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Amar, meio de fazer bem todas as coisas

Meditação para a Sétima Quinta-feira depois de Pentecostes. Amar, meio de fazer bem todas as coisas

Meditação para a Sétima Quinta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Consideraremos na nossa meditação, que amar é o meio de fazer bem todas as coisas:

1.° Porque o amor inspira o desejo e a vontade disso;

2.° Porque a isso nos anima;

3.° Porque faz achar nisso prazer e mérito.

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De obrarmos por amor, dizendo gostosamente a Deus, a cada ação:

Tudo por amor de Vós, tudo para Vos agradar, ó meu Deus!

2.° De nos animarmos ao que é mais perfeito, lembrando-nos que é o mais agradável a Deus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Santo Agostinho:

“Fazei o que o amor vos inspirar” – Ama, et fac quod vis

Meditação para o Dia

Adoremos a Deus ensinando-nos pela boca de São Paulo, que tudo na religião consiste em amar (1), e que o amor é o meio de fazer bem todas as coisas (2). Agradeçamos-Lhe tão precioso ensino.

PRIMEIRO PONTO

O Amor inspira o desejo e a vontade de fazer bem todas as coisas

Quanto maior é o amor, que se tem a Deus, tanto maior é o desejo de Lhe agradar. Um é a consequência necessária do outro e é a sua medida exata! Se amamos realmente a Deus, aspiramos desde manhã até à noite a agradar-Lhe, isto é, a fazer bem todas as coisas, pois é com isto só que podemos agradar-Lhe. A alma que ama imperfeitamente tem apenas uma miserável veleidade de obrar bem, e com isto nada faz bem, serve penosamente a Deus, cai e levanta-se, tropeça e cai ainda, toma resoluções e nenhuma executa. Mas a alma, que ama, tira do seu amor um grande desejo de fazer perfeitamente todas as coisas a fim de agradar mais a Deus, a quem ama; e este desejo, que lhe dilata o coração, leva-a a seguir apressurada o caminho dos mandamentos e da vida perfeita. À medida que obra, este desejo cresce ainda; o exercício aumenta-o, como a lenha lançada no fogo lhe aumenta a chama; e resulta disso uma vontade sempre mais veemente de fazer cada coisa o melhor possível para agradar sempre mais a Deus, a quem ama.

SEGUNDO PONTO

O Amor anima a fazer bem todas as coisas

Nada há que cause trabalho, quando se ama, diz Santo Agostinho; ou, se o causa, ama-se o mesmo trabalho. O amor converte-se num gozo. Nada há mais forte que o amor, diz o autor da Imitação (3); aquele que ama corre no meio das dificuldades, voa e triunfa (4). Nem o trabalho o cansa, nem o incômodo o detêm, nem o temor o perturba. Em vão a natureza estremece com a severidade da moral evangélica; despreza a natureza, e adianta-se. Em vão o mundo quereria estorvá-lo com as suas censuras e irrisões, ou engodá-lo com as suas honras e os seus prazeres; despreza o mundo, e adianta-se. Em vão a própria vontade com os seus caprichos e as suas inconstâncias, o gênio com os seus ímpetos e as suas impaciências, a preguiça com os seus dissabores, tudo pareça conspirar para o impedir de obrar o bem; despreza tudo, e adianta-se (5).

Examinemos aqui a nossa consciência: se não temos esta grande coragem, e porque não amamos; amemos a Deus de todo o nosso coração, e nada nos será difícil.

TERCEIRO PONTO

O Amor faz achar prazer e mérito em obrar bem

O prazer de agradar a Deus fazendo bem todas as coisas é um antegosto do paraíso. Tudo por amor de Vós, tudo para Vos agradar, diz a Deus a alma que ama; e está contente, exulta. Tudo por amor de Vós, repete ela de si para si na ação seguinte; e o seu prazer redobra, a sua alegria aumenta. Se encontra tribulações no seu caminho — e onde se não encontram? — mitiga-as, adoça-as com o seu amor (6). Olha-se a cruz como uma dádiva da mão de Deus, que só aflige porque ama, e vê-se na cruz um meio de salvação para nós: então abençoa-se e beija-se a sua mão sempre benigna, ainda quando fere. Depois ao prazer de obrar bem, o amor junta o mérito dos nossos atos: porque o motivo do amor realça admiravelmente o mérito; e no céu haverá uma imensa diferença entre as ações feitas por amor e as que tiverem tido por motivo a fé ou a esperança. Oh! Quão bom é fazer tudo por amor! É assim que obramos?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Plenitudo legis est dileftio (Rm 13, 10)

(2) Quid diligit… legem implevit (Rm 13, 8)

(3) Ubi amatur, non laboratur, aut si laboratur, labor amatur (Santo Agostinho)

(4) Amore nihil fortius… Amans volat, currit et laetatur (III Imitação 5, 3-4)

(5) Amans calcat omnia et transit

(6) Amor leve facit omne onerosum… et omne amarum dulce ac rapidum efficit (II Imitação 5, 3)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 288-291)