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História da Igreja 4ª Época: Capítulo II

Santo Antonio de Pádua

Entre os primeiros discípulos de São Francisco sobressai Santo Antonio de Pádua, glória de sua ordem e esplendor de seu século. Nasceu em Lisboa, e aos quinze anos abraçou a ordem de santo Agostinho; porém chegando a Coimbra os corpos de cinco franciscanos, martirizados em Marrocos, sentiu-se arder em desejos de entrar na mesma ordem para conseguir mais facilmente a palma do martírio. Pondo-se em Viagem para ir pregar o Evangelho aos Sarracenos, so­breveio-lhe violenta enfermidade, que lhe fez tomar a resolução de voltar à Espanha. Mas Deus dispôs que fosse à Itália, e que depois passasse à cidade de Pádua, da qual tomou o nome. Começou a pregar ali e nos lugares circunvizinhos com tanta eficácia, que todos ficaram admirados do imenso poder de sua palavra. Conta-se que para ouvi-lo, saíam de noite os habitantes da cidade e iam apinhar-se na Igreja, e que os camponeses abandonavam seus campos, os empregados e trabalhadores suas ocupações para poderem ouvi-lo.

Os milagres, a unção, e fervor, a dignidade, mais angélica que humana, com que pregava, atraiam-­lhe tão grande número de ouvintes, que muitas vezes se via obrigado a pregar em campo aberto, vendo reunido em seu redor até trinta mil pessoas. Deus o chamou para gozar do prêmio celeste no ano 1231, aos 36 anos de sua idade. Pelo extraordinário número de milagres que se operaram em seu sepulcro, poucos meses depois de sua mor­te, foi contado no número dos santos.

Os Servos de Maria

Pouco depois da mor­te de São Domingos e de São Francisco teve a Igreja um novo ornamento na ordem dos Servitas ou Servos de Maria. Eis a sua origem: Havia na cidade de Florença uma irmandade chamada dos Laudenses, cujos membros se propunham honrar particularmente a, Santíssima Virgem, rezando e cantando suas glórias. Sete dos principais patrícios da cidade, membros dessa irmandade, enquanto se achavam reunidos em uma igreja, no dia da Anunciação do ano 1233, viram aparecer-lhes a Mãe de Deus, que os exortou a abraçar um método de vida mais perfeita. Resolveram imediatamente fazê-lo e, seguindo o conselho do bispo de Florença retiraram-se para uma pequena casa no campo para viverem ali no retiro, na oração, e na mortificação. Havia passado um ano quando tiveram de voltar à cidade para consultar de novo o bispo acerca de seu estado. Já era tanta sua reputação de santidade, que todo o povo acudiu para vê-los; porém o que mais chamou a atenção naquela circunstância foi que as criancinhas receberam o uso da palavra e todas gritaram à porfia, apontando para eles: Eis os servos de Maria. Entre aqueles inocentes se achava São Filipe Benício, que não tinha ainda cinco meses, e que foi, no decurso do tempo, ornamento da nova ordem. Seria demasiado difícil exprimir por palavra o gozo que experimentaram aqueles penitentes ao serem chamados de uma maneira tão maravilhosa servos da Mãe de Deus. Por isso resolveram dedicar-se inteiramente a seu culto, porém, vendo-se continuamente molestados pelo grande número de pessoas que iam visitá-los, estabeleceram-se no cume do monte Senario lugar muito alto da Toscana. Indicou-lhes também o hábito que deviam trazer como sinal de que estavam consagrados a esta aflita Mãe.

Aqueles santos solitários, receberam com o maior respeito as ordens de sua protetora e, guiados e aconselhados pelo bispo, deixaram o hábito de cor de cinza e revestiram-no de cor preta, que foi desde então, o hábito próprio da ordem dos Servitas. Continuaram praticando o mesmo gênero de vida e, em pouco tempo, mereceram a aprovação de São Pedro, mártir dominicano, uma das mais célebres personagens de seu século. Estando em Florença este grande servo de Deus e ouvindo falar dos penitentes do monte Senario, quis julgar de per si mesmo se devia dar crédito a tudo o que publicava a fama sobre suas virtudes. Vi-os, com efeito, e ficou tão persuadido de sua santidade que lhes dedicou uma santa amizade. Apareceu-lhe também a Santíssima Virgem e o certificou com uma visão, de que ela escolhera a Bonfiglio e a seus companheiros, para que se consagrassem especialmente a seu serviço e participassem das dores amargas que ela tinha sofrido; e como eles deviam fundar uma ordem, que teria por fim honrá-la e promover sua glória.

Animados por semelhantes oráculos, aqueles humildes solitários, que a princípio se tinham proposto não receber discípulos, resolveram instituir a ordem dos Servitas, particularmente com o fim de cumprir com os deveres de uma sociedade religiosa. Abraçaram a regra de santo Agostinho, que seguem ainda hoje. Aprovou primeiramente o novo instituto o arcebispo de Florença e, pouco depois, foi definitivamente aprovado pela Santa Sé. Os servos de Maria propagaram-se muito rapidamente na Itália, onde já possuíam bom número de casas. Também fundaram institutos em outras partes da Europa, e ainda se encontram conventos destes religiosos nos estados onde foram suprimidas as ordens monásticas. Aqueles sete bem-aventurados fundadores dos Servitas chamam-se, Bonfiglio, Manetti, Dell’Antella, Amadeu, Uguccione, Sostegno e Falconieri. Os fervorosos Servos de Maria continuavam caminhando a grandes passos no caminho da perfeição, e concluíram santamente sua carreira neste mundo no monte Senario, à exceção do bem-aventurado Aleixo Falconieri que chegou até cento e dez anos de idade e morreu em Florença.

Décimo terceiro Concílio Ecumênico

Tendo neste tempo Frederico II, imperador da Alemanha, perturbado gravemente a paz da Igreja, pensou o sumo pontífice Inocêncio IV em convocar um concílio geral em Lion. Foi o primeiro nessa cidade, e realizou-se no ano 1245. Presidiu-o o pontífice pessoalmente, e se acharam presentes a ele 140 bispos. O principal fim que deu razão à convocação deste concílio foi remediar os graves danos ocasionados à Igreja pelo imperador Frederico. Este, em sua mocidade tinha recebido assinalados benefícios do Papa Inocêncio III; porém, com o correr dos anos, tornara-se ímpio e cruel. Depois de ter cometido muitas violências contra os bispos e os sacerdotes, armou insídias ao próprio Pontífice, que, perseguido em sua cidade, viu-se obrigado a refugiar-se em França. Foi convidado Frederico para assistir ao concílio, porém recusou-se. Examinadas pelos padres suas maldades, foi achado réu de perjuro, por ter violado o juramento que prestara de ir libertar os santos lugares e réu de sacrilégio por ter furtado os bens da Igreja, e proibido aos bispos do império de ir ao concílio, encarcerando aos que iam a ele. Acharam-no também culpado de heresia. Por estas três culpas, o concílio o excomungou, o depôs e privou de todas as suas honras e dignidades. Desde então pareceu que o imperador se achava ferido pela cólera do céu, e já não conseguiu senão derrotas. Morreu, pouco tempo depois, vítima de cruéis remorsos. Também foi ordenado, neste concílio, que os cardeais trouxessem barrete encarnado, para indicar que sempre se achavam prontos a trabalhar para a Igreja e a derramar seu sangue toda vez que assim fosse necessário. Mais tarde usou­se também a cor de púrpura nas batinas e outras insígnias de sua dignidade. No fim do concílio decidiu-se a armar uma cruzada, sob o comando de São Luiz, rei da França, para libertar a terra santa do poder dos Turcos.

São Luiz, rei de França

Este rei da França, órfão aos 11 anos, foi educado santamente por sua mãe e regente, a ótima rainha Branca. Foi isto causa de, no trono e no meio do fausto mundano, dar ele exemplo da castidade piedade, humildade, fortaleza, generosidade e todas as outras virtudes cristãs. Abrigando a esperança de poder libertar a terra santa que tinha tornado a cair em poder dos Turcos, passou ao Egito para combater ao Sultão em sua própria terra, com numeroso exército. Mas depois de gloriosas vitórias, seu exército foi quase destruído pela peste, e ele mesmo caiu em poder dos inimigos. Durante este tempo deu provas de paciência heróica. Sendo resgatado, foi à Palestina, e ficou ali quatro anos remindo os cristãos que tinham sido escravizados pelos Turcos, e fazendo reedificar e armar as cidades e fortalezas que naquela terra possuíam os cristãos. Ao voltar à França providenciou eficazmente para a reta administração da Justiça e para o incremento da religião, promovendo constantemente o bem e a glória do seu povo. Pelo Impulso de sua piedade tentou levar a cabo uma cruzada contra os Turcos e com este fim desembarcou, à frente de numeroso exército, nas costas setentrionais da África, sitiou Tunis e, apoderou-se do castelo; mas teve de sucumbir vítima da peste e morreu no acampamento a 25 de agosto, aos 55 anos de idade. Ao aproximar-se de seus últimos momentos recebeu o santo viático. Como lhe perguntasse o sacerdote que lho administrava se acreditava que Jesus se achava presente na santa hóstia, respondeu: Não acreditaria melhor, ainda que o visse em todo seu esplendor, como quando subiu ao céu”. Em seus últimos momentos fez-se colocar sobre cinza e com os braços cruzados sobre o peito e os olhos voltados para o céu, pronunciou aquelas palavras do salmo; Senhor, eu entrarei em vossa casa, vos adorarei em vosso santo templo, e glorificarei vos­so santo nome. Isto se deu no ano 1270. Canonizou-o o Papa Bonifácio VIII no ano 1297.

Festa do Corpo de Deus

Quanto mais se combatia o dogma da presença real, tanto mais crescia entre católicos o fervor para com Jesus Sacramentado. Este foi o motivo que levou as bem-aventuradas Juliana e Eva de Liège e a outras pessoas piedosas a iniciar a solene festa de Corpo de Deus. Um milagre acontecido em Bolsena foi o que deu o último impulso ao sumo Pontífice decidindo-o a instituir esta grande solenidade. Aconteceu que um sacerdote alemão, que padecia de tentação contra a presença real de Jesus Cristo na Santíssima Eucaristia, enquanto se achava celebrando a santa Missa na igreja paroquial, viu que a hóstia consagrada derramava Sangue vivo, molhando com ele o corporal, as toalhas e algumas chapas de mármore que se achavam no solo. O Papa Urbano IV, em vista deste milagre e das revelações contínuas que se davam, decretou, no ano 1264, que se celebrasse aquela solenidade em todo o mundo cristão. Santo Tomás de Aquino, a pedido do Papa, compôs o ofício que ainda hoje (final do século XIX) está em uso.

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