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IX. O Papado na balança da História

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Quando um não católico quer insultar gravemente um católico, quando pensa na maneira como feri-lo vivamente em pleno coração, diz-lhe com um tom de superioridade e com um ar de desprezo: “Papista!”. E crê, assim, cobrir de vergonha o seu interlocutor, pois não pode imaginar maior injúria e ofensa do que chamar alguém de “papista”, isto é, um fiel do papa.

Realmente, é assim que fala todo homem sem reflexão. É assim que fala todo aquele que não sabe nada de História. Mas aquele que conhece, mesmo nas grandes linhas apenas, a História do mundo, – seja qual for a sua religião, seja ele judeu ou muçulmano, – esse não pode recusar o seu respeito ao papado, a essa instituição que tem feito o máximo no mundo, no interesse da civilização intelectual e material, da justiça e do direito.

Na verdade, para nós, católicos, não é esse o maior mérito do papado. Somos agradecidos ao papa, primeiramente e antes de tudo, porque ele conserva na sua pureza, sem alteração, a doutrina de Cristo, e porque ele é “a pedra” que sustenta inabalavelmente a Igreja de Cristo. Sim, eis ai, porque lhe somos gratos em primeiro lugar.

Mas vale a pena examinarmos também os méritos do papa em relação ao mundo, afim de ainda aumentarmos com isso o respeito que lhe tributamos. Vale a pena considerarmos agora o papado não só com os olhos de católico, mas ainda o estudarmos, colocando os seus méritos na balança da História, para encararmos, do ponto de vista puramente humano, se é realmente uma vergonha sermos chamados “papistas”, ou se, antes, não devemos bater ufanamente no peito, dizendo: “Deus seja louvado por ser eu um papista”.

É esta a expressão que sairá realmente dos lábios de quem quer que examine os méritos que o papa tem adquirido pelo desenvolvimento:

  1. Do Cristianismo, de um lado;
  2. Da Civilização, de outro.

1. O Papa e o Cristianismo

A) Para que ser o papado? Para que é que há papas? – “Para serem déspotas, para serem senhores absolutos”, respondem os mal intencionados. Não, não é para isso. Mas é para dar Cristo à humanidade. É para isto e unicamente para isto.

São Pedro veio a Roma para pregar a doutrina de Cristo, e por essa razão foi morto. Os papas têm enviado missionários ao mundo inteiro, para pregarem a doutrina de Cristo. Têm dado penosos combates, têm decretado penas sensibilíssimas, para proteger a doutrina de Cristo. Têm aceito a glória exterior, as homenagens, e o respeito, para utilizarem tudo isso a serviço do desenvolvimento do reino de Cristo.

Os papas têm sempre conservado com alma comovida a lembrança do tríplice protesto de amor, em seguida ao qual o primeiro papa recebeu de Cristo os seus poderes. “Simão, filho de João, amas-me mais que estes?” – perguntou Nosso Senhor a São Pedro. E Pedro respondeu: “Sim, Senhor, sabeis que eu Vos amo”. (Jo 21, 15). E fê-lo repetir uma segunda e uma terceira vez esse protesto de amor. Poderiam os papas esquecer que foi por causa desse amor que eles receberam o poder de triunfar do mundo? Que eles devem ser junto à humanidade os pregadores do amor de Cristo, da paz, das suas bênçãos, da boa nova? Que devem, apesar da maldade humana, do ódio e da hostilidade, auxiliar o triunfo do amor de Cristo forte, generoso, desinteressado?

 

B) Se quiséssemos resumir numa só frase a história dezenove vezes centenária dos 262 papas, poderíamos fazê-lo com estas palavras do divino Salvador: “Apascenta meus cordeiros, apascenta minhas ovelhas”. Todo papa que foi digno representante de Cristo viu nisso, o seu único dever.

a) Quantos méritos têm os papas como pastores do rebanho de Cristo! As cruentas perseguições dos primeiros séculos dilaceraram o rebanho de Cristo. Onde estava o pastor? O mercenário ter-se-ia posto em fuga, mas o lugar do bom pastor é junto do seu rebanho. E os papas estiveram realmente com ele nas catacumbas, para fortificar-lhe a fé, e foram com ele ao martírio, para confirmarem com seu sangue a doutrina de Cristo. Hoje ainda, existe a lista dos papas, que é particularmente emocionante; Pedro, Lino, Cleto, Clemente, Evaristo… e após cada um desses nomes: “mártir”, “mártir”. Prossigamos a nossa leitura: Alexandre, Higino, Pio, Anacleto, Soter, Eleutério, Vitor… e após cada um desses nomes vemos: “mártir”, “mártir”; vinte e nove vezes seguidas, aparece o estribilho comovente: “mártir”, “mártir”. Em verdade, o papado tem sido sempre a força, o incentivo, o coração da cristandade.

b) E mais ainda, o papado tem servido de farol para apontar o caminho, e por onde quer que passe a barca de Pedro, no seu sulco brotam as bênçãos. E a observação colhida em dezenove séculos fortalece ainda mais essa verdade. Roma é ao mesmo tempo o ponto de partida e o centro da fé cristã e da civilização cristã. Quantas vezes tem-se renovado na história dos papas o episódio que São Pedro viveu quando saltou da barca de João e começou a afundar em meio às ondas com grande pavor seu! Quem conhece a história, sabe que há épocas de real consternação. Assim, vemos que, no tempo do arianismo, só o papa defendeu a fé na divindade de Cristo, poucos cristãos permaneceram fiéis, e por assim dizer, o mundo inteiro se tronou ariano. Vemos a perseguição pérfida de Juliano, o Apóstata, os cismas, as revoluções, o despotismo de Napoleão… Mas, tantas vezes quantas, aparentemente, os vagalhões ameaçaram o papa, renovou-se ainda sempre, finalmente, o milagre de São Pedro a ponto de afundar: “Logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e lhe disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14, 31).

Se o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo tem permanecido intacto no curso de dezenove séculos, é, em primeiro lugar, mérito dos papas. Se o penoso trabalho dos missionários tem ganho para Cristo continentes inteiros, é mérito do papa.

“Se a propagação do cristianismo é um mérito – escreve o protestante Herder (Ideen zur Philosophie der Geschichte, II, 350) – então os papas têm nele grande parte”.

Se a Europa não se tornou presa fácil dos Hunos, dos Sarracenos, dos Tártaros e dos Turcos, foi em primeiro lugar mérito dos papas.

c) Mas aqui se apresenta ao espírito uma ideia curiosa: Se atualmente Cristo voltasse à terra e fosse ao mergulhasse os olhos, que veem tudo, na vida dos 262 papas do Vaticano… Ah! Sim. Que acharia? Que faria? Se olhasse para os papas, não acharia também neles falhas, manchas? Naqueles que, embora revestidos do poder supremo da Igreja, foram, contudo homens?

Sim, acharia.

Porventura o seu divino olhar não se abaixaria tristemente sobre um ou outro? Ou não se inflamaria de cólera?

Sim, infamar-se-ia de cólera.

Mas contudo… Mesmo aplicando aos 262 papas o julgamento mais severo, a quantos poderíamos exprobrar o esquecimento dos seus deveres, o mundanismo ou falhas morais? A seis ou sete no máximo. Os outros foram todos homens eminentes, caracteres imponentes, muitos foram mártires e foram canonizados. Se o divino olhar de Nosso Senhor descesse, pois, sobre eles, e se seus olhos, que tudo veem, escrutassem as leis da evolução da História, e as fraquezas da natureza humana, de maneira tão penetrante como jamais nem historiador nem psicólogo puderem fazê-lo; e se Ele visse então o grãozinho de mostarda, que Ele semeara, transformado, mesmo sob o simples ponto de vista natural, na árvore imensa da Igreja, de folhas e de flores magníficas; e se Ele fizesse de novo ao Papa Pio XII a mesma pergunta que a São Pedro: Por quem me têm os homens? Pio XII lançar-se-Lhe-ia aos joelhos, e, adorando-o, repetir-Lhe-ia as palavras imortais: “Sois o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É absolutamente certo, meus irmãos, que Nosso Senhor não acharia nada que criticar nem que censurar ao papado atual, mas repetiria as palavras benditas: ”Feliz és tu, Pedro, porque minha Igreja repousa solidamente em ti…”.

Eis ai o primeiro mérito histórico do papa: é sobre ele que repousa a Igreja de Cristo.

2. Os Papas e a Civilização

O que acabamos de ouvir sobre os méritos dos papas só tem valor junto àqueles que amam, e honram o cristianismo, e o encaram como o maior benefício para a humanidade. Mas, na balança da História, patenteiam-se também tantos méritos dos papas, que, mesmo os não cristãos têm de encarar o papado com o maior respeito.

Os que não estão bem a par da História da Civilização, emitem facilmente sobre o papado um juízo reprovador, por causa da indignidade de um ou outro papa. Mas podemos acreditar no célebre historiador não católico Gregorovius, quando diz:

“A História não tem suficientes títulos de honra à sua disposição para poder, mesmo aproximativamente, assinalar os altos feitos dos papas, e a sua glória que não passará”.

Quais são os grandes méritos dos papas a respeito da civilização?

São os méritos que eles têm adquirido no terreno: A) da civilização, B) da verdade, C) da defesa do direito.

Insisto de novo no fato de, aos nossos olhos, não serem esses os seus méritos maiores. Para nós, o seu maior mérito é serem eles o rochedo da Igreja de Cristo. Mas não é supérfluo passarmos rapidamente em revista, também, os seus méritos históricos, afim de que a nossa veneração para com o representante de Cristo seja tanto mais justificada.
A) Para esboçar, apenas, o que a civilização – material e espiritual – deve aos papas, seriam precisos volumes.

a) Primeiro que tudo, seria mister apresentar toda a história da conversão dos povos.

O papado estende o seu poder sobre o mundo inteiro, mas não possui nem canhões nem metralhadoras. Como conquistou ele o mundo inteiro? Eleva a voz ante o Romano orgulhoso, senhor do mundo, e ele curva a fronte diante de Cristo. Eleva a voz ante o povo grego educado na filosofia de Platão e de Aristóteles, e ele faz seu, o ideal cristão. Eleva a voz ante as tribos dos invasores bárbaros, e elas dobram-se sob o julgo de Cristo. E, por toda parte onde se ergue a cruz, registra-se um novo surto de vida; as tribos dispersas organizam-se em estados, os povos nômades e turbulentos tornam-se pacíficos cidadãos.

O papado tem assegurado, pela unidade de fé e de costumes, a união de ideias e de vontade dos povos, o enobrecimento dos corações e das almas, fatores esses que se tornaram a base da nossa civilização atual.

b) Mas, ao lado da conversão dos povos, cumpre-nos mencionar a generosidade sem exemplo, e a proteção inigualada, que os papas dispensaram ás artes e às ciências.

Quem foi a Roma e lá viu, a cada passo, os magníficos edifícios, as estatuas, os chafarizes, levantados pelos papas; quem percorreu as maravilhosas salas do Vaticano e os museus de arte; quem passou, apenas algumas horas, na imensa biblioteca vaticana ou nos arquivos, não precisa que lhe expliquem o que a civilização humana, a mais requintada, deve ao papado.

Todas as histórias da arte proclama eloquentemente a glória dos papas, grandes protetores de Bramante, de Rafael, de Miguel Ângelo, de Bernini, de Maderno.

Quem percorreu as coleções antigas do Vaticano, nota com admiração, que aqueles museus salvaram da destruição as bases de toda a nossa ciência e de todos os nossos conhecimentos clássicos. Aquilo que conhecemos pelas reproduções dos nossos livros colegiais, encontramos no original: o grupo de Lacoonte, Ariana dormindo na sua túnica de harmoniosas dobras, o Apolo de Belverde, etc.

Foi com razão que o papa Pio XI, na sua encíclica “Deus scientiarum Dominus”, publicada em 1931, mencionou uma multidão de universidades que devem a existência ao papado. Muitos se admirarão de ouvir que os papas fundaram as universidades seguintes: Bolonha, Paris, Oxford, Salamanca, Tolosa, Roma, Pádua, Cambridge, Pisa, Perusa, Florença, Pavia, Lisboa, Siena, Grenoble, Praga, Viena, Colonia, Heidelberg, Leipzig, Montpellier, Ferrara, Lovaina, Basiléia, Cracóvia, Vilna, Graz, Valladolid, México, Alcalá, Manilha, Santa-Fé, Lima, Guatemala, Cagliaria, Lemberg e Varsóvia.

Universidade de Oxford, Inglaterra
Universidade de Oxford, Inglaterra

B) Não são menores os méritos adquiridos pelos papas pela propagação e defesa da verdade.

a) A solução dos problemas terrenos depende sempre do modo de encarar as coisas eternas. A política, a educação, a vida social, a vida jurídica e moral estão em relação com as respostas que dermos às questões primordiais. Por isto, é um mérito imperecível dos papas o fato de, mantendo a pureza das verdades do cristianismo, haverem educado o Ocidente cristão numa tradição cultural unida, forte e segura. Foram sempre os papas que proclamaram e defenderam no mundo a superioridade do espírito sobre a matéria, a superioridade da alma sobre o corpo, da moral sobre o interesse, do direito sobre a força, da verdade sobre a mentira. E quem não vê que a vida humana ordenada perdura, ou desaparece, segundo o grau de certeza dessas verdades? Quem não vê que a defesa da verdade tem feito do papado o primeiro fator civilizador da humanidade?

b) Só hoje é que, diante dos gemidos da humanidade transviada em busca do fogo fátuo duma filosofia errônea, podemos realmente, plenamente, apreciar o que significa para a civilização a proclamação da verdade. Todos os planos, todos os desejos, todo o ser do homem de outrora estavam estreitamente unidos com o sobrenatural. O homem de hoje quis libertar-se do sobrenatural, acreditando que se bastaria a si mesmo e poderia salvar-se por si próprio. Mas, após as subversões sociais contínuas e as revoluções perpétuas, hoje ele vê de novo que o reconhecimento do mundo sobrenatural é garantia única e certa, da ordem na vida terrestre. Lançar uma ponte entre os dois contrastes, eliminar as incertezas, dar uma resposta satisfatória, só o pode a sabedoria que o papado ensina há dezenove séculos. E se os papas não tivessem feito outra coisa, senão elevar o facho da verdade acima da humanidade, já seriam só por isso, os primeiros benfeitores da humanidade.

 

C) Mas, ao lado da pregação da verdade, eles têm adquirido méritos no terreno da defesa do direito.

a) Pode-se ver no Vaticano um quadro célebre de Rafael: o encontro de Átila com Leão I. As hordas devastadoras dos Hunos precipitavam-se de Veneza para Roma e ameaçavam varrer o mundo civilizado. Nessa angústia, o papa Leão I foi ao encontro de Átila, para lhe pedir misericórdia. Esse encontro histórico teve lugar em Mântua, no ano 452. Nesse quadro, ao lado do papa, um velho de cabelos grisalhos (São Pedro) ameaça com seu gládio o príncipe devastador.

Encontro do Papa Leão I e Átila (Rafael)
Encontro do Papa Leão I e Átila (Rafael)

Essa pintura simbólica representa a coragem intrépida com que os papas sempre elevaram a voz pela defesa do direito; e era nisso que certamente pensava o célebre publicista francês Veuillot, quando escrevia:

“Tirai São Pedro ao mundo, e será a noite em que um Nero se levanta, cresce e chega ao trono”.

Os papas não têm apenas proclamado o pensamento de São Paulo, que a autoridade legal vem de Deus (Rm 13, 1), mas têm-se esforçado também por proclamar a verdade diante das usurpações do Estado. Os papas têm condenado a demagogia, essa doutrina que faz derivar do povo todo poder, como têm condenado o estatismo que faz vir do Estado todo poder. Jamais têm deixado de fazer ressaltar o vínculo existente entre o direito e a moral, e desse modo têm impedido que questões de força. O “direito” é aquilo que é “justo”; mas aquilo que é justo é determinado pelas leis eternas de Deus, e não pelo bel prazer do homem. Quem ama a Deus respeita também o direito: o homem religioso é, pois, também o melhor cidadão.

Pregando e defendendo essa ideia, os papas têm prestado ao direito um serviço incomensurável. Quando as mais fortes crises se desencadeiam na existência dos povos, os papas não deixam de elevar a voz no interesse da autoridade mais alta, do dever social e do direito, e, assim, de salvaguardar as bases da vida social humana organizada.

“Na idade média os papas foram os verdadeiros baluartes do direito”

Diz o historiador não católico Heinrich Leo. Essa atitude corajosa exigia tal desinteresse e tais sacrifícios, que, por assim dizer, cada papa poderia ter dito o que o papa Gregório VII dizia antes da sua morte no exílio:

“Amei a justiça e odiei a iniquidade, é por isto que morro no exílio”.

Quando o célebre historiador de Roma, Gregorovinus, escreve:

“A religião cristã foi o único baluarte contra o qual vieram quebrar-se as ondas dos bárbaros”

Compreendemos também uma outra afirmação sua:

“O culto dos povos da idade média pela cidade de Roma era sem limites”.

Sim, porque a humanidade achara no papado a garantia de um juízo imparcial e justo.

b) Ainda hoje, muitos combatem o papa. Por que? Porque a fé cristã os incomoda? Absolutamente não. Mas combatem-no porque o papado é a mais alta personificação da ideia de autoridade. Foi sempre essa, a causa última dos ataques contra o papa. As tendências revolucionárias sentiam bem que ele é o único baluarte temível.

E se o papado vem comprovar a civilização e a elevação da humanidade, então compreendemos o que seria da humanidade sem o papado. Que teria sido da Europa, se ela tivesse sido privada desse poderoso protetor da civilização, da verdade e do direito, desse representante da superioridade intelectual e dessa personificação da autoridade? Não responderei eu a esta pergunta, mas sim o ilustre discípulo de Kant, Herder, que escreveu no seu livro “Ideen zur Philosophie der Geschichte der Menschheit”:

“se os Hunos, os Sarracenos, os Tártaros, os Turcos e os Mongóis não absorveram a Europa para sempre, foi obra do papado. Se não fosse a hierarquia romana, a Europa ter-se-ia provavelmente tornado a presa dos déspotas, o teatro das discórdias eternas, ou então teria sido transformada em deserto mongol”.

***

Meus irmãos, agora proponho de novo a questão: devemo-nos considerar insultados quando espíritos estreitos nos tratam desdenhosamente de “papistas”? Será uma vergonha para nós, que a nossa fé seja edificada sobre o rochedo duma instituição única, ou não será, antes, uma vergonha, que certas pessoas não tenham noção alguma dos méritos históricos imperecíveis, pelos quais todo homem culto deve gratidão eterna ao papado?

O que o mundo deve ao papado, não é fácil resumir. Deve-lhe a conservação integral da fé cristã. Deve-lhe a pregação, integral e sem compromissos, da moral cristã. Deve-lhe a propagação do reino de Cristo. Deve-lhe toda a civilização cristã, as artes e as ciências. Deve-lhe a guarda corajosa dos tesouros mais preciosos da humanidade: a vida familiar, a educação, a justiça mútua.

Tem sido justamente durante as duas últimas décadas que a humanidade tem volvido frequentemente os olhos para Roma: em meio aos oceanos de amargurada grande guerra, e dos tempos que a seguiram. Como o rochedo acima das ondas, o trono do papa mantem-se firme, e com autoridade crescente, neste mundo onde tronos que datam de vários séculos têm ruído, e onde toda autoridade parece desaparecer. A tiara do papa refulge, quando as coroas dos soberanos tombam, às dezenas, no pó.

E se a humanidade se tornar bastante insensata para se dilacerar a si mesma, continuando a seguir filosofias sedutoras e o fogo fátuo das palavras enganadoras, e se delapidar inteiramente os tesouros e os valores espirituais conquistados outrora, então, no caos das sociedades em ruinas e dos destroços das civilizações reduzidas a pó, o papado ficará de pé, a dominá-las, como as pirâmides do Egito ficam de pé e dominam as planícies de areia estendidas a seus pés, pelos séculos.

Meus irmãos, demos graças a Deus por sermos também “papistas”. Amém.

(Toth, Mons. Tihamer. A Igreja Católica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1942, p. 111-122)