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Maria Santíssima nos Ama

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Meditação para o dia 24 de Maio. Maria Santíssima nos Ama

Meditação para o dia 24 de Maio

Maria não pode deixar de amar-nos

Se, pois, Maria é nossa Mãe, consideremos quanto ela nos ama. O amor dos pais, para com os filhos é um amor necessário. E esta é a razão, adverte Santo Tomás, por que, pondo a divina lei preceito aos filhos de amarem os pais, não pôs preceito expresso aos pais de amarem os filhos. Pois o amor aos próprios filhos é amor com tanta força imposto pela mesma natureza, que as mesmas feras mais cruéis, como disse Santo Ambrósio, não pode deixar de amá-los.

Contam os naturalistas que até o tigre, ouvindo a voz dos filhos capturados pelos caçadores, se lança ao mar e vai nadando até ao navio em que os levam. Se, pois, diz nossa Mãe terníssima, nem os próprios tigres se esquecem de sua prole, como poderei eu esquecer-me de meus filhos?

“Pode acaso uma mulher esquecer sua criança de braço, de sorte que não tenha compaixão do filho de suas entranhas? Mas se ela a esquecer, eu, todavia não me esquecerei de ti” (Is 49, 15)

E se em algum tempo, continua a Virgem, por impossível se desse o caso de uma mãe esquecer um filho, não é possível que eu cesse de amar uma alma, de quem sou Mãe.

Maria é nossa Mãe, não carnal, mas de amor.

“Eu sou a Mãe do belo amor” (Eclo 24, 24)

Tão somente o amor que nos tem é que a faz ser nossa Mãe. Por isso a Virgem ufana-se, diz certo autor, de ser Mãe do belo amor, porque é toda caridade para conosco, por ela aceitos como filhos. E quem poderá algum dia descrever o amor que consagra a nós, miseráveis? Aroldo de Chartres diz que a Virgem, na morte de Jesus, ardentemente desejava imolar-se com o Filho por nosso amor. Ao mesmo tempo em que o Filho agonizava na cruz, ajunta por isso Santo Ambrósio, a Mãe se oferecia aos algozes para dar a vida por nós.

Os motivos do amor de Maria para conosco

Consideremos também as razões deste amor e melhor entenderemos quanto nos ama essa boa Mãe.

a) A primeira razão do seu grande amor para com os homens é o seu grande amor para com Deus.

O amor a Deus e o amor ao próximo, como disse São João, se contêm debaixo do mesmo preceito.

“E nós temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame também a seu irmão” (1 Jo 4, 21)

De sorte que quanto cresce um, tanto o outro aumenta. Não foi por que muito amaram a Deus, que tanto fizeram os santos por amor do próximo?

Chegaram ao ponto de expor e perder a liberdade e até a própria vida pela sua salvação. Leia-se o que fez São Francisco Xavier nas índias. Lá galgava montanha enfrentava mil perigos em busca de miseráveis criaturas dentro das cavernas, onde habitavam feras. E tudo fazia para converter e socorrer as almas desses gentios. Um São Francisco de Sales, quanto não fez para converter os hereges da província de Chablis! Por espaço de um ano se arriscou a passar todos os dias um rio, de gatinhas por cima de uma trave gelada, a fim de ir à outra banda catequizar aqueles obstinados.

Para alcançar a liberdade ao filho de uma pobre viúva, entregou-se um São Paulino por escravo. São Fidélis pregava aos hereges de uma localidade para leva- lós a Deus e alegremente perdeu a vida pregando. Coisas tão grandes fizeram os santos pelo amor do próximo, porque amavam ardentemente a Deus. Mas quem jamais amou a Deus como Maria? Ela amou-o mais no primeiro instante de sua vida, do que o têm amado todos os anjos e santos em todo o decurso de sua existência.

A própria Virgem revelou sóror Maria Crucifixa quão grande era o fogo de seu amor para com Deus. Nele colocado todo o céu e toda a terra, em um instante seriam consumidos por suas labaredas. Disse-lhe também que, em comparação dele, todos os ardores dos Serafins eram como fresca aragem. Não havendo, portanto, entre os espíritos bem-aventurados um só que no amor a Deus exceda a Maria Santíssima, não temos nem podemos ter quem abaixo de Deus mais nos queira, do que essa amorosíssima Mãe. Reuníssemos nós, enfim, o amor de todas as mães a seus filhos, de todos os esposos às suas esposas, de todos os anjos e santos para com seus devotos, não igualaria todo esse amor ao amor que Maria tem a uma só alma. É mera sombra o amor de todas as mães a seus filhos, quando comparado ao de Maria para conosco, diz o padre Nieremberg. Muito mais nos ama ela só, diz o mesmo padre, do que amam uns aos outros os anjos e os santos.

b) Além disso, nossa Mãe ama-nos muito, porque lhe fomos entregues por filhos pelo seu amado Jesus.

Isto aconteceu quando, antes de expirar, lhe disse: “Mulher, eis o teu filho”, indicando-lhe na pessoa de São João a todos os homens, como já acima dissemos. Foram estas as últimas instruções, porém, deixadas por entes queridos na hora da morte, muito se estimam, e jamais se riscam da memória.

De mais a mais somos filhos muito queridos de Maria, porque lhe custamos muitas dores. Em geral as mães têm mais predileções pelos filhos, cuja vida mais trabalhos e dores lhes custou. Somos nós como estes filhos de dores. Pois Maria obteve nosso nascimento para a vida da graça, oferecendo à morte, ela mesma, a amada vida do seu Jesus, consentindo em vê-lo expirar diante de seus olhos, à força de sofrimentos. Desta grande imolação de Maria nascemos então nós à vida da divina graça. Somos-lhe, por conseguinte filhos mui queridos, porque lhe custamos muitas dores.

Do Eterno Pai diz o Evangelho que amou os homens a ponto de por eles entregar à morte seu Filho
Unigênito (Jo 3, 16). O mesmo também, diz São Boaventura se pode dizer de Maria:

“Tanto amou os homens, que por eles entregou seu Filho Unigênito”

EXEMPLO

Pelo ano de 1604 viviam numa cidade de Flandres dois jovens estudantes, que, desleixando dos estudos, se entregavam a orgias e devassidões. Uma noite entro outras foram a certa casa de tolerância. Um deles, chamado Ricardo, depois de algum tempo, retirou-se para casa, e o outro ficou. Chegando Ricardo a casa, estava para acomodar-se, quando se lembrou de que não havia rezado umas Aves Marias, como era de seu costume faze-lo em honra da Santíssima Virgem. Acabrunhado pelo sono, sem nenhuma vontade para rezar, fez, contudo, um esforço e rezou as Aves Marias, embora sem devoção e por entre bocejos de sono. Deitou-se depois e adormeceu. Mas não tardou a ouvir bater a porta com muita força. E imediatamente, sem ele a abrir, vê diante de si seu companheiro de farras, mas desfigurado e medonho.

— Quem és tu? — perguntou aterrorizado.

— Tu não me conheces? — respondeu o outro.

— Mas, como te mudaste tanto? Tu pareces um demônio.

— Ai, pobre de mim! — exclamou aquele infeliz, — que, ao sair daquela casa infame, veio um demônio e me sufocou. O meu corpo ficou no meio da rua, e a minha alma está no inferno. Sabes, pois, acrescentou que o mesmo castigo te tocava também a ti. Mas a bem-aventurada Virgem, pelo teu pequeno obséquio das Aves Marias, te livrou dele. Ditoso de ti, se te souber aproveitar deste aviso, que a Mãe de Deus te manda por mim.

Depois destas palavras, o condenado entreabriu a capa e mostrou as chamas e as serpentes que o atormentavam e desapareceu. Então Ricardo, chorando copiosamente, com o rosto em terra, deu graças a Maria, sua libertadora. Enquanto pensava como mudar de vida, ouviu tocar Matinas no convento dos franciscanos. Logo pensou: É aí que Deus me quer para fazer penitência. E foi pedir aos frades que o recebessem. Cientes de sua má vida, não queriam eles aceitá-lo. Contou-lhes então entre lágrimas o que havia acontecido. Dois religiosos foram à rua indicada, achando efetivamente o cadáver do companheiro, sufocado e negro como um carvão. Depois disso foi Ricardo admitido e levou uma vida penitente e exemplar. Mais tarde foi como missionário pregar nas Índias e em seguida no Japão, onde teve finalmente a graça de morrer mártir queimado vivo por amor de Jesus Cristo.

ORAÇÃO

Ó doce Soberana, vós, conforme a expressão de S. Boaventura, arrebatais os corações dos que vos servem, cumulando-os de vossa ternura e liberalidade. Eu vos suplico arrrebatai-me também o meu pobre coração que muito deseja amar-vos. Pela vossa beleza, ó minha Mãe, atraíste o vosso Deus ao ponto de fazê-lo descer do céu a terra; e eu viverei sem vos amar? “Não; antes vos digo como vosso amante filho João Berchmans: Não me darei repouso enquanto não tiver obtido amor terno constante a vós, ó minha Mãe”, que com tanta ternura me tendes amado, ainda quando eu não vos amava. E que seria de mim, se vós ó Maria, não me tivésseis amado e alcançado tantas misericórdias? Se, pois, me amastes quando eu não amava, que devo esperar da vossa bondade agora que vos amo? Sim, amo-vos, ó minha Mãe e quisera ter um coração capaz de vos amar por todos os infelizes que não vos amam. Quisera ter uma língua capaz de louvar-vos por mil línguas, para fazer conhecer a todo mundo a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia, e o amor com que amais os que vos amam. Tivera-se riquezas, todas quisera empregar em vos honrar; se tivera súditos, todos quisera fossem cheios de amor para convosco; quisera enfim sacrificar pelo vosso amor e glória, se fosse mister, até a minha vida! — Amo-vos, pois, ó minha Mãe; mas ao mesmo tempo receio que vos não ame, porque ouço dizer que o amor faz os que amam semelhantes à pessoa amada. Devo então crer que bem pouco vos amo, vendo-me tão longe de parecer convosco. Vós sois tão pura, eu tão imundo! Vós tão humilde, eu tão soberbo! Vós tão santa, eu tão mau! Mas isto, ó Maria, é o que vós haveis de fazer: já que me tendes tanto amor, tornai-me semelhante a vós. Para mudar os corações, tendes todo o poder; tomai, pois, o meu e mudai-o. Conheça o mundo o que podeis em favor dos que amais. Tornai-me santo e fazei-me digno filho vosso. Assim espero, assim seja.

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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 168-174)