a terra culpada, e que Lhe arranca as Suas primeiras lágrimas para lavar as nossas máculas e extinguir o fogo da ira celeste. É este zelo que, de dia e de noite, Lhe tira do coração orações tão fervorosas para nos alcançar todas as graças que temos recebido até ao presente, e que não somente nós, mas todos os cristãos, receberemos ao depois; por que Ele abrange na Sua petição todos os séculos e todos os países. É este zelo que Lhe tornam preciosas as faixas que O ligam, os panos em que está envolto. Compraz-se em se apresentar neste estado diante de seu Pai para nos livrar da escravidão pelo merecimento dos Seus liames; e diante de nós, para nos obrigar a renunciar, com um tão grande exemplo, a essa triste liberdade, que quer fazer tudo o que lhe apraz, seguir em tudo os seus gostos e as suas comodidades. É este zelo, finalmente, que O decidiu a tomar sobre Si todas as nossas enfermidades, a passar por todos os graus da fraquezas até não ser distinguido dos outros meninos, e fazer-Se olhar com compaixão pela turba como uma débil criatura.
Ó meu Jesus, como reconheceremos nós jamais tanto amor! Como Vos agradeceremos bastantemente tantos sacrifícios, tantas orações, tanta abnegação para nos salvar? Oh! Quanto quisera ter o coração de todos os anjos e santos para Vos oferecer dignas ações de graças! Mil vezes obrigado, meu Deus, que tanto me amastes; obrigado, repetirei durante toda a eternidade (2).
SEGUNDO PONTO
Confiança devida a Jesus no berço
Quando Deus concedeu a Sua lei ao antigo povo, promulgou-a no meio dos relâmpagos e trovões, porque queria manter no dever pelo sentimento do temor esse povo grosseiro e indócil. Durante a lei nova, não é já pelo temor que o Senhor quer guiar-nos, mas sim pela confiança e pelo amor (3). O temor é para os escravos, a confiança para os filhos; o temor desanima, e a alma desanimada para nada serve. O temor pode algumas vezes impedir o mal, mas somente a confiança incita a fazer muito bem; multiplica as forças, e repara o mal passado com o bem presente. É esta a razão porque o nosso grande Deus, descendo à terra para dar ao mundo uma lei melhor e mais perfeita do que a antiga, toma a forma de um menino, como a mais própria para inspirar confiança. E, com efeito, quem temeria chegar-se a um menino e lhe não falaria facilmente? Tremam aqueles a quem tanta bondade não comove, e que não querem deixar de perseverar no mal; mas esperem os que querem amar ao Deus feito menino por amor. Vendo a benignidade do Seu rosto, a mansidão, a bondade que resplandecem em todas as Suas feições, encha-se de confiança o seu coração, reavive-se o seu ânimo abatido, e exclamem com o profeta:
“Eis aqui está Deus Salvador meu, resolutamente obrarei e não temerei” – Ecce Deus Salvator meus; fiducialiter agam, et non timebo (Is 12, 2)
Eu me alegrarei de ver antes a minha salvação nas mãos de um Deus tão bom do que nas minhas. Nunca terei para a efeituar nem tanta sabedoria, nem tanto zelo e amor. Por conseguinte, nunca me deixarei desanimar; mas sempre me animarei a viver melhor, a reparar o passado com uma conduta melhor e mais zelo pelo meu aperfeiçoamento.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Nos ego diligamus Deum, quoniam prior dilexit nos (Jo 4, 19)
(2) Misericordias Domini in aeternum cantabo (Sl 88, 2)
(3) Non enim dedit nobis Deus spiritum timoris; sed virtutis, et dilectionis (1Tm 1, 7)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 220-223)