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O fim do Mundo

Meditação para o 24º Domingo depois do Pentecostes. O fim do Mundo

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus 24, 15-

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulo: 15«Por isso, quando virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo, – o que lê, entenda – 16então, os que se encontrarem na Judeia fujam para os montes; 17aquele que estiver no terraço não desça para tirar as coisas de sua casa; 18e o que se encontrar no campo não volte atrás para buscar a capa. 19Ai das que estiverem grávidas e das que andarem amamentando nesses dias! 20Rezai para que a vossa fuga não se verifique no Inverno ou em dia de sábado, 21pois nessa altura a aflição será tão grande como nunca se viu desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais se verá. 22E, se não fossem abreviados esses dias, criatura alguma se poderia salvar; mas, por causa dos eleitos, esses dias serão reduzidos.»

23«Então, se vierem dizer-vos: ‘Aqui está o Messias’, ou ‘Ali está Ele’, não acrediteis; 24porque hão-de surgir falsos messias e falsos profetas, que farão grandes milagres e prodígios, a ponto de desencaminharem, se possível, até os eleitos. 25Olhai que já vos preveni. 26Por isso, se vos disserem: ‘Ele está no deserto’, não saiais; ‘Ei-lo no interior da casa’, não acrediteis. 27Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e brilha até ao Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. 28Onde houver um cadáver, aí se juntarão os abutres.»

29«Logo após a aflição daqueles dias,

o Sol irá escurecer-se,
a Lua não dará a sua luz,
as estrelas cairão do céu
e os poderes dos céus serão abalados.

30Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. 31Ele enviará os seus anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os seus eleitos desde os quatro ventos, de um extremo ao outro do céu.»

32«Aprendei da comparação tirada da figueira: quando os seus ramos se tornam tenros e as folhas começam a despontar, sabeis que o Verão está próximo. 33Assim também, quando virdes tudo isto, ficai sabendo que Ele está próximo, à porta. 34Em verdade vos digo: Esta geração não passará sem que tudo isto aconteça. 35O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.»

Meditação para o 24º Domingo depois do Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre o fim do mundo, de que fala o Evangelho do dia, e veremos:

1.° Que o fim do mundo pode chegar para nós a cada momento;

2.° Que o mundo, pela única razão que passa, nenhum valor deve ter para nós.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De termos em pouca conta os bens deste mundo, que nos será preciso em breve deixar, e a estima dos homens, que em breve nos esquecerão;

2.° De antepormos sempre a tudo os interesses da nossa salvação, e de olharmos tudo o mais como coisa secundaria e acessória.

O nosso ramalhete espiritual será estas duas palavras dos nossos Livros santos:

“A figura deste mundo passa: só me resta o sepulcro” – Praeterit figura hujus mundi (1Cor 7, 31). Solum mihi superest sepulchrum (Jó 17, 1)

Meditação para o Dia

Adoremos o grande Deus eterno vendo passar ao pé do seu trono todas as gerações, que vão abismar- se na eternidade, como as águas de um rio vão lançar-se no oceano. Sim, na verdade, Senhor meu Deus, tudo passa; só Vós sois sempre o mesmo, e os Vossos anos não hão de passar (1). Só Vós sois Altíssimo, porque só Vós sois eterno (2). Ao rei imortal dos séculos, honra e glória!

PRIMEIRO PONTO

O Fim do Mundo pode chegar para nós a cada Momento

O mundo há de acabar para nós na nossa morte; e esta morte pode surpreender-nos a cada momento, tanto na adolescência, como na idade madura e na velhice. Morre-se quando menos se espera, e nem um só instante de gozo é certo. Cada qual deve dizer consigo mesmo:

É possível que a morte me surpreenda onde estou, e que daqui me levem à sepultura; é possível que a morte interrompa o que faço, e que eu o não acabe; me arranque à hora presente, e que eu não veja o seu termo. Suspenso de noite e de dia sobre a minha cabeça, o seu gladio só espera uma palavra de Deus para ferir; no mesmo instante deixarei de existir, e todos os objetos das minhas afeições me serão arrancados para sempre.

Ora, em tal situação, como conservar apego a bens que, mais frágeis que o vidro, podem quebrar-se nas nossas mãos a cada momento? Como cuidar em adquirir riquezas, honras, ciência, sabendo que quando as gozamos, a morte pode surpreender-nos e lançar-nos na eternidade? Ó vaidade das vaidades! Ó cegueira dos homens!

SEGUNDO PONTO

O mundo, pela única razão que passa, nenhum valor deve ter para nós

O tempo do gozo, ainda que fosse tão certo quanto é incerto, nenhum interesse me merece, por isso só que há de acabar. O coração humano necessita de um bem infinitamente duradouro e perfeito; e este brado da morte: Hei de um dia deixar tudo e descer nu à terra, é para o homem que reflete, como um raio que espedaça todos os seus vínculos, rompe todas as suas ligações. Olha como uma sombra que passa, como um fumo que se dissipa, tudo o que até ali lhe agradava como quimeras os seus prazeres, porque são efêmeros, e as suas esperanças, porque são frágeis. A vida mais larga, depois de passar, não é mais que um sonho, que se teve de noite e de que de manhã apenas resta uma ideia confusa; é um relâmpago, que desaparece logo que fuzilou, um fumo que o menor vento dissipa, um ponto, um átomo. Ora tão pequeno espaço no decurso dos séculos merece acaso que se tenha tanto cuidado para o possuir, tanto empenho em ser nele honrado, grande, rico, feliz?

Eu passo como o viandante do deserto que, à tarde, arma a sua barraca, e levantando-a de manhã, passa dali a outro lugar; serei tão insensato, que me inquiete por causa de uma curta noite que hei de passar no deserto da vida?

Passo como as águas de um rio, cujas ondas se impelem umas às outras: terei a fraqueza de me afeiçoar à flor da riba, que eu toco apenas de passagem?

Vejo que tudo o que me cerca cai ou ameaça próxima ruína; que a morte muda, subverte, abate, destrói, e lança tudo nos abismos da eternidade: terei a loucura de me agarrar a esses fracos esteios, que cabem antes de mim. ou comigo, de querer permanecer onde nada há permanente, onde tudo perece desde a tarde até ao dia seguinte?

Que aberração! E todavia não tenho eu esta fraqueza?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Tu autem idem ipse es, et anni tui non dificient (Sl 101, 28)

(2) Tu solus Dominus, tu solus Altissimus (Hino Gloria in excelsis)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 180-184)