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Os coveiros

Na linda natureza de Deus

“Rapazes! Depressa! Aqui! Incrível!”, repercutiu a vozinha do Carlito pelo acampamento. Percebemos logo que nada de mal lhe sucedera, mas que devia ter descoberto alguma coisa. Todos desabalaram para lá.

“Vejam só! — Um rato morto, passeando aqui pelo atalho”.

“Que? Rato morto passeando!”

“Bem, não é propriamente o rato; ele é arrastado por cinco besouros. — Já faz algum tempo que estou observando como eles se esfalfam; no entanto, conseguem levá-lo.”

Os rapazes rodearam, interessados, os besouros que logo receberam o apelido de “coveiros do Carlito”.

O professor interveio:

“Esses besouros têm, de fato, um nome científico que assinala sua atividade — Necrophorus vespillo. Quando acham alguma carniça, acorrem uns quatro ou cinco; penetram por baixo do cadáver e cavam um buraco”.

“Curioso! Por que apenas quatro ou cinco?”

“Porque apenas as larvas de outros tantos besouros podem viver do cadáver. Em três ou quatro horas está pronta a cova. Antes, porém de enterrar o corpo, nele põem os ovos”.

“Por que enterram o rato?”

“Bem. Para que outros animais carniceiros não o devorem, e ainda a fim de o sol não o desse que, senão as larvas recém-nascidas não encontrariam alimento. Se o cadáver estiver em terreno pedregoso, põem mãos à obra e, com muito esforço, arrastam-no, como estes o fazem até encontrarem terreno mais fofo, onde possam enterrá-lo”.

“Como é interessante! Quem lhes ensinou isso?”, observou Carlito.

Mas sem esperar resposta, veio logo com nova descoberta:

“Senhor professor, olhe aqui, por obséquio quantas bolas há sobre esta folha de carvalho”.

“É também notável, como se formam essas ‘bolas’. Uma vespa, ‘Cynips quercus folii‘ ao desovar, pousa sobre uma folha nova e fere várias vezes, com o ferrão, a nervura principal da folha, pondo no orifício um ovo, e em seguida vai-se embora, sem mais preocupação.

Mas na parte lesada opera-se uma coisa interessante: A seiva da árvore sai pelo ferimento na folha, endurece e circunda, como um bugalho, o ovo da vespa. Quando a larvinha sai do ovo, ela se acha no meio do bugalho que lhe servem ao mesmo tempo de habitação e de alimento. E o que é ainda mais incrível: a larva cresce, e o bugalho
cresce com ela. Mas quando se tornou vespa, abandona seu asilo através de um pequeno orifício.
Não é isso de embasbacar? O homem pode perfurar a folha quanto quiser, sem que se formem bugalhos; pois a vespinha é capaz de fazê-lo.

E agora o pequeno besouro — Rhynchites cornicus. Ele é ainda mais calculador. Na primavera, quando todas as plantas ostentam folhagem nova, podem reparar como em árvores frutíferas e outras há brotos novos murchos. Como explicá-lo? Não houve geada: A causa é que o besouro pôs neles os seus ovos e cortou quase completamente o broto. Depois de alguns dias a haste murcha, e dia a dia se torna mais seca. Vem então uma rajada de vento e o galho cai no chão. Por que o besouro faz isso? Porque sua larva pode alimentar-se somente de folhas secas. Como é que sabe o pequeno tratante que o broto roído tem de morrer, quando as larvas nascem? Quem lhe contou isso? Foi alguém que cuida do universo inteiro, não é verdade?”

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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 69-71)

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