“A causa primordial das nossas dúvidas na religião é a ilimitada confiança que temos na força invencível e na infalibilidade de nosso entendimento” (Eotvos).
Nunca senti mais fortemente a verdade dessas palavras, do que quando ouvi da boca dum operário que se julgava muito sabido:
“Não creio na eternidade, na religião, em Deus, creio somente naquilo que vejo!”
Disse, e ergueu orgulhosamente a cabeça.
O bom homem estava convencido de ter falado com abaladora sabedoria, e os que talvez repetem esse pensamento, vivam na mesma ilusão.
Insensatos!
Quanto mais estudamos, tanto mais humildemente confessamos que existe uma infinidade de coisas ao redor de nós, que nós não vemos, que não podemos perceber pelos nossos sentidos, mas que, no entanto, existem.
Quanto mais sábio alguém for, tanto menos se admirará que haja mistérios que a razão humana não consegue penetrar, e que veja do mundo ambiente em relativa proporção, tanto quanto uma coruja, no sol do meio dia.
Muitos rapazes, após uma aula de religião, se queixam: “Sempre crer, sempre acreditar!” Nada mais natural! Existe um sem número de coisas ao redor de nós, na vida cotidiana, que não conhecemos, e, no entanto, aceitamos! A respeito da fé religiosa, pode sorrir zombeteiro apenas aquele que julga conhecer tudo no mundo, mas não tem a mais leve noção do número incalculável de enigmas e mistérios que nos circundam.
Somos como um homem sentado no fundo dum poço, a olhar para cima. Que vê ele? Um pedacinho do firmamento, do tamanho da palma da mão: assim é o saber humano. O químico Schonbein escreve:
“Embora os homens considerem o conjunto das ciências como coisa grandiosa, o sábio experimentado lhe sente as lacunas é imperfeições, e está convicto de que o homem conhece hoje apenas uma parcela modestíssima daquilo que a natureza encerra.”
O mesmo exprime as palavras do grande naturalista Reinke:
“Já para Sócrates, o princípio da filosofia foi a consciência de nada sabermos; o final da filosofia é a evidência de que devemos crer. Esse é o imutável destino da sabedoria humana.”
Dessa maneira humilde se externam grandes sábios. E o operário ou aquele nosso amigo quintanista, “só crêem naquilo que podem enxergar”!
“Há coisas entre o céu e a terra, Horácio, de que nossa sabedoria escolar nem cogita” diz Shakespeare. Ele tem razão, assim como o escritor húngaro Gardonyi:
“Quem tudo crê, suspeitamos que seja um tolo; quem nada crê, já nem mesmo precisamos suspeitar!”
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 153-154)