I
A algumas léguas distante da aldeia de Nazaré, sobre um montículo que domina o lago de Tiberíades, o viajante avista grandes massas e ruínas paralelas à costa. Vários blocos de lava e pedra bruta denotam por sua disposição o recinto de uma antiga cidade. Dois destroços mais notáveis surgem desses escombros. Um, é o de um edifício de pequenas dimensões, situado perto da praia, e que apresenta esculturas, colunas e pilastras mais antigas que os muros. O outro, é um monumento de grande extensão, do qual só restam duas muralhas prestes a cair, porém ornada de belos fragmentos, de capitéis coríntios, de frisas mutiladas estendidas confusamente na relva que as oculta.
O local dessas belas ruínas é desolado e morto. O lago banha tristemente as pedras amontoadas ou esparsas sobre a margem. Somente duas magníficas colunas de sienito (1) perfeitamente conservadas e unidas, erguem-se para o céu, como para marcar, por um emblema majestoso, o berço dos dois irmãos que foram indivisivelmente unidos na fé e no apostolado de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com efeito, aí foi a cidade de Betsaida, pátria do apóstolo João e de seu irmão Tiago. Este nome de Betsaida não lhe foi conservado: os Turcos só conhecem este lugar pelo nome de Tell-Houm (2).
Seria muito difícil ao historiador reconstruir a cidade Galileia com o auxílio destes destroços; porém mais fácil se torna determinar a sua posição. Suspensa sobre o golfo mais setentrional do mar de Galileia, do lado do Ocidente, Beth-Saida abrangia os dois maiores aspectos que simbolizam a imagem do infinito: as montanhas e as águas. As montanhas formam, dos alcantis de Gelboé às primeiras rampas do Líbano, um vasto anfiteatro que se abria aqui e ali para melhor mostrar o céu. O lago, que não tem mais de 12 milhas de circunferência, fica ao pé dessas colinas. Suas águas célebres banhavam outrora Tiberíades, Corozain, Cafarnaum, nomes históricos que elevam o pensamento, nomes benditos que comovem o coração. Nesta praia estão espalhadas dez cidades, constituindo o que os antigos chamavam a Decápole. Enfim, como último plano desta cena grandiosa, e formando a moldura do quadro, acha-se, do lado do oriente, o deserto que se estende pela Itureia, Abilene e Traconítide; ao sul, o Jordão saindo do lago para descer pelo vale de Hinom; ao ocidente, a planície de Esdrelon e o Tabor, onde todas as tardes o sol descansa e desaparece.
Uma magnificência de ordem mais elevada estava então reservada àquela terra, que Deus ia consagrar com Sua presença, e que foi a pátria de seu grande evangelista (3).
O historiador Josepho conta que Felipe, tetrarca da Galileia, aumentara por tal forma essa aldeia, que facilmente podia passar por uma cidade (4). Pelo caráter todo profano dos embelezamentos quis adaptá-la aos costumes das nações; e, para que nada conservasse da origem judaica, o príncipe cortesão impusera-lhe o nome de Julias, em homenagem a Julia, neta de Augusto (5). Assim transformada, situada no caminho da Síria ao Egito, Betsaida viu-se pouco a pouco invadir pelo contágio romano. Grande número de ricaços ali tinham suas vilas, os coletores seus balcões: era um ponto de encontro para negócios e prazeres. Mas, a par desta multidão flutuante e rebaixada, um povo primitivo, austero, laborioso, protestava energicamente contra as novas ideias e os novos costumes. A população consistia sobretudo em pescadores do lago, cuja vida se passava mais separada dos homens e mais próxima de Deus.
Foi entre essa gente de trabalho e de fé que Deus se dignou escolher os dois irmãos, que destinava para seus apóstolos.
Era Zebedeu o chefe da família (6). Alguns adiantaram que Zebedeu era parente de José, pai adotivo do Senhor (7). É apenas uma suposição sem fundamento; e, fora o que o Evangelista diz dele, não nos devemos perturbar em busca de uma história ou ilustração qualquer para o pai de nosso santo apóstolo.
Zebedeu era pescador. Convém não esquecer que, para os Judeus, o ofício era tido em religiosa honra: o costume nacional e o ensino dos rabinos faziam do trabalho manual um dever que nem mesmo os sábios e os chefes o desprezavam (8).
Zebedeu possuía uma barca no lago, da qual era o próprio patrão. Às vezes associava-se com uma família de gente do mesmo ofício, cujo chefe se chamava Jona, pai de Simão e de André (9). Consta que desde essa época reinava grande união entre essas duas famílias, que o apostolado ia tornar dali por diante inseparáveis. Outras vezes era ajudado na pesca por pessoas a quem pagava (10).
Por esta circunstância e outras análogas é que, observadores atentos ao Evangelho, consideravam essa família de pescadores como tendo um certo bem-estar (11); mas na realidade, a sua maior fonte de riqueza era o trabalho. Deus não procura fortuna naqueles que se digna convidar à prerrogativa de seu apostolado. Ele não exclui por certo os ricos, nem os grandes, mas em geral, as suas predileções estão do outro lado (12). E, se houver em qualquer parte, no recôndito de um casebre de trabalhador, em rua de uma aldeia perdida, atrás da montanha ou no fundo do bosque, um lar modesto, revestido de honestidade e decência, é ali que, de preferência, Deus escolherá o menor de sua tribo, para derramar sobre sua cabeça a unção que o sagrará profeta e rei das almas.
Dois filhos de Zebedeu exerciam com ele o ofício de pescador, passando a noite no lago, ali trabalhando, suportando, às vezes, perigosas tempestades, e de dia descendo com ele à praia, a fim de deixar o peixe e concertar as redes.
O mais velho dos irmãos chamava-se Tiago ou antes Jacob; e é designado em geral por Tiago o maior, a fim de distingui-lo de outro Tiago, filho de Alfeu, e denominado o justo. O mais moço, João. É a sua história que vamos narrar. O nome de João ou Johanan, significa, na língua hebraica, beleza, graça divina, caridade (13). Outros personagens de Israel, já tinham tido esse nome, mas ao filho de Zebedeu é que estava destinado a torná-lo imortal (Jo 5, 35).
Sem contar a instrução religiosa que recebiam os judeus na Sinagoga, onde o rabino explicava ao povo a lei de Deus, não consta que João tivesse sido iniciado nas humanidades liberais. São Lucas, falando dele nos Atos dos Apóstolos o chama «um homem vulgar, sem literatura», tanto como São Pedro (14).
São Crisóstomo exige que se tome esse trecho da Escritura ao pé da letra; São Basílio, São Hilário, São Pedro Crisólogo são da mesma opinião; e os textos dos Padres, unânimes nesse ponto, nos provam que o futuro Evangelista do Verbo encarnado era completamente alheio à cultura científica.
A língua dos Galileus era o siro-caldaico, que prevalecera em toda a Palestina desde o cativeiro. No entanto, o grego era por tal forma usual na «Galileia das nações» que João pôde logo entendê-lo e até falar. Não era por certo o grego das altas escolas, cheio de arte e de tons delicados, tal qual o cultivavam em Atenas e Alexandria; era a língua «comum» como o chamavam; um grego «com ares de bárbaro», mais simples, mais popular, mesclado de locuções locais, sobrecarregado de fórmulas estrangeiras; um composto singular da força hebraica e do esplendor helênico. Elementos brutos, que, postos um dia em fusão pelo fogo sagrado do Pentecoste, irão fundir-se numa imagem imortal da figura divina de Jesus Cristo; e este idioma, fecundado pela inspiração, tornar-se-á a língua do Evangelho de São João (15).
A mãe de João era aquela generosa Salomé que mais tarde veremos acompanhar os passos de Jesus durante a sua pregação (16). Nada prova, como pretendem alguns autores, que Salomé, mãe de João, seja parenta ou mesmo irmã de Maria, mãe de Deus (17). Somente o Evangelho nos faz bem compreender que suas almas ao menos era da mesma família; e dois fatos dos livros sacros assinalam profundamente a fisionomia dessa mulher. — Quando pela primeira vez ali a ela se referem, não é senão a mãe, tal qual a natureza a criou, ambiciosa por amor, cheia de ardor pelos filhos, sonhando grandezas humanas, solicitando para eles um lugar de honra junto ao rei de Israel. — Vemo-la mais tarde na montanha do sacrifício; mas nessa hora suprema é uma mãe cristã. Ela reconheceu que o verdadeiro trono do Rei das dores é uma cruz e se admira de como Jesus a ouviu, ao ver João, seu filho, ao pé desse trono sangrento, no primeiro lugar que tinha pedido para ele. Ela mesma galgou corajosamente o Calvário, e ali permanece até o fim, ao lado do apóstolo, sentindo com ele, criando coragem por seu intermédio; como ele, conservando a fidelidade mais generosa, aquela que sobrevive a morte e que, debulhada em lágrimas, fica junto ao túmulo.
Assim uma origem modesta, uma aldeia por pátria, um operário por pai, uma mulher generosa, porém obscura, por mãe, por única riqueza uma barca, eis a partilha da natureza, na vida cujo quadro esboçamos. Nada mais é necessário a Deus para fazer a sua obra, e é deste nada que Ele fará brotar uma beleza tão maravilhosa, que Ele próprio, o Deus dos anjos, há de achá-la digna de todas as suas complacências.
II
Nesse mesmo tempo, um outro João, o precursor de Jesus, filho de Zacarias e de Santa Isabel, pregava o batismo da penitência nas margens do Jordão. Não era uma escola de filosofia humana inconstante, à mercê de qualquer sopro de doutrina «como os juncos da ribanceira». Ali não ostentava ele a pompa arrogante das cortes «como os que habitam a casa dos reis». Mas sua vida era rigorosa, a alimentação sumaria, a vestimenta grosseira, sua moral era de penitência, e ele próprio era ainda mais austero que seus discursos.
Pelos prodígios de seu nascimento havia João Batista tido uma consagração divina; e os seus olhos abriram-se aos primeiros clarões desse «Oriente» que seu Pai saudara ao recebê-lo no mundo (18). Muito cedo a mão de Deus o arrastara ao deserto desolador e grandioso, que se estende acima do mar Morto. Ali, entre o lago Maldicto e a severa cadeia de montanhas de Moab, diante das grandezas terríveis desse país abatido, ele se havia preparado, sob o olhar de Deus, ao ministério dos profetas em cujo pacto inspirado devia ser o último a tomar parte. O próprio filho de Deus declarara que, entre os filhos da mulher, nenhum era maior que ele.
Por isto, desde que se fez ouvir «a voz que clamava no deserto», grande número de israelitas se tinham chegado a ele para escutar os discursos e confessar-lhe os pecados. Mas, além dessa multidão pressurosa, João Batista tinha a seu lado «seus discípulos» segundo o nome dado pelo Evangelho aos ouvintes mais fiéis e mais assíduos que se haviam apegado ao profeta e que até o ajudavam no seu ministério sagrado, batizando a multidão. O Precursor adestrava-os na vida de santidade, ensinando-lhes a orar. Iniciando-os nos mais impenetráveis mistérios da fé, preparando-os assim para as próximas revelações do reino dos céus.
João, filho de Zebedeu, foi um desses discípulos. É o seu próprio Evangelho que assim o designa por certos sinais que os Santos Padres indicaram, tornando-se impossível qualquer engano. Não foi preciso ao jovem Galileu deixar seu pai nem sua barca. Somente nesse ano em que João Batista pregava no Jordão, e que era justamente um ano sabático ou de repouso universal, ia com André às lições do Mestre. Mais tarde, tornando-se apóstolo, e depois, evangelista, vê-lo-emos começar a narrativa da vida de Jesus pelo magnifico capítulo do «Testemunho de João». Essas cenas preliminares das margens do Jordão tão circunstanciadas e tão minuciosamente expostas em seu livro não poderiam ser relatadas com mais autoridade e mais fidelidade senão por aquele que as presenciará (19).
O conhecimento de Jesus Cristo, Filho de Deus, foi a primeira matéria que o filho de Zebedeu aprendeu na escola do Precursor. Os outros historiadores da prédica de João só nos fizeram conhecer a parte moral de suas instruções: suas invectivas à multidão de fariseus hipócritas, de publicanos avarentos, de soldados violentos, enfim à essa turba vinda, diz o Evangelho de «toda a região do Jordão ao encontro daquele homem que surgia com a virtude de Elias». São esses, para assim dizer, os historiadores do exterior; João, penetrando mais além no ensinamento do Mestre, reteve especialmente as respostas que esse Mestre dava a seus discípulos sobre aquele que devia ser o Redentor de Israel.
O Batista, com efeito, dizia que não era mais que o Precursor, semelhante aos batedores que no Oriente tinham o costume de preceder os soberanos a fim de afastarem qualquer obstáculo no caminho real. Declarava também não ser senão o paraninfo que se põe no segundo plano ao lado do esposo para honrá-lo e servi-lo na festa nupcial. Demais, eis em que termos falava daquele que o tinha visitado e feito estremecer desde o seio de sua mãe. Narrando esses fatos, João torna bem saliente o quanto seu coração estava desde então preparado para a adoração daquele que devia vir.
“Bem sabeis que eu disse: eu não sou o Cristo, porém fui enviado adiante dEle.
É necessário que Ele cresça e que eu diminua; porque o que vem do alto está sobre todos.
O que é oriundo da terra, da terra é e da terra fala, mas Aquele que vem do céu é superior a todos.
Pois Ele disse o que viu e o que ouviu; e aquele que ouve sua palavra tem a prova de que Deus é verdadeiro.
Aquele que Deus enviou, fala as palavras de Deus. Porque o Pai ama o Filho; ele não lhe deu o Espírito por medida, mas tudo tem posto nas suas mãos.
Aquele pois que crê no Filho, terá a vida eterna” (Jo 3, 27-36)
Eram essas as revelações que o futuro Evangelista do Verbo recebia a respeito da divindade do Messias de Israel, antes mesmo que visse a beleza de sua face. Aqueles que, maravilhados pela luz divina que irradia de seu Evangelho, têm procurado saber em que escola filosófica do Oriente, do Egito ou da sábia Grécia, aprendera João essa alta doutrina, deveriam simplesmente recordar-se que ele era discípulo do Precursor. João o Evangelista herdou-a de João o Profeta; João o Profeta aprendera-a na Escola daquela que, trazendo-o ainda em seu seio, dissera à Maria: De onde me vem esta glória que a mãe de meu Senhor desça até a mim? A escola de São João não é portanto a escola de Atenas ou de Alexandria, de Platão ou de Philon; é a escola de João Batista, de Isabel, de Maria, a escola do Anjo da Anunciação, a escola do próprio Céu.
Referências:
(1) Rocha neutra, espécie de granito sem quartzo.
(2) M. de Sauley, Voyage autour de la Mer Morte et dans les terres bibliques, t. Il, p. 502: “Mantenho com inteira confiança a identificação da Beth-Saida-Julias com a Betsaida dos Evangelhos, e desta última com as ruínas de Tell-Houm”.
(3) O evangelho não cita a pátria de São João; mas a tradição indica Betsaida. Bastará citar: São Crisóstomo in Joan Homil, t, VIII p. 31: Hic illiteratus, rudis, ex Bethsaide, Zebedai filius.
Theodoret. Comm. in Psalm. LXVII. Edit. Sirmund., t, I, p. 659: Petrus autem et Andreas, et Jacobus, et Joannes, et Philippus, ex vico Bethsaidae fuerunt.
(4) Esta ultima forma dá-nos a significação do nome, no qual se devem achar os dois nomes, Beit, casa, e Saindoun, pesca. Betsaida tinha portanto o nome da industria de seus habitantes.
Era uma cidade, pois que São João (Jo 1, 45) e São Lucas (Lc 9, 10) dão-lhe o título. No entanto São Marcos (Mc 8, 23) chama-a simplesmente uma aldeia: São Epiphanio (Adv. tioeres, lib. II, p 437) diz-nos que Cafarnaum e Betsaida eram duas cidades pouco afastadas uma da outra. (V, M. de Saulcy, Voyages dans les terres bibliques, t, II, p. 510)
(5) Jeseph Antiq, Jud, lib. XVIII, III, n. 762.
(6) Da palavra Zabdaei em grego, nós fizemos Zebedeu. Este nome se acha no segundo livro de Esdras.
(7) Pseudo-Julianus in Adversaritis, nº 60: “Zebedaeus pater Joannis et Jacobi, erat frater Cleophae et Josephi sponsi genitricis Dei” (Apud. Bolland., XXVª die Julii, in festo S. Jacobi Majoris).
(8) Os antigos rabinos, como Scemahia e Althalion, exigem que todos os letrados saibam um ofício manual, quo victam quaerent. O Rabino Gamaliel, em seu livro chamado Hoad, também o ordena. O ilustre rabino Jochana era alfaiate; o mestre Juda era pescador. No antigo Oriente era isso uma lei e um costume. (V Barros, Annal. Eccl. I, p. 406)
(9) Jacobus et Joannes qui erant socii Simonis – “Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão” (Lc 5, 10)
(10) Et relicto patre suo Zebedaeo in navi cum mercenariis secuti sunt eum – “E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele” (Mc 1, 20)
(11) Eis as razões porque se deduz semelhante asserção: A mãe de João era do número das santas mulheres que proviam as necessidades do Senhor e de seus apóstolos.
Comprara aromas para a sepultura de Jesus; João mesmo era conhecido do pontífice, e o Evangelho nos diz que recebeu Maria, sua Mãe adotiva em sua casa.
Orígenes parece até colocar Tiago e João acima de Pedro e de André. Estes são apenas pescadores, aqueles eram barqueiros.
(12) Concil. Trid. (Sess. XXIII. De Reformat.): Pauperum filios praecipué eligi vult ad sacerdotium
(13) Joannes, sive hebraicè Iochannan, à gratiâ nomen habet à radice chanan, quae nihil aliud est quam charitas Dei diffusa in cordibus nostris.
(14) Videntes Petri constantiam et Joannis, comperto quod homines essent sine litteris et idiotae, admirabantur – “Ao verem o desassombro de Pedro e de João e percebendo que eram homens iletrados e plebeus, ficaram espantados” (At 4, 13).
É com a autoridade deste texto que São Crisóstomo chega até a declarar que João era um perfeito ignorante, que nunca soube ler nem escrever (Homil. I in Joan).
É verdade que em outro lugar ele explica que é propositalmente que procura rebaixar a instrução dos apóstolos a fim de fazer melhor sobressair o milagre de sua pregação e à divindade de sua missão no mundo (Homil, III n. 4, in. Ep. I ad Corinth., t. X, 20).
Item S. Basil, in Regulis fusius disputatis, Regula 8, t. II, d. 545.
Origen, in Celsum lib. I, p. 48.
S. Hilar. De Trinitate lib. II, p. 10.
Jean Lami, no seu douto tratado do Eruditione Apostolorum (Florence 1778, in 8º), reuniu cuidadosamente as passagens dos santos Padres, onde a falta de toda instrução profana é reconhecida em termos muito enérgicos.
(15) Johannes legem quidem discere potuit puer, ut mos erat Hebræis; cauterúm nullâ tinctus fuit aut Hebraicâ aut Graecâ litteraturâ… Quaré quicquid ei ad apostolici muneris functionem fuit necessarium supplevit Dei Spiritus. Hinc fit ut suprà cæteros apostolos magna sit in Johannis dictione simplicitas; et sermo Græcus quidem sed planè adumbratus ex Syriaco illius sæculi, etc. (Grotius, apud criticor. sacror. tom. VI, annotata in IV Evangel. In Johan., col. 36).
V. a respeito da língua do Novo Testamento e de São João, M. Berger de Xivrey, Étude sur le texte et le style du N. T.
(16) Da confrontação dos textos deduz-se o seguinte: São Mateus e São Marcos falam de três mulheres presentes à visita do túmulo divino.
Dessas três mulheres, São Mateus cita duas: Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, o justo. Quanto a terceira, ele a designa sob o nome de mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 29, 56). Ora, esta terceira mulher, mãe de Tiago e de João, São Marcos dá-lhe o nome de Salomé (Mc 7, I).
V. Origen, in Matth. Tract. XXXV, in finem.
(17) Adricomius sustenta que Salomé era irmã de Maria. Eckius declara que a opinião contrária é oposta à corrente da tradição e Santa Brígida chama São João: Sororium Christi. São Bernardo numa de suas composições sobre a Santíssima Virgem, faz Nossa Senhora dizer do alto da cruz: «Interum Joannes, quí est nepos tuus, reputabitur filius tuus, curam habebit tui, et erit solatium tibi». Mas Belarmino duvida muito que essa peça seja autêntica.
Consultar também sobre esse ponto Cornelius à Lapide, in Matth., edit, in 4º.
(18) Visifavit nos Oriens ex alto (Lc 1, 78)
(19) V. Sobre a presença de João filho de Zebedeu à escola de João Batista, todos os padres citados mais além.
Os intérpretes antigos e modernos, católicos e protestantes, são unânimes neste ponto, tornado evidente pela sequência do Evangelho.
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(BAUNARD, Monsenhor L’abbé Loui. O Apóstolo São João. Rio de Janeiro, 1974, p. 1-13)