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Meditação para 7º Domingo do Tempo Comum

Dom Henrique Soares da Costa Bispo de Palmares
Por Dom Henrique Soares da Costa
Caríssimos irmãos no Senhor, mais uma vez a liturgia sagrada nos reúne para a santa Eucaristia dominical, na qual encontramos o Ressuscitado, alimentamo-nos da Sua Palavra e nutrimo-nos do Seu Corpo sagrado. Com efeito, Ele está conosco, Ele nos fala, Ele se dá a nós, totalmente!

Ouvir o Senhor, alimentar-se Dele – pensai bem -, significa abrir-se para Ele porque Nele cremos. É isto crer, meus caros: viver abertos de verdade para o Senhor, deixando que Ele plasme a nossa vida, ilumine os nossos caminho, vá invadindo e transformando toda a nossa existência, em todos os seus aspectos!

Se pensarmos bem, é a uma atitude assim que a Palavra de Deus hoje nos convida.

O Senhor Deus nos diz:

“Sede santos, porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”

Depois, no Evangelho, insiste:

“Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!”

Em outras palavras: Sede como o vosso Deus, deixai-vos invadir por Ele, transformar por Ele! Deixai que Ele seja o lastro, o alicerce, o fundamento, o rumo da vossa vida! Crer Nele e deixar-se invadir por Ele e ir assumindo Seus sentimentos, Seus pensamentos, Seus desígnios.

Observai como na primeira leitura o Senhor Deus afirma: “Eu sou o Senhor!” Se Eu sou o Senhor para vós, sede santos como Eu, tende um coração como o Meu: não guardes ódio no coração, não te vingues, repreende o teu próximo com bom coração, ama de verdade o próximo como a ti mesmo!

Compreendeis, caríssimos? Não podemos dizer que Deus é o Senhor e, ao mesmo tempo, vivermos do nosso modo, como se nós próprios fôssemos o nosso Deus! Alguém que viva do seu modo, seguindo seus próprios critérios, alguém que se julgue o senhor do bem e do mal e veja, analise, julgue e aja de acordo com seus próprios pensamentos, gostos e prioridades, independente da vontade de Deus – e essa vontade de Deus não é teórica, distante, mas nos aparece nas Escrituras interpretadas século após século pela Igreja com a autoridade de Cristo – alguém assim, mesmo que dissesse que acredita, não crê de verdade, não exprime na vida que Deus é seu Senhor!

Ah, caríssimos, que há tantos crentes de nome e ateus de vida! Há tantos, como diz o Apóstolo, “que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim será a perdição; o seu deus, é o ventre; e sua glória, eles a põem na própria ignomínia, já que só levam a peito as coisas da terra” (Fl 3,18-19). Viver na vontade do Senhor, abertos ao Senhor, Àquele Deus Santo que Se manifestou como Poder, Santidade, Sabedoria e Salvação na fraqueza, na maldição, na loucura e na perdição da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

A mesma ideia aparece na segunda leitura de hoje: vede como São Paulo nos convida ter plena consciência de que não nos pertencemos:

“Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?”

Somos santuário de Deus, isto é, somos templo, morada do Seu Santo Espírito, Aquele Espírito que Jesus morto e ressuscitado derramou em nossos corações desde o nosso batismo.

Então, como poderíamos viver do nosso jeito?
Como poderíamos seguir a lógica da moda, da maioria, do mundo atual?
Como poderíamos abraçar a louca e tola sabedoria do mundo atual?

Que palavras claras e escandalosas as do Apóstolo:

“Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus!”

O que significam tais palavras? É preciso deixar nossa lógica mundana para abraçar a lógica de Deus; e esta lógica – nunca esqueçamos, nunca deixemos de repetir – manifestar-se-á sempre e somente na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Era isto que o nosso bendito Salvador dizia no Domingo passado e continua a dizer neste hoje: a nossa religião tem que superar a dos escribas e fariseus!

Lembrai-vos ainda de oito dias atrás?

“Se a vossa justiça, isto é, se o vosso modo de praticar a religião, de cumprir os preceitos, não for maior que a justiça dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus!”

Em que nossa prática deve ser maior? No modo de viver a religião: um modo interior, nascido do amor a Deus e aos irmãos; um amor que deixa de verdade Deus entrar, habitar em nós como num templo, nos questionar, nos transformar; uma prática da religião suscitada, sustentada, impulsionada, animada pelo Santo Espírito!

Observai, amados no Senhor, como Jesus chama atenção não primeiramente para a letra do preceito, mas para o espírito, a intenção, a motivação com a qual se realiza o preceito:

“Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente”

– É justo, era a medida da justiça da Lei de Moisés e ainda hoje é a medida de todos os tribunais do mundo. Este preceito não é de vingança; é de justiça: um olho por um olho, um dente por um dente!

“Eu, porém, vos digo: não só justiça, mas misericórdia, generosidade, porque vosso Deus é assim!”

“Ouvistes o que foi dito: amarás a quem te ama, não tens obrigação para com teus inimigos. Eu, porém vos digo: amai a todos, amai sem esperar recompensa, porque o coração do vosso Pai no céu é assim!”

Abri-vos, pois, irmãos meus, abri-vos para Deus, Aquele Deus que vos deu tudo quando vos deu o Filho Único, o Amado, até a morte e morte de cruz!

Caríssimos, vivemos num mundo no qual o homem se colocou como o centro. Até mesmo na Igreja há pessoas que pensam num cristianismo à medida do homem e do gosto das modas atuais. Há cristãos, há teólogos que pensam assim:

“Se fizermos como o mundo espera, vamos atrair o mundo para a Igreja; se fizermos adaptações no cristianismo e na Igreja ele se tornará atraente…”

Não! É Cristo Quem atrai, é Cristo crucificado e ressuscitado o critério! Não se trata de atrair para a Igreja, mas para o Jesus vivo e verdadeiro, com toda a Sua verdade, com todo o Seu amor, com toda a Sua exigência que nos liberta, nos tira de nós e nos dá a Vida em abundância! O resto é pensamento humano, vazio e estéril!

Repito, caríssimos: o centro é Cristo Jesus que nos leva ao Pai: é Ele o critério, é Ele a medida, é Ele a única verdade! Quando nos deixamos transformar por Ele somos livres de verdade e de verdade damos glória a Deus.

Nunca esqueçais, amado meus:

“Tudo vos pertence, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”

A Ele a glória pelos séculos. Amém