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Novena a São Francisco de Sales

Novena à São Francisco de Sales

A novena a São Francisco de Sales inicia-se em 15 de janeiro e deve ser rezada por nove dias consecutivos, encerrando-se em 23 de janeiro, comemorando a festa no dia 24.

São Francisco de Sales, nascido em 1567 no castelo de Sales, Savoia, destacou-se como modelo de santidade, bispo zeloso e escritor inspirado. Desde a infância, sob os cuidados de sua mãe, cultivou virtudes como oração, compaixão e sinceridade. Estudou em Paris e Pádua, destacando-se academicamente e espiritualmente, mantendo votos de castidade e devoção a Nossa Senhora. Apesar de provações espirituais e tentações, encontrou força na fé e se entregou à missão de converter hereges calvinistas, com sucesso notável, levando milhares de volta à Igreja Católica. Como bispo, Francisco exerceu um apostolado incansável, visitando sua diocese a pé, promovendo o culto católico e fundando a Congregação da Visitação de Nossa Senhora. Morreu em 1621, aos 56 anos, deixando um legado de virtudes, obras e milagres que culminaram em sua canonização em 1665 por Alexandre VII. Leia mais a respeito.

Como rezar esta Novena a São Francisco de Sales?

  1. Inicia-se com o Sinal da Cruz: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo;
  2. Reza-se todos os dias a oração inicial;
  3. Faz-se a meditação do dia;
  4. Reza-se a oração final
  5. Finaliza-se com o Sinal da Cruz.

Oração inicial para todos os dias da Novena

Ó! São Francisco de Sales, que em sua vida mortal se fez sobressair em todas as virtudes, especialmente no amor à Deus e ao próximo, eu humildemente suplico colocar-me sob a sua proteção imediata, para obter de Deus a minha perfeita conversão, e a de todos os pecadores, especialmente dos… (os nomes das pessoas para quem você quiser rezar devem ser mencionados aqui). Ensina-me, São Francisco de Sales, a fixar os olhos no céu, que eu possa generosamente enfrentar todos os obstáculos que se apresentam no meu caminho, e de atingir um dia a glória no céu com auxílio de vossa intercessão. Obtende também o especial favor… (mencionar intenção). Ajudai-me, ó Senhor, eu Vos suplico, através dos méritos de São Francisco de Sales. Que aquilo que os nossos esforços não podem obter possa ser-nos dada por sua intercessão.

Oremos. Ó Deus, que para a salvação das almas, fez São Francisco de Sales, seu confessor e bispo, que lutava para que todos os homens e mulheres, se submetessem a Vossa misericordiosa vontade, e fossem infundidos com a suavidade da caridade, guiados por seus ensinamentos, pedimos pela intercessão deste vosso servo a graça de obter felicidade eterna. Através de Cristo, Nosso Senhor. Amém.

Sumário da Novena

Orações finais para todos os dias

Ó Deus, nosso Pai, que fizestes de São Francisco de Sales vosso confessor e bispo para a salvação de tantas almas, testemunhando com a sua vida que sois um Deus de ternura e de misericórdia, por sua intercessão, nós vos pedimos: enviai sobre nós o vosso Espírito Santo para que nos ensine a ternura, a compaixão, a misericórdia, e nos chame à reconciliação e à comunhão convosco e com nossos irmãos.

Pedimos para que o vosso amor impere em nossos corações e nos torne amáveis, benignos e generosos com todas as pessoas, especialmente aquelas que convivem dia a dia conosco.

Também por intercessão de São Francisco de Sales, vos pedimos a conversão de nossos entes familiares à fé católica. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai.

“Senhor Jesus, em oração uma vez Vos pedi e pedirei sempre que faça eu a Vossa amorosa vontade todos os dias da minha miserável e frágil vida. Nas Vossas mãos, bom Deus, entrego o meu espírito, o meu coração, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade. Concedei, porém, que com tudo Vos sirva, Vos ame, Vos agrade e sempre Vos louve. Amém.”

1º dia da Novena a São Francisco de Sales

“A figura de São Francisco de Sales não pertence àquelas que possam ser descritas em termos muito limitados. Eleva-se altaneira e clara diante de nosso espírito, mais alta do que as montanhas da Sabóia (região onde ele nasceu e viveu), mais clara do que o céu sorridente que se espelha nas águas azuis do pequeno lago de Annecy (onde morou como bispo). De Fato, São Francisco de Sales era o mais amável entre os santos, e Deus o enviou ao mundo numa hora de tribulação”.

Com isso, o Papa São João XXIII expressou o que já impressionava sumamente os contemporâneos de São Francisco de Sales. Sua amabilidade discreta superou aos poucos a desconfiança dos homens intimidados no Chablais (onde São Francisco de Sales foi missionário por mais de cinco anos). Sua bondade indulgente atraía especialmente os pobres e marginalizados. Pela sua paciência amável sabia apaziguar inúmeros litígios e reconciliar entre si os adversários. “Com uma gota de mel se atrai mais moscas do que com um barril de vinagre”, dizia ele mesmo. Suportava com tranquilidade inabalável as injúrias e ofensas contra sua pessoa. Quando, certa vez, se encontrou com um caluniador malévolo, disse: “Mesmo que me tivesse arrancado uma vista, com a outra olharia amigavelmente para o senhor”.

Havia, no entanto, naquele tempo, como até hoje, quem interpretasse sua bondade como fraqueza, sua mansidão como um feliz dom natural, sua amabilidade como uma tática calculada. Na verdade, ela é uma virtude constantemente exercitada no seguimento de Jesus Cristo. “Quem for ao encontro do próximo com a bênção da suavidade”, diz ele, “será o mais perfeito seguidor de Nosso Senhor”; e “isto, no fundo, é tudo: um coração manso para o próximo e um coração humilde para Deus”.

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2º dia da Novena a São Francisco de Sales

Desde sua infância, através de estudos aprimorados, São Francisco de Sales se preparara interiormente para colocar-se todo a serviço da Igreja e dos homens e mulheres. Quando se aproximou o dia da ordenação sacerdotal, apoderou-se do seu coração temor diante da responsabilidade “de segurar em suas mãos e de realizar pela sua palavra o que nem sequer os anjos são capazes de compreender e de enaltecer devidamente”, mas também alegria sobre a vocação imerecida ao santo serviço.

Sempre celebrava a Santa Missa com tanto respeito e recolhimento que edificava profundamente a todos os que o observavam. Assim que se aproximava do altar, todos os pensamentos de distração o deixavam. Queria dar a todos o acesso à riqueza do sacrifício da Missa e possibilitar-lhes a participação interior.

A meta de sua pregação era conseguir aquilo para o qual o Salvador veio ao mundo: “para que todos tivessem vida e a possuíssem em abundância”. Já como neo-sacerdote, aproveitava cada oportunidade para anunciar a palavra de Deus, a ponto que seu pai lhe dizia: “tu pregas demais!”. Mais tarde, ele declarou que lhe era mais fácil aceitar uma pregação do que rejeitar um convite de pregar. Ele mesmo avaliou o número de suas pregações em 4 mil, mais ou menos.

Como sacerdote e como bispo dedicava muito tempo da pastoral ao sacramento da Penitência. Com inesgotável paciência dedicava-se especialmente aos pobres e desajeitados. Mediante sua bondade, sabia conduzi-los ao arrependimento verdadeiro e à conversão. Incansavelmente exortava-os à comunhão mais frequente. Sua casa estava sempre aberta para todos os que procuravam um conselho (muito ao desagrado dos outros residentes) e todos voltavam consolados e reanimados. Seu zelo apostólico o fez “tudo para todos”.

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3º dia da Novena a São Francisco de Sales

A atividade de São Francisco de Sales se deu no pós-guerras religiosas, que na França seguiram o cisma ocidental e sacudiu também sua pátria Sabóia. Um ano depois de sua ordenação sacerdotal, partiu para reconquistar à Fé católica, os habitantes do Chablais, que ele considerava irmãos desgarrados, e reconduzi-los à unidade da Igreja.

Segundo sua opinião teológica, cada um aceitará a Fé católica se vier a conhecê-la e a ser convencido da verdade dela. Por isso, Francisco exigiu, num memorial sobre a reunificação na Fé, que a pregação católica fosse permitida em lugares e regiões heréticas.

Já no dia de sua chegada em Thonon, ele mesmo começou a pregar diante de poucos ouvintes. Apoiado na revelação da Sagrada Escritura e da Tradição, na doutrina dos Santos Padres e no Magistério da Igreja, expunha aos calvinistas as verdades fundamentais da Fé católica e as defendia contra as heresias. Mas porque a maioria do povo não ousava assistir às pregações dele, distribuía, além disso, os seus ensinamentos por meio de panfletos que, juntados, foram editados, após a sua morte, sob o título de “Controvérsias”.

Estas Controvérsias foram uma das razões pela qual São Francisco de Sales, em 1877, foi declarado Doutor da Igreja. Nelas “irradiam-se um admirável conhecimento de teologia, um excelente método, uma irresistível força de argumentos, tanto na refutação da heresia como na apresentação da verdade católica” (Pio IX).

Na defesa da fé conduziu-o tanto o seu amor pela Igreja como também seu zelo pela salvação dos homens. Francisco estava convencido de que “quem fala com amor, prega suficientemente contra a heresia”. No seu memorial mostra-se disposto a concessões amplas “desde que se conserve a Fé” a qual defende com toda força e com todo o amor.

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4º dia da Novena a São Francisco de Sales

No seu discurso inaugural como Preboste (um cargo eclesiástico daquela época), Francisco de Sales confessou a culpa coletiva da Igreja no cisma: culpa coletiva pelos males entre o clero e a decadência na vida religiosa. Como bispo, trabalhava sistematicamente na reforma da Igreja, cujo efeito repercutia além das fronteiras de sua diocese.

Antes de tudo, exortava os sacerdotes ao estudo, pois, dizia ele: “A ciência é o oitavo sacramento para o clero”. Deu-lhes uma instrução fundamental sobre a administração do sacramento da Penitência e decretou, nos sínodos diocesanos, as diretrizes necessárias para a renovação da pastoral. Para a admissão à Ordem sacerdotal e para a transmissão de uma paróquia, ele insistia na aptidão necessária. Nomeava sacerdotes exemplares e capacitados para os cargos importantes e lhes dava a sua total confiança.

Seu empenho quanto à reforma dos mosteiros mundanizados foi lento e apenas parcialmente coroado de êxito. Tentava, especialmente ajudado por religiosos de boa vontade, reformar as comunidades interiormente. Apenas como meio extremo, ele usava de rigor, para excluir escândalos públicos e possibilitar um reinício.

Primeiramente Francisco catequizava pessoalmente na sé episcopal e organizava, mais tarde, a catequese em toda a diocese, para remediar a ignorância do povo. Ele promovia o ensino para todos, nomeando religiosos com o fim de fundarem e dirigirem escolas.

A força motriz mais eficaz da renovação era o exemplo de sua própria vida, que se distinguia fundamentalmente da conduta de muitos bispos daquela época. Nas suas visitas canônicas, muito cansativas, ele chegava aos lugares mais remotos de sua diocese. Ele pregava, administrava o sacramento da Crisma, mas também aconselhava e consolava. Assim, os fieis chegaram a conhecer, estimar e amar o seu bispo; e com isso o coração se lhes abriu para a renovação da vida cristã.

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5º dia da Novena a São Francisco de Sales

Vida verdadeiramente religiosa não pode restringir-se a cumprir mais ou menos os deveres religiosos e, fora disso, levar uma vida de ateu. Já antes de sua ordenação sacerdotal, Francisco fundara a confraria da Santa Cruz, que obrigava os seus membros à recepção mais frequente dos sacramentos, a prática da caridade fraterna e à ação apostólica. Mais tarde, graças a seus sermões, um número cada vez maior de fieis de diversos estados de vida, sentia-se atraído a uma vida religiosa mais intensa e lhe pedia instruções mais explícitas.

Apesar de todo o peso que lhe causaram, os deveres do encargo de administrar e de reformar a diocese, o bispo assumiu pessoalmente a direção espiritual de tais pessoas, mediante escritos básicos, entrevistas e inúmeras cartas, demonstrava-lhes um caminho para a plenitude da vida cristã, apropriado para o estado e nas circunstâncias de vida em questão.

Das instruções gerais e dos conselhos pessoais à sua parenta, Senhora Charmoisy, originou-se a “Filoteia”, uma instrução para os que aspiram a perfeição cristã. Nela São Francisco de Sales demonstra o fato e a maneira como isso é possível em cada estado de vida e profissão, que se deve assumir, porém, em cada caso, formas diferentes. Então a piedade não pode prejudicar nenhuma profissão. Além disso, a devoção tornará a vida cristã atraente, amável e desejável a outros.

Para que, no entanto, cada um possa escolher o caminho que lhe é apropriado, Francisco recomenda insistentemente confiar-se a um guia espiritual experimentado, o qual poderá ser consultado conforme a necessidade. Francisco era o mais excelente guia para a perfeição.

Pela sua “Filoteia” Francisco de Sales é reconhecido como mestre de piedade. O Concílio Vaticano II confirmou sua doutrina sobre a vocação de todos à santidade. O Papa São Paulo VI o chama de “novo professor da vida espiritual”.

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6º dia da Novena a São Francisco de Sales

“A devoção não é mais do que uma agilidade e vivacidade espiritual com que a caridade produz em nós as suas obras, ou nós as fazemos por ela, com prontidão e complacência”; ela é “um degrau mais alto do amor”. No “Tratado do Amor de Deus” Francisco de Sales fundamentou teologicamente e levou até o mais alto grau da mística esta constatação já apresentada no primeiro capítulo da Filoteia.

Fundamento de sua doutrina é, em contraposição à doutrina de Calvino, a imagem otimista de Deus e do homem. A essência de Deus é o amor, o imanente fluxo divino da vida. É próprio do amor difundir-se e comunicar-se. Por isso Deus criou o mundo como revelação de sua essência e o ser humano como sua coroação, conforme sua imagem e semelhança.

Por essa razão o ser humano está em íntima relação com Deus e tem por natureza a inclinação de amar a Deus sobre todas as coisas.

“O homem é a perfeição do universo; o espírito a perfeição do homem; o amor, a do espírito; e a caridade é a perfeição do amor. Por isso o amor de Deus é o fim, a perfeição e a excelência do universo” (Tratado do Amor de Deus X,1).

Por amor, Deus uniu-se à natureza humana na pessoa do Verbo encarnado. Mediante a graça santificante – Francisco de Sales a chama de ‘santo amor’ – que nos faz membros do seu Corpo Místico, seremos participantes da vida divina e capacitados a corresponder ao amor. “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

“Em que consiste a perfeição? É seguro que ela consiste no santo amor, que abrange o amor a Deus e ao próximo. No entanto, segundo opinião comum, não são chamados perfeitos aqueles que possuem o santo amor, mas somente os que o possuem num grau sublime e primoroso, quer dizer, aqueles que têm um excelente amor a Deus e ao próximo” (DA 12, 172).

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7º dia da Novena a São Francisco de Sales

A aspiração à perfeição, na escola de São Francisco de Sales, despertava em algumas pessoas o desejo de se consagrarem exclusivamente a Deus na vida religiosa. Para homens haviam novas ordem florescentes. Mulheres, porém, idosas ou viúvas, moças de frágil constituição ou com defeitos corporais, não conseguiam ser admitidas nas Ordens existentes. Para elas Francisco de Sales, juntamente com Joana Francisca de Chantal, criou um “refúgio” na Visitação: sem austeridades externas e sem o Ofício prolongado no coro, porém com a abnegação radical ao amor próprio. Suas filhas espirituais deveriam ter “os pés calçados, porém o coração descalço”.

Na primeira fase da Visitação até a mudança em uma Ordem enclausurada, as Irmãs não fizeram votos solenes, mas, mediante uma simples oblação, dedicavam-se a Deus e ao serviço na comunidade. “Nós não temos nenhum outro vínculo senão o vínculo do amor”, escrevera o fundador no livro das profissões, “pois ele é o vínculo da perfeição”.

Antes de tudo, ele queria dar a Deus “Filhas de Oração”. E isso aconteceu. Elas progrediram muito na aspiração à perfeição e algumas aos mais elevados graus da oração. Assim, na pessoa de Santa Margarida Maria Alacoque, a Visitação estava preparada para receber e para guardar as revelações do Sagrado Coração de Jesus.

Conforme a intenção do Santo Fundador, as Irmãs deveriam unir o serviço de Maria aos pés do Mestre ao serviço de Marta. Por isso, nos primeiros tempos elas desempenhavam o serviço aos pobres e enfermos fora do mosteiro e aceitavam temporariamente algumas senhoras que aspiravam a uma vida cristã, para os exercícios na sua comunidade. Quando, por motivo da clausura papal, isso não foi mais possível, restava, pela prática do amor cordial entre as Irmãs, ainda bastante oportunidade para o serviço de Marta. Desde o início o espírito da Visitação era um espírito de humildade e suavidade.

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8º dia da Novena a São Francisco de Sales

O relacionamento entre Deus e o homem possibilita a “elevação do coração” a Deus na oração. Para Francisco de Sales a oração é expressão do amor e, juntamente com os sacramentos, o alimento principal para o seu crescimento.

Francisco de Sales apreciava todas as formas de oração comunitária, especialmente a oração litúrgica da Igreja. Ele louvava o Ofício solene do seu cabido e participava dele de boa vontade. Defendia a oração precatória e a invocação dos Santos, especialmente de Nossa Senhora. Pela sua intercessão, em Paris, viu-se livre de mais profunda angústia. Em agradecimento ele fez a promessa de rezar o rosário todos os dias, o que cumpriu até o fim da vida.

Na sua vida de oração e na sua doutrina sobre a vida espiritual, Francisco de Sales dá a preferência à oração interior. Para exercer-se nela, ele ofereceu um método simples. Nas dificuldades oferecia conselhos concretos, de maneira comum na “Filoteia” e, de modo individual, em muitas cartas. Pelo exercício fiel, sob a influência da graça, esse método pode ser simplificado ou até se tornar desnecessário; então, no diálogo do amor, a oração meditativa passa para a contemplativa. Francisco de Sales descreveu isso no “Tratado do Amor de Deus” em suas diversas formas e degraus.

A oração interior não deve ser isolada da vida, ela deve levar a uma convivência íntima com Deus no recolhimento espiritual, deve levar à expressão espontânea do amor na situação concreta da vida, por meio de pensamentos frequentes em Deus em curtas e fervorosas elevações do coração. “Ora, é neste exercício de recolhimento espiritual e das orações jaculatórias que se estriba a grande obra da devoção; pode suprir a falta de todas as outras orações, mas a falta dele quase não pode ser compensado por nenhum outro meio. Sem ele, não se pode seguir bem a vida contemplativa e nem tampouco desempenhar bem a vida ativa.

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9º dia da Novena a São Francisco de Sales

O amor não apenas se manifesta na oração, enchendo-nos de “entusiasmo e de fogo abrasador de Deus”, mas, se ele for autêntico, “difundirá em nós a sólida resolução, a firmeza de ânimo e a inviolável obediência requerida para cumprir as determinações da Vontade divina” (Tratado do Amor de Deus VI, 1). Francisco de Sales vivia de modo exemplar este amor ativo.

Ele não conhece apenas a vontade de Deus revelada nos mandamentos, conselhos e inspirações, que podemos aceitar ou rejeitar, mas também a Vontade do seu beneplácito, reconhecível nos acontecimentos, nos desígnios da Providência. “Contemplando o mal em si, certamente ninguém o pode amar; contemplando-o, no entanto, na sua origem, isto é, na Providência divina, então ele se torna infinitamente amável” (Tratado do Amor de Deus IX, 8), pois a Vontade de Deus é sempre o seu amor”. O amor ativo leva à resignação e à equanimidade.

“A resignação prefere a Vontade de Deus em tudo… Ora, a indiferença é superior à resignação, porque não ama nada senão por amor da Vontade de Deus” (Tratado do Amor de Deus IX, 4).

A entrega à Vontade de Deus capacita São Francisco de Sales, mesmo em momentos dolorosíssimos – como a morte de sua mãe extremamente amada – de dizer com perfeita resignação: “Deus seja bendito!”. Logo após a fundação da Visitação, quando a Madre Chantal adoecera gravissimamente, ele aguardava o desfecho da doença com santa resignação; estava disposto a aceitar a Vontade de Deus, nem que lhe fosse mais agradável “contentar-se apenas com a nossa simples tentativa”.

“Quando fui sagrado bispo”, confessa ele mais tarde, “Deus me tirou de mim mesmo, para me querer só para si; então ele me deu ao povo, quer dizer, ele me transformou de tal maneira que de lá por diante não vivia mais para mim”, porém para o seu povo. É esse o mais profundo mistério de sua santidade: o êxtase da ação ou da vida, “que, sob todos os ângulos, está além e sobre a nossa condição humana”. Nisso ele vê realizada a palavra de São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). E ele acrescenta: isso quer dizer: “deixar nossa vida puramente humana para levar uma vida mais elevada. Essa nova vida é o amor. Isso significa, porém, viver não só com critérios humanos, mas por razões sobre-humanas. Esse modo de viver há de ser um arrebatamento contínuo e um perpétuo êxtase no agir e obrar” (Tratado do Amor de Deus VII, 6).

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Quem foi São Francisco de Sales?

Por Pe. João Baptista Lehmann

São Francisco, grande apóstolo do seu tempo, modelo perfeito de santidade, protótipo de Bispo e sacerdote, nasceu em 1567 no castelo de Sales, próximo de Annecy na Savoia. Seus pais eram de alta nobreza e muito religiosos. Antes do nascimento de seu filho já o tinham consagrado a Deus. Sua mãe Francisca pedira a Deus de antes privá-la do prazer de ser mãe do que permitir que dê à luz uma criança que tivesse a infelicidade de ser um inimigo do seu Criador.

A condessa velou com máximo cuidado sobre a educação de seu filho, que apesar do seu nascimento prematuro e sua constituição fraquíssima, se desenvolveu admiravelmente.

O menino ia com ela à igreja e pela palavra e exemplo implantou no coração de seu filhinho profundo respeito à casa de Deus, amor à oração e ao culto divino. Frequentemente fazia-lhe uma leitura da vida dos Santos, condimentando-a com instruções adequadas. Francisco devia até acompanhá-la nas visitas que fazia aos pobres e doentes e era ele que dava as esmolas aos necessitados.

Com uma docilidade admirável o menino aceitou as medidas educativas de sua mãe. De tenra idade ainda, já era amigo da oração, sincero no seu falar e agir e compassivo com os que sofrem.

Tendo chegado o tempo de o menino se entregar aos estudos, houve divergência entre os pais. Quando a mãe, receosa de expor seu filho a perigos espirituais, opinava dever lhe administrar o ensino em casa e para este fim tratar professores particulares, o conde era de opinião que Francisco devia fazer seus estudos num colégio, no meio de companheiros de sua idade. Bem ele sabia que o estimulo muito favorece o progresso nas ciências. Tendo seis anos, Francisco frequentou o colégio de Rocheville e mais tarde se matriculou em Annecy. Os professores ficaram admirados do talento privilegiado do seu aluno. No meio dos seus trabalhos escolares Francisco não se esquecia das suas práticas religiosas. Oração e leitura espiritual eram suas companheiras inseparáveis.

Bastante preparado nas matérias propedêuticas, era da vontade do pai que o jovem estudante seguisse para Paris com o fim de completar seus estudos. Prevendo a separação de seu filho, a condessa redobrou seus esforços para confirmá-lo na prática das virtudes. Mais do que nunca recomendou-lhe o amor de Deus, a oração, a fuga do pecado e das más ocasiões. Muitas vezes dizia-lhe:

«Meu filho, prefiro ver-te morto a saber um dia que cometeste um pecado mortal»

Em companhia dum sacerdote, a quem o cuidado paternal o tinha confiado, se dirigiu Francisco à Capital. Algum tempo estudou retórica e filosofia no Colégio dos Jesuítas. Mais tarde frequentou a academia, onde praticou os exercícios de equitação, esgrima e dança, exercícios estes que fazia não por inclinação mas para obedecer à vontade do pai. Além disto dedicou-se ao estudo das línguas orientais e da teologia. Terminados seus cursos em Paris, por ordem do pai, foi para Pádua, onde devia ainda estudar direito civil e eclesiástico.

Em todos os lugares Francisco se distinguiu vantajosamente entre os seus companheiros e para todos eles era modelo de virtude. Para se conservar no meio de tantos perigos, o jovem estudante recebia semanalmente a Santa Comunhão e em Paris na igreja de Santo Estevão fez em honra de Nossa Senhora o voto de castidade perpétua. Este mesmo voto mais tarde renovou no santuário de Loreto, e guardou fielmente até o fim de sua vida. Sem que o soubesse, encontrou-se numa ocasião na casa duma pecadora. Quando, porém, percebeu quais as intenções da mesma, cuspiu-lhe na cara e fugiu.

Não com tanta facilidade pôde se desenvencilhar das tentações, com que o demônio o atormentava. A paz que até então o acompanhara, deu lugar à tristeza, a uma aridez quase insuportável. Por fim martirizou-o a ideia de estar abandonado por Deus, de não haver possibilidade de salvar sua alma. Suas orações, mortificações e práticas de piedade afiguravam-se-lhe meros sintomas de hipocrisias e de valor ilusório. Estes tormentos influenciaram desfavoravelmente a saúde. Com o apetite perdeu a boa disposição, o sono e bom humor. Por entre lágrimas e suspiros queixou a Deus sua triste sorte. As seguintes palavras são a expressão fiel do que sua alma torturada sentia:

«Ó meu Deus, teria eu então perdido a Vossa graça depois de ter tantas vezes experimentado o Vosso amor, a Vossa misericórdia? Santa Maria! Mãe de Deus! Seria eu excluído da glória celestial? Não permitais, isto vos peço, que seja condenado a vos amaldiçoar e blasfemar no inferno!»

Passou também esta tempestade e Deus se dignou de livrar seu servo da pesada cruz que o oprimia. Um dia Francisco entrou numa igreja, onde avistou uma imagem de Nossa Senhora. Debaixo da imagem leu a oração de São Bernardo:

«Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que a vós tem recorrido, fosse por vós desamparado»

Estas palavras foram bálsamo para seu coração. Prostrado de joelhos, recitou com muito fervor a mesma oração, renovou seu voto de castidade e acrescentou a seguinte declaração:

«Ó minha Senhora e Rainha, sêde minha intercessora junto de vosso filho, perante o qual não me atrevo a comparecer. Queridíssima mãe, se tiver a infelicidade de não amar a Deus no outro mundo, alcançai-me a graça de O amar tanto mais enquanto aqui estou»

Feita esta oração, Francisco entregou-se sossegadamente à divina Providencia e desde aquele dia cessaram as insidias e perturbações diabólicas, e tornou a voltar a paz e tranquilidade e com ela a saúde do corpo. Grato a Maria Santíssima, o Santo devotou-lhe ainda mais amor e não cessou de proclamar sua grandeza, seu poder e misericórdia.

A seguir a vontade do pai, Francisco, terminados seus estudos, havia de voltar para sua terra, assumir o cargo de senador de Chambery e ligar-se em casamento com uma fidalga da casa de Savoia. Francisco manifestou então o desejo de se ordenar, resolução para que solicitou o consentimento dos pais. Este, ele o conseguiu com muita dificuldade e depois de longa resistência. O bispo Claudio de Genebra administrou-lhe o sacramento da Ordem e do Papa recebeu a nomeação de preboste da igreja de Genebra. Incumbido pelo prelado da pregação de missões nas regiões do bispado onde a heresia calvinista conseguira tomar pé, o neo-presbítero o dedicou-se a esta obra com todo o ardor. É incalculável quantos sacrifícios, perigos, perseguições se ligaram a esta difícil missão. Os hereges, vendo-se atacados com vigor e desmantelados os seus argumentos, votaram ódio ao missionário e planejaram sua morte. Deus, porém, protegeu seu ministro e este levou a obra da conversão dos hereges para dentro da cidade de Genebra. Corajosamente dirigiu-se ao chefe do Calvinismo Beza, convidando-o para abjurar seu erro. Beza convenceu-se da verdade da Igreja Católica, mas não se animou a voltar para a casa paterna. Melhor resultado teve em outros lugares. Setenta e dois mil calvinos abandonaram a seita e voltaram para o seio da Igreja Católica.

Pela morte do Bispo Claudio a administração da diocese passou para Francisco. A nova dignidade fez ressaltar ainda mais as virtudes do jovem Prelado. Impelido por um zelo verdadeiramente apostólico, Francisco visitou a pé toda a diocese, visto que o conselho da cidade tinha-lhe cortado todas as subvenções. Aos fiéis exortava à perseverança e à prática do bem; aos hereges, com paciência e mansidão, mostrava seus erros e em toda a parte estabeleceu o culto da Igreja Católica. Mais de uma vez convidou os mais eminentes oradores do Calvinismo para uma discussão pública, porém nenhum deles teve a coragem de se medir com o Bispo católico, conhecendo-lhe a força de argumentação.

Nas horas vagas compôs belíssimos livros de assunto religioso, que têm sido e até hoje são mui apreciados.

Fundou a congregação feminina da visitação de Nossa Senhora que obteve a aprovação apostólica e achou a mais benévola aceitação entre o povo católico.

Durante vinte anos tinha dirigido os destinos de sua diocese e grandes foram os merecimentos de sua hábil e prudente administração, quando Deus houve por bem chamar seu fiel servo à eterna recompensa. Negócios urgentes requereram a presença do Bispo em Lyon durante os dias de Natal, quando lhe sobreveio uma grave doença. A repetidas torturas seguiu uma congestão que lhe privou do uso dos seus membros exceto a língua. Entre os primeiros que o visitaram, se acharam os Padres Jesuítas, aos quais disse:

«Estais me vendo num estado em que nada preciso a não ser a misericórdia divina: Peço que m’a alcanceis pela vossa oração»

Perguntado por um deles se estaria pronto a se sujeitar à vontade de Deus e se Ele determinasse sua morte, respondeu:

«É bom esperar no Senhor. A mim aquela hora é como qualquer outra. Deus é o Senhor. Que Ele de mim faça o que bem Lhe parece. Nunca tive vontade diferente da Sua»

Dito isto, fez a profissão da fé na presença de muitas pessoas para assim testemunhar que sempre viveu na fé católica e nela queria morrer. Os santos sacramentos recebeu-os com muita devoção. Durante os dias da doença permaneceu em contínua oração. Frequentes vezes rezava os seguintes versos dos Salmos:

«Meu coração e minha carne se alegraram no Senhor. Por toda a eternidade hei de cantar as misericórdias do Senhor. Quando comparecerei diante da Vossa face? Ó meu Deus, meu desejo a Vós se dirige, e meus suspiros Vós os conheceis. Meu Deus e meu tudo, meu desejo vai às colinas eternas. Purificai-me, Senhor, dos meus pecados; tirai de mim a minha culpa e purificai-me cada vez mais. Senhor, se faço falta ao Vosso povo, não recuso o trabalho. Sou um servo inútil, de quem Deus nem o povo tem necessidade»

Entrando na agonia, perdeu a fala. Os circunstantes de joelhos rezaram a ladainha de Todos os Santos. Quando chegaram a invocação: Santos inocentes, rogai por ele, Francisco exalou sua bela alma. Era o dia 28 de Dezembro de 1621. O Santo tinha chegado à idade de 56 anos.

O coração do santo Bispo foi solenemente transportado para o convento da Visitação em Lyon; seu corpo achou seu descanso no convento da mesma Congregação em Annecy. Os milagres com que Deus glorificou o túmulo do seu servo são numerosos. O próprio Papa Alexandre VII que em 1665 inseriu o santo no catalogo dos Santos, por intercessão do mesmo ficou livre de um mal incurável. A bula da canonização enumera entre os milagres provados e documentados a cura de um cego de nascimento, de quatro paralíticos e a ressurreição de dois mortos.