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Maria, Rainha de Misericórdia para os miseráveis

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Meditação para o dia 07 de Maio. Maria, Rainha de Misericórdia para os miseráveis

Meditação para o dia 07 de Maio

Maria é Rainha de Misericórdia até para com os mais miseráveis

Podemos porventura temer que Maria desdenhe empenhar-se pelo pecador, por vê-lo tão carregado de pecados? Ou acaso nos devem intimidar a majestade e a santidade desta grande Rainha? Não, diz o Papa São Gregório; porque quanto ela é mais excelsa e mais santa, tanto é mais doce e mais piedosa para com os pecadores, que se querem emendar e a ela recorrem. A majestade dos reis e das rainhas causa temor e faz com que os súditos temam chegar à presença deles. Mas onde estão, pergunta São Bernardo, os infelizes que podem ter medo de apresentar-se a esta Rainha de misericórdia? Nela nada há de terrível nem de severo. É toda benigna e amável para os que a procuram. Maria não só dá quanto lhe pedimos, mas ela mesma nos oferece a todos nós leite e lã. Leite de misericórdia para animar-nos à confiança, e lã de refúgio para nos defender dos raios da justiça divina.

Narra Suetônio do imperador Tito, que ele não sabia negar favor algum a quem lho pedia. Acontecia- lhe às vezes prometer mais do que se podia esperar. Disto advertido, respondia que o príncipe não devia deixar ir descontente nenhum daqueles que admitisse à sua presença.

Tito assim o dizia; porém, muitas vezes ou mentia ou faltava à promessa. Nossa Rainha não pode, entretanto, mentir; pode sim alcançar quanto quiser para os seus devotos. Tão bom e compassivo lhe é o coração, que não deixa voltar de mãos vazias quem a invoca, observa Landspérgio.

“Mas como podereis vós, ó Maria, lhe diz São Bernardo, deixar de socorrer os infelizes, se vós sois a Rainha de misericórdia? E quem são os súditos da misericórdia, senão os miseráveis? Sois a Rainha da misericórdia e eu entre os pecadores ou o mais miserável. Logo, se eu, por ser o mais miserável, sou o maior dos vossos súditos, vós deveis ter mais cuidado de mim que de todos os outros”

Tende, pois, piedade de nós, ó Rainha de Misericórdia e cuidai em salvar-nos. Não digais, ó Virgem Santíssima que não vos é possível socorrer-nos, por ser grande a multidão de nossos pecados. Pois não há número de culpas que possa exceder ao vosso poder e amor. Tão grandes são eles! Nada resiste ao vosso poder. Pois nosso comum Criador, honrando-vos como sua Mãe, estima como sua a vossa glória. Alegra-se o Filho com vossa glorificação e atende a vossos pedidos, como se estivera saldando uma dívida. Quer o Santo dizer: Maria deve uma obrigação infinita ao Filho por havê-la destinado para sua Mãe. Contudo não se pode negar que também o Filho é muito obrigado a esta Mãe, por lhe ter dado o ser humano. Por isso, estando agora na sua glória, como em recompensa do que deve a Maria, Jesus a honra, especialmente ouvindo sempre todos os seus rogos.

Quanta não deve ser, pois, a nossa confiança nesta Rainha, sabendo nós quanto ela é poderosa perante Deus e cheia de misericórdia para com os homens! Tão misericordiosa é Maria, que não há na terra criatura que deixe de participar-lhe dos favores e das bondades. Assim o revelou esta mesma Virgem amabilíssima a Santa Brígida. Eu sou — lhe disse — Rainha do céu e Mãe de misericórdia; para os justos sou alegria e para os pecadores sou a porta por onde entram para Deus. Não há no mundo pecador tão perdido, que não participe de minha misericórdia; pois, por minha intercessão, todos são menos tentados do que, aliás, haviam de ser. Nenhum deles continuou dizendo, a não ser o que de todo esteja repudiado por Deus (o que se deve entender da última e irrevogável sentença sobre os réprobos), nenhum deles é tão abandonado por Deus, que não consiga reconciliar-se com ele e conseguir misericórdia, se implora a minha intercessão. Mãe de misericórdia me chamam todos. Em verdade, a misericórdia de Deus para com os homens me fez também tão misericordiosa para com eles. Infeliz, portanto, conclui a Virgem, infeliz será eternamente na outra vida, aquele que podendo nesta vida recorrer a mim, tão compassiva com todos, não me invoca e se perde!

Recorramos, pois, e recorramos sempre à proteção desta dulcíssima Rainha, se queremos seguramente salvar-nos.

Maria garantiu a Santa Brígida que é Mãe não só dos justos e inocentes, mas também dos pecadores que se querem emendar. Se, desejoso de emenda, recorre um pecador a esta Mãe de Misericórdia, oh! Como a encontra pronta para abraçá-lo e socorrer, ainda mais do que se fosse sua mãe corporal. Era justamente o que o Papa Gregório VII escrevia à princesa Matilde: desiste da vontade de pecar e achara Maria, eu o garanto mais pronta em amar-te do que tua própria mãe.

Portanto, quem aspira a ser filho desta grande Mãe, é preciso que primeiro deixe o pecado, e depois será sem dúvida aceito por filho.

Deus amaldiçoa quem com sua má vida e ainda mais com sua obstinação aflige essa boa Mãe.

Digo com sua obstinação. Pois, quando o pecador, embora ainda em pecados, se esforça por abandoná-los e para isso procura o socorro de Maria, esta Mãe não deixará de o socorrer e de faze-lo voltar à graça de Deus. Assim, um dia o ouviu Santa Brígida da boca de Jesus Cristo, que, falando com sua Santíssima Mãe lhe disse: Ajudas aquele que procura converter-se e a ninguém deixas retirar-se sem consolo. Enquanto, pois, o pecador está obstinado, Maria não pode amar. Mas se ele, achando-se nas cadeias de alguma paixão que o faz escravo do inferno, ao menos se encomendar à Virgem e lhe pedir, com perseverança e confiança, que o ajude a sair do pecado, sem dúvida esta boa Mãe lhe
estenderá a sua poderosa mão, quebrará suas cadeias, conduzi-lo-á pelas veredas da salvação.

EXEMPLO
O QUE PODE UMA MÃE!

O filho que teve a graça de possuir uma santa mãe é a mais feliz das criaturas. A mãe é o anjo de nossa vida. Ela tem um poder imenso sobre o destino dos filhos.

“O homem moral, dizia José De Maistre, está formado aos 11 anos, e, se não o foi dos joelhos de uma mãe, será uma desgraça para toda vida”

Realmente, a influência materna é decisiva e poderosa na formação do caráter e da alma dos filhos. O mundo hoje tem mais necessidade de mães santas do que de tratados e leis. O que aprendemos nos joelhos de nossa mãe, nos acompanha em toda a vida. O homem pode se desviar, pode ter a desgraça de haver desprezado os conselhos e as lágrimas de uma santa mãe. Porém, mais cedo ou mais tarde, a influência materna o leva ao bom caminho. Temos visto tantos exemplos e provas disto!

Tornou-se conhecido em todo o mundo o célebre caudilho Rafael dei Riego, autor de a revolta militar espanhola de Cabejas de San Juan, no ano de 1820. Preso e condenado este homem ao ver desvanecidas suas ilusões, sentiu o arrependimento de seus pecados, tocado pela graça divina. Quis se reconciliar com Deus e mostrou o desejo de se confessar a um padre dominicano do colégio de Santo Tomás, de Madri. Fora chamado o, sacerdote sem demora. Riego prostrado em terra e entre lágrimas fez a sua confissão com tal dor de haver ofendido a Deus e tais sinais de um arrependimento muito sincero, que o sacerdote não pôde conter as lágrimas.

O homem terrível, o caudilho perigoso e temido ali estava manso e humilde aos pés do ministro de Deus. Não temia a morte a que fora condenado e a esperava sem susto. Doía-lhe a alma o haver ofendido tanto a Deus em sua vida que fora um tecido de crimes hediondos. Perguntou-lhe o Padre:

— Diga-me, meu filho, que fez para merecer esta graça tão extraordinária do céu, esta contrição tão perfeita?

— Meu padre, responde Riego ainda a soluçar, toda a minha vida é um tecido de iniquidades, não me recordo de coisa alguma que me possa ter merecido esta graça da misericórdia divina.
Todavia, se alguma coisa posso atribuir a minha conversão é ao Rosário de Nossa Senhora!

— Como assim?

— Sim, padre, quando menino, minha santa mãe levava-me à igreja de São Domingos em Oviedo e ali de joelhos rezávamos o rosário de Nossa Senhora. Morreu minha mãe e antes da agonia ela me recomendou não deixasse o rosário. E apesar de minha vida de pecados nunca deixei de rezar o meu terço cada dia.

— Basta, meu filho, basta, exclama o padre e abre os braços e aperta Riego contra o peito, comovido. — Basta, meu filho, compreendo tudo. Maria Santíssima te salvou pelo Rosário. Dá graças a Deus por Ela e não tenhas mais tristeza por deixar este mundo enganador. Vamos! Um momento de dor e irás ter com tua Mãe da terra e tua Mãe do céu, no Paraíso! Duas Mães te esperam no céu! Parte para o céu meu filho!

No dia seguinte Riego subiu ao patíbulo, sereno, resignado, e, depois de haver beijado o crucifixo fora executado.

Nossa Senhora, Refúgio dos pecadores, salvara aquela pobre alma pelo seu rosário bendito.

E quanto pode o exemplo e a influência de uma boa Mãe! Ó, se as mães soubessem…

ORAÇÃO

Ó Mãe do santo amor, ó vida, refúgio e esperança nossa! Bem sabeis que vosso Filho Jesus Cristo, não contente de constituir-se nosso perpétuo advogado junto ao Eterna Padre, quis ainda que vos empenhásseis junto a ele para impetrar as divinas misericórdias. Ele dispôs que as vossas orações concorressem para nossa salvação, e deu-lhes tanto poder, que alcançam quanto pedem. Eu, miserável pecador, para vós me volto, ó esperança dos miseráveis. Espero, ó Senhora minha, que, pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela vossa intercessão, me hei de salvar. Assim a espero e confio tanto que, se a minha salvação eterna estivesse na minha mão, certamente eu a poria na vossa. Pois mais confio da vossa misericórdia e proteção, que de todas as minhas obras. Mãe e esperança minha, não me desampareis como eu mereço; olhai para as minhas misérias e movei-vos à piedade, socorrei-me e salvai-me.

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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 59-65)