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História da Igreja 4ª Época: Capítulo IV

Jubileu

Era tradição constante entre os cristãos que, indo a Roma no ano secular para visitar a Igreja de s. Pedro e as outras principais basílicas, ficavam perdoados todos os seus pecados. No ano 1300, foi tão grande o concurso, que pareceu se tivessem aberto ali as portas do céu. Muitos peregrinos por causa do aperto de tamanha multidão, pereciam esmagados ao passar a ponte de Sant’Angelo para ir ao Vaticano. Então o pa­pa Bonifácio VIII, reuniu todas as notícias ante­riores e publicou uma bula, em que, depois de indicar a origem e o fim do jubileu, concedeu indulgência plenária a todos os fiéis que confessados e arrependidos visitassem as quatros basílicas principais; indulgência que se devia renovar ca­da cem anos. Uma pintura, obra do célebre Giotto que vivia naquele tempo, e que ainda existe na basílica de Latrão, representa o Papa Bonifácio VIII no ato de publicar dita bula. Clemente VI querendo imitar o jubileu dos judeus, limitou o tempo a 50 anos para que participassem dele maior número de fiéis. Urbano IV considerando ainda que este prazo era demasiado longo, o reduziu a 33 anos. Mais tarde Xisto IV o diminuiu ainda mais, reduzindo-o a 25. Às vezes concedem os Papas jubileus por extraordinárias necessidades da Igreja. Em outros tempos, nas épocas de jubileu, acorria a Roma grande multidão de fiéis; mas agora, os sumos pontífices permitem aos católicos que gozem do jubileu em seus próprios países.


Décimo Quinto Concílio Geral

Ao Papa Bonifácio VIII sucedeu Benedito XI, e a este Clemente V, que convocou, no ano 1311, um Concílio geral na cidade de Viena, em França. Tomaram parte nele mais de 300 bispos sem contar um número enorme de prelados inferiores. Foi presidido pela Papa em pessoa, que para isso partiu de sua residência em Avignon. O que principalmente motivou a reunião deste concílio, foram os erros dos Templários. Esta ordem militar instituída em Jerusalém no tempo das cruzadas, tinha tomado esse nome pela habitação que fizera construir perto do templo levantado sobre o sepulcro de Nosso Senhor. Tinham os Templários por ofício defender a Terra Santa, mas depois de terem prestado importantes serviços à Igreja, degeneraram miseravelmente; muitos deles foram acusados dos mais horríveis sacrilégios e desenfreada licença. Por isso o concílio de Viena, tendo ouvido e examinado as acusações apresentadas contra eles, e achando-as bem fundadas, suprimiu a ordem e mandou que transmitissem todas as suas propriedades aos cavaleiros de Malta. Foram condenados também outros hereges; entre eles os chamados Beguardos, a Beguinas, e os Irmãozinhos, que junto com a fé cristã, tinham infringido os bons costumes. Para paralisar mais e mais a impiedade dos hereges que afirmavam que não se devia tributar culto divino à Eucaristia, tornou a confirmar o concílio o decreto de Urbano IV; o qual prescrevia, que se celebrasse em todo o mundo e com o maior esplendor a solenidade do Corpo de Deus. Declarou-se também inocente a memória do Papa Bonifácio VIII, que fora acusado injustamente de heresia por Felipe o Belo, rei de França. Não satisfeito este de ter perseguido de diferentes modos ao santo pontífice em vida, tão pouco o queria deixar descansar em paz depois de morto, infamando seu nome. Tratou-se finalmente no concílio, de iniciar uma nova expedição à Terra Santa contra os Turcos.

Flagelantes

Como se achasse oprimida a Itália por graves calamidades, despertou-se singular entusiasmo de penitência para aplacar a cólera de Deus. Grandes multidões de gente andavam pelas ruas em procissão, para rezar, e se açoitavam até tirar sangue com o fim de implorar a misericórdia do Senhor. Para que tivesse maior êxito esta obra de penitência, formaram-se irmandades, cujo fim era rezar e açoitar-se publicamente; donde tomaram o nome de flagelantes. Semelhante entusiasmo dilatou-se rapidamente no Piemonte e em toda Itália, produzindo em todas as partes grandes frutos espirituais. Não tendo, porém, o Papa nem os bispos aprovado semelhante instituição, degenerou mui depressa em superstição, e pouco depois em heresia. Entre outras extravagâncias, sustentavam os flagelantes que ninguém poderia alcançar o perdão dos pecados, se não se sujeitasse àquela maceração e penitência, proveitosa também, segundo eles para os condenados. Clemente VI condenou formalmente esta heresia, e dirigiu-se, por meio de cartas, a muitos bispos e príncipes seculares, exortando-os a combater aqueles erros e a dissolver reuniões dos que os professavam. Ano 1349.

Santa Brigida

O século décimo quarto teve um exemplo claríssimo de virtude em Santa Brígida, descendente da real família da Suécia. Na idade de sete anos já deu a conhecer tal desejo de chegar à perfeição, que admirava a todos. Aos dez anos não podia pensar na paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo sem sentir-se comovida até derramar lágrimas. Seu pai, a seu pesar, a fez contrair matrimônio com um príncipe; porém neste novo estado continuou cumprindo com maior fervor ainda suas práticas de piedade, e induzindo a seu esposo a que fundasse um hospital próximo à casa em que viviam, encarregando­-se ela própria de cuidar dos enfermos e prover­-lhes o que necessitavam. Ia diariamente visitá-los, e todos os dias fazia assentarem-se doze deles a uma mesa e os servia com suas mãos. Morto seu esposo, não pensou senão em Deus, em sua alma, e no Paraíso. Cingia suas carnes um áspero cilício composto de pungentes correntezinhas de ferro, servindo-lhe de cama, ainda mesmo no rigor do inverno, umas tábuas de madeira. Jejuava quatro vezes na semana, e na sexta-feira a pão e água. Passava a maior parte da noite em oração, confessava-se com frequência e comungava todos os dias. Levada por um espírito de viva fé, empreendeu a trabalhosa peregrinação aos Santos Lugares: porém à sua volta adoeceu gravemente em Roma e no ano 1375 entregou placidamente sua alma ao Senhor, tendo 71 anos de idade. Santo Antônio refere muitos milagres operados por Santa Brigida, entre outros a ressurreição de dez mortos. Deixou-nos também esta santa oito livros de revelações, que foram elogiados pelos padres do concílio de Basiléia.

Santa Catarina de Sena

Outra santa de vida muito maravilhosa foi santa Catarina de Sena. Na idade de 5 anos já era chamada a santinha. A solidão, a oração e a abstinência formavam todas suas delícias. Abstinha-se do uso da carne e do vinho, e só se alimentava de ervas cruas. Duas tábuas nuas serviam-lhe de cama, de mesa e de cadeira. Uma pesada corrente de ferro servia-lhe de cilício. Não dormia mais do que algumas horas durante a noite e passava o resto no trabalho e na oração. Esteve desde o princípio da quaresma até a festa da Ascensão sem tomar mais alimento do que a santa Eucaristia. Possuía conhecimentos maravilhosos; sabia profundamente a teologia, a filosofia e o que ainda mais admira, é que também entendia do governo dos estados. Indubitavelmente sua ciência não podia ser senão inspirada. Amava em extremo sua pátria; esse amor foi o que a levou a ir a Avignon, para tratar com Gregório XI, sobre a reconciliação dos Florentinos que se tinham rebelado contra a Igreja. O Papa e os cardeais receberam-na com grande respeito e fizeram-na árbitro da paz entre seus concidadãos. Mas a glória que lhe deu maior lustre foi a de ter contribuído poderosamente para a volta dos Papas de Avignon à sua legítima morada de Roma. Enviada pelo Papa para tratar de alguns assuntos com a Rainha de Nápoles, caiu enferma em Roma no ano 1380, e entregou ali sua alma a seu celestial Esposo. Suas visões celestiais e as graças singulares que a adornaram, são extraordinárias entre os mesmos santos, e demonstram até que ponto pode uma alma chegar a ser aceita ao Senhor.