Meditação para a Vigésima Terceira Quinta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Depois de termos meditado sobre a excelência da castidade e o cuidado que devemos ter em conservá-la, consideraremos quanto é horrendo o vício contrário; e veremos:
1.° Que é infinitamente odioso a Deus;
2.° Que faz ao homem um mal incomparável.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De nos resguardarmos de todas as ocasiões perigosas, principalmente da ociosidade e demasiada liberdade da vista;
2.° De afugentarmos a tentação, logo que ela sobrevier, não combatendo-a diretamente, mas distraindo- nos dela.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo a Timóteo:
“Conserva-te a ti casto” – Teipsum castum custodi (1Tm 5, 22)
Meditação para o Dia
Adoremos a santidade infinita de Deus, detestando em extremo o pecado, e entre todos os pecados, perseguindo com especial ódio o pecado da impureza. Adoremos ao mesmo tempo a sua justiça, infligindo ao vício impuro os mais tremendos castigos, muitas vezes desde esta vida, mas principalmente no inferno. Louvemos a justiça.
PRIMEIRO PONTO
A impureza é extremamente odiosa a Deus
De todos os vícios é este o que mais excita o ódio e a vingança de Deus; foi este vício que submergiu o gênero humano nas águas do dilúvio (1), que atraiu o fogo do céu sobre Sodoma e Gomorra, e que ainda todos os dias atrai sobre a terra tantas desgraças privadas, tantas calamidades públicas. Com efeito, nenhum vício é mais oposto à pureza infinita de Deus; nenhum profana mais diretamente o seu templo e morada, pois que os nossos corpos são os templos de Deus, em que o Espírito Santo habita (2), e pela comunhão se tornam os cibórios vivos, e os tabernáculos animados da sagrada Eucaristia: profanação horrível, contra a qual o Espírito Santo proferiu o anátema:
“Se alguém violar o templo de Deus, Deus o destruirá” (1Cor 3, 17)
Nenhum vício ofende mais imediatamente a própria Pessoa do Verbo Encarnado, pois que esses corpos, que nós manchamos, que lançamos no lodo mais hediondo, são como que os mesmos membros de Jesus Cristo; nenhum vício rebaixa tanto a majestade divina, pois que o impudico, pondo na balança Deus e um infame prazer, prefere a Deus o que há de mais imundo e vil. Nenhum vício, finalmente, contraria mais o plano divino, pois que Deus tinha-nos dado uma alma toda espiritual, sua imagem e semelhança, para que vivesse na terra da vida dos anjos, das delícias de seu amor, e fizesse deste modo como que o noviciado da vida do céu: e eis que, com o vício impuro, degradamos a obra de Deus, arrastamos a sua imagem pelo lodo, a submergimos em imundos prazeres, ela que era feita para gozar as puras delícias do paraíso, para se abismar na contemplação e no amor das perfeições divinas. Que perturbação dos desígnios divinos! Não, nós nunca poderemos imaginar quanto a impureza é odiosa a Deus. Supliquemos-Lhe que nos infunda na alma uma parte desse horror.
SEGUNDO PONTO
A impureza faz ao homem um mal incomparável
Poderíamos dizer, primeiro que tudo, que ela danifica o seu corpo, pois o estraga e lhe esgota as forças, fá-lo envelhecer e deperecer antes de tempo, e ocasiona muitas fezes mortes repentinas; mas independentemente desta razão, a impureza avilta o homem a seus próprios olhos, e lhe tira o respeito de si, o que é o caminho para todos os vícios; deprava os bons sentimentos; extingue a piedade filial, a compaixão para com o infortúnio, a nobreza da alma, o que havia de elevado e generoso no coração; desgosta da oração, da virtude, de todos os deveres, do mesmo Deus; faz perder a caridade, que substitui por um cruel egoísmo, a esperança, que substitui pelo desejo do nada, e até mesmo a fé, cuja pura doutrina é incompatível com a corrupção do coração (3). Finalmente, de todos os vícios, depois de contraído o seu hábito, é o mais incurável. Pode, portanto, haver coisa mais funesta para o homem que a impureza? É assim que a detestamos?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Quia caro est (Gn 6, 3)
(2) Templum Dei estis, et Spiritus Dei habitat in vobis (1Cor 3, 16)
(3) Dixit insipiens in corde suo: Non est Deus (Sl 13, 1)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 171-173)