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O devoto de Maria não se perde

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Meditação para o dia 02 de Maio. O devoto de Maria não se perde

Meditação para o dia 02 de Maio

Um verdadeiro devoto de Maria não se perde

É impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e a ela se encomenda. À primeira vista talvez pareça um tanto ousada esta proposição. Antes, porém, que se a rejeite, peço que se leia o que a respeito eu vou apresentar. Afirmo que é impossível perder-se um devoto da Mãe de Deus. Não me refiro aqueles que abusam dessa devoção para pecarem com menos temor. Desaprovam alguns que muito se celebrem as misericórdias de Maria para com os pecadores, dizendo que estes dela abusam para mais pecarem. Mas injustamente desaprovam, pois esses presumidos, por esta sua temerária confiança, merecem castigo e não misericórdia: Falo tão somente daqueles devotos de Maria que, ao desejo de emenda, unem a perseverança em obsequiá-la. Quanto a estes, repito, é moralmente impossível que se percam. O mesmo afirma o padre Crasset em seu livro sobre “A verdadeira devoção à Virgem Maria”. E antes já o afirmaram Vega em sua Teologia Mariana, Mendoza e outros teólogos. Que não falaram irrefletidamente, vê-lo-emos pelas afirmações dos Doutores e dos santos. Ninguém se admire à vista de tantas sentenças uniformes dos autores. Quis referi-las todas, a fim de provar o acordo geral dos escritores sobre este ponto.

A devoção a Maria é penhor de eterna bem-aventurança

É impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob sua proteção, diz Santo Anselmo, e também é impossível que se condene quem se encomenda à Virgem, e por ela é olhado com amor. Quase com os mesmos termos isso confirma Santo Antonino. Não podem salvar-se aqueles, escreve o Santo, dos a quais Maria tem afastado seus misericordiosos olhos; mas salvam-se necessariamente os que por ela são vistos com amor e protegidos por sua intercessão. Repare-se, porém, na primeira desta proposição e tremam aqueles que fazem pouco caso da devoção à Mãe de Deus, ou que a abandonam por negligência. Estes santos afirmam que não há possibilidade de salvação para quem não é amparado por Maria. A mesma coisa asseveram outros, como Santo Alberto Magno:

“Todos os que não são vossos servos hão de perder-se, ó Maria”

E São Boaventura:

“Aquele que se descuida de servir à Santíssima Virgem morrerá em pecado”

Em outro lugar:

“Quem a vós não recorre, Senhora, não entrará no paraíso”

No Salmo 99 de seu Saltério Mariano chega até a dizer que não só não se salvará, mas que nem esperança de salvação terá aquele do qual Maria aparta o seu rosto. E primeiro o disse Pseudo-lnácio mártir, afirmando que não pode salvar-se um pecador senão por meio da Santa Virgem, cuja misericordiosa intercessão salva muitos que deveriam ser condenados pela justiça divina. O abade de Celes repete essas palavras. É nesse sentido que a Igreja aplica a Maria esta passagem dos Provérbios (8, 36):

“Todos os que me odeiam amam a morte eterna”

Sobre o texto: “Ela é semelhante ao navio de um mercador” (Pr 31 14), diz Ricardo de São Lourenço:

“Todos os que não estiverem a bordo desse navio, serão submergidos no mar deste mundo. Até o protestante Ecolampádio tinha por indício certo de reprovação a pouca devoção a Mãe de Deus”

Por outro lado, diz Maria:

“Aquele que me serve não será condenado” (Eclo 24 30)

Quem a mim recorre e ouve minhas palavras não se perderá. Pelo que diz São Boaventura:

“Senhora, quem se esforça por servir-vos está longe da condenação”

E isso acontecerá, afirma Pseudo-Hilário, ainda que no passado tenha alguém ofendido muito a Deus.

Por isso o demônio trabalha para que os pecadores, depois de perderem a graça de Deus, percam também a devoção de Maria. Observando Sara que Isaac ia pegando os maus costumes de Ismael, com quem brincava, pediu a Abraão que expulsasse este e também sua mãe Agar.

“Expulsa a escrava com seu filho!”

Não se contentou em mandar embora o filho. Exigiu que se expulsasse também a mãe. Pois imaginou que, se esta ficasse a cada passo o filho viria a casa para vê-la. Da mesma forma o demônio não se contenta com ver uma alma separar-se de Jesus Cristo. Quer vê-la também separada da Mãe de Jesus.

“Expulsa a escrava com seu filho!”

Pois teme que a Mãe com seus rogos reconduza o Filho a essa alma. E é com razão que o teme, porquanto, afirma Pacciucchelli, não tarda a encontrar a Deus quem é fiel em obsequiar a Mãe de Deus.

Salvo-conduto que nos livra do inferno, é, por isso, o acertado nome que Santo Efrém dá à devoção a Maria. Segundo São Germano, é Maria a protetora dos condenados. Realmente, é certo e fora de dúvida que a Maria, conforme a sentença de São Bernardo, não lhe falta poder nem vontade para nos salvar. Tem poder porque é impossível ficar desatendida uma sua oração, garante-nos Santo Antônio. Ou, como diz São Bernardo, seus rogos jamais ficam sem resultado, mas sempre alcançam o que pretendem. Tem vontade de salvar-nos, porque como Mãe deseja nossa salvação mais do que nós- a desejamos. Ora, assim sendo, como poderá perder-se um fiel devoto de Maria? E ainda que seja pecador, salvar-se-á, se com perseverança e propósito de emenda se encomendar a essa boa mãe. Ela o levará ao conhecimento de seu miserável estado, ao arrependimento de seus pecados. Obter-lhe-á a perseverança no bem e finalmente uma boa morte. Qual é a mãe que podendo, com um simples pedido ao juiz, livrar seu filho da morte, não o faria? E poderíamos nós pensar que Maria, tão devotada Mãe para com seus devotos, deixe de livrar um filho da morte eterna, quando lhe é possível e tão fácil consegui-lo?

Ó Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salva. Se estiver sob vossa proteção, nada tenho a recear porque a devoção para convosco é uma segura arma de salvação, por Deus concedida só aos que deseja salvar. Por isso até Erasmo assim saudava a Santíssima Virgem:

“Deus vos salve, ó terror do inferno, ó esperança dos cristãos; a confiança em vós assegura a salvação”

A devoção a Maria protege contra a fúria de Satanás

Oh! Quanto desagrada ao demônio a perseverante devoção de uma alma à Mãe de Deus! Afonso Alvarez, muito devoto de Maria, foi atormentado pelo demônio com violentas tentações impuras, uma vez que estava rezando. Deixa esta tua devoção para com Maria, disse-lhe o inimigo, que eu deixarei de tentar-te. Foi revelado a Santa Catarina de Sena, como atesta Luís Blósio, que Deus concedera a Maria, em consideração a seu unigênito, a graça de não cair presa do inferno pecador algum que a ela se recomendar devotamente. O próprio profeta Davi pedia ao Senhor que o livrasse pelo amor que tinha à honra de Maria: Senhor, eu amei o decoro da vossa casa…; não per cais com os ímpios a minha alma (SI. 25 8).

Diz “vossa casa”, porque Maria foi certamente àquela casa que o próprio Deus se preparou na terra para sua habitação, e onde ao fazer-se homem achou seu repouso. Assim está escrito nos Provérbios (9,1): Senhor, eu amei o decoro da vossa casa…; não perderá certamente, dizia Pseudo-Inácio mártir, quem é fiel na devoção a essa Virgem Mãe. E isso confirma São Boaventura com as palavras:

“Senhora, os que vos amam gozam grande paz nesta vida, e na outra não verão a morte eterna”

Nunca sucedeu, nem sucederá, assegura-nos o piedoso Blósio, que um humilde e diligente servo de Maria se perca eternamente.

Oh! Quantos permaneceriam obstinados e se condenariam para sempre, se não se houvesse Maria empenhado junto ao Filho para usar de misericórdia em favor deles!

EXEMPLO

Como narram os Anais da Companhia de Jesus, vivia em Bragança de Portugal um moço que era associado da Congregação Mariana. Infelizmente, deixou a Congregação e levou uma vida muito perdida. Chegou ao ponto de um dia resolver-se a dar cabo da vida, atirando-se a um rio. Mas, antes de executar seu tenebroso plano, lembrou-se em boa hora de recomendar-se a Nossa Senhora. Disse-lhe: Outrora eu era mariano e levava uma vida piedosa. Ó Maria, ajudai-me também agora. Pareceu-lhe então ver Nossa Senhora e ouvir as palavras: Que vais fazer? Queres perder ao mesmo tempo a alma e o corpo? Vai, confessa-te e volta à Congregação Mariana. O moço caiu em si. Agradeceu à Santíssima Virgem a graça recebida e mudou de vida.

Vivia na Alemanha um senhor, que, tendo caído num pecado mortal, não era capaz de resolver-se à confissão, preso por falsa vergonha. Intoleráveis se lhe tornaram por fim os remorsos e o infeliz andava com a sinistra intenção de atirar-se à água. Não executou, por felicidade, seu intento, mas entre lágrimas pedia a Deus que lhe perdoasse o referido pecado, mesmo sem confissão. Numa noite, pareceu-lhe que alguém o tocasse no ombro e lhe dissesse: Vai confessar-te!

De fato, foi ele à igreja, mas não se confessou. Numa outra noite torna a ouvir a mesma exortação. Indo novamente à igreja, disse: Prefiro morrer do que confessar meu pecado. Contudo, antes de voltar para casa, posse a rezar diante de uma imagem da Mãe de Deus. Eis que, em se ajoelhando, logo se lhe mudaram os sentimentos. Levantou-se e procurou imediatamente um confessor. Fez em seguida uma sincera e contrita confissão e agradeceu a Maria o grande favor que lhe dispensara. Sentiu-se depois, mais feliz do que se tivera em mãos os tesouros do mundo.

ORAÇÃO

É, pois, vosso ofício, ó minha dulcíssima Senhora, conforme as palavras de Guilherme de Paris, ser medianeira, entre Deus e os pecadores. Exercei vosso ofício em meu favor, pedir-vos-ei com Santo Tomás de Vilanova. Não digais que minha causa é muito difícil de ganhar, porque sei que todos me afirmam que nenhuma causa defendida por vós se perdeu, por mais impossível que parecesse o seu vencimento. E perder-se-á a minha? Não, isto não temo eu. Só deveria temer que não procurásseis defender-me, se olhasse somente para á multidão dos meus pecados.

Considerando, porém, vossa imensa misericórdia, e o sumo desejo que reina em vosso dulcíssimo coração de socorrer os mais degradados pecadores, nem mesmo esse receio posso ter. Quem se perdeu jamais, tendo implorado o vosso auxílio? Chamo-vos, pois, em meu socorro, ó minha grande advogada, meu refúgio, minha esperança, ó minha Mãe Maria Santíssima!

Em vossas mãos entrego a causa da minha eterna salvação e deposito a minha alma. Ela estava perdida, mas haveis de salvá-la.

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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 27-33)