Meditação para o dia 12 de Maio
Da prontidão de Maria em socorrer os que a invocam.
Maria ajuda em muitos apuros da vida
Como pobres filhos da infortunada Eva, somos réus da mesma culpa e condenados à mesma pena. Andamos errando por este vale de lágrimas, exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos afligem no corpo e no espírito. Feliz, porém, aquele que por entre tais misérias se dirige muitas vezes à consoladora do mundo, ao refúgio dos pecadores, à grande Mãe de Deus, Feliz quem a invoca e implora com devoção! Bem-aventurado o homem que me ouve e que vela todos os dias à entrada de minha casa (Pr 8 34). Bem-aventurado, diz Maria, quem ouve meus conselhos e permanece constantemente à porta de minha misericórdia, invocando minha intercessão e meu auxílio.
A Santa Igreja bem a nós, seus filhos, ensina com quanto zelo e quanta confiança devemos recorrer sem cessar a esta nossa amorosa protetora. Pois é ordem sua que se lhe tribute um culto particular. Durante o ano celebra muitas festas em sua honra e prescreve que um dia da semana lhe seja especialmente dedicado. Exige também que, diariamente no Ofício Divino, todos os eclesiásticos e religiosos a invoquem em nome do povo cristão, e que, três vezes ao dia, os fiéis a saúdem ao toque das Ave-Marias.
Bastaria, para isso, somente ver e ouvir que em todas as calamidades públicas a Santa Igreja sempre quer que se recorra à divina Mãe com novenas, com orações, com procissões e visitas às suas igrejas e imagens. Isto mesmo quer Maria que nós façamos. Que sempre a invoquemos, que sempre lhe peçamos, não por necessitar dos nossos obséquios, nem das nossas honras tão inadequadas aos seus merecimentos, mas sim para que, à medida da nossa devoção e da nossa confiança, possa melhor socorrer-nos e consolar-nos. Procura na frase de São Boaventura, os que dela se aproximam devota e reverentemente; ama-os, nutre-os, aceita-os por filhos.
Maria ajuda Pronta e Alegremente
Para o mesmo Santo, Rut foi figura de Maria. Pois seu nome significa “aquela que vê e que se apressa”. Vendo Maria nossas misérias, se apressa a fim de nos socorrer com a sua misericórdia. Novarino acrescenta que nela desconhece demoras o desejo de fazei-nos bem; e porque não é avara guardadora de suas graças, não tarda, como Mãe de misericórdia, em derramar sobre os seus servos os tesouros de sua benignidade.
Oh! Como é pronta esta boa Mãe para valer a quem a invoca! Explicando a passagem dos Cânticos (4, 5), diz Ricardo de São Lourenço que Maria é tão veloz, em exercer misericórdia para com quem lhe pede como são velozes em suas corridas os cabritos. O mesmo autor assevera-nos que a compaixão de Maria se derrame sobre quem a pede, ainda que não medeiem outras orações mais que a de uma breve Ave-Maria. Pelo que, atesta Novarino que a Santíssima Virgem não só corre, mas voa em auxílio de quantos a invocam. No exercício de sua misericórdia, ela imita a Deus, que também voa sem demora em socorro dos que o chamam, porque é fidelíssimo no cumprimento da promessa: Pedi e recebereis (Jo. 16 24). Assim afirma Novarino. Do mesmo modo procede Maria. Quando é invocada, logo está pronta para ajudar a quem a chamou em seu auxílio.
E com isso ficamos entendendo quem seja aquela mulher do Apocalipse (12, 14), a quem se deram duas grandes asas de águia para voar ao deserto. Nelas vê Ribeira o amor com que Maria se eleva sempre para Deus. Mas o Beato Amadeu diz que estas asas de águia significam a presteza com que Maria, vencendo a velocidade dos serafins, socorre sempre os seus filhos.
A isto corresponde também o que lemos no Evangelho de São Lucas. Quando Maria foi visitar Santa Isabel e cumular de graças aquela família inteira, não fez a viagem com vagar, mas sim com presteza:
“E naqueles dias, levantando-se, Maria foi com presteza às montanhas” (Lc 1, 39)
De seu regresso não lemos a mesma observação. Diz por isso, os Cânticos dos Cânticos:
“As suas mãos são de ouro, feitas ao torno” (5, 14)
É a seguinte a explicação dada a esta passagem dada a esta passagem por Ricardo de São Lourenço: Assim como o trabalho do torno é mais fácil e pronto eu os demais, também Maria é mais pronta que todos os Santos em ajudar os seus devotos. Vivíssimo é o seu desejo de consolar-nos. Por isso apenas por ela chamamos logo afável aceita às orações e socorre. Tem razão São Boaventura ao chamá-la de saúde dos que a invocam, significando que basta invocar esta divina Mãe para ser salvo. Sempre a encontram prestadia para ajudar, quantos a ela se dirigem, reza a sentença de Ricardo de São Lourenço. Mais deseja esta grande Senhora fazer-nos favores do que nós os desejamos receber, assegura Bernardino de Busti.
Nem ainda a multidão de nossos pecados deve diminuir nossa confiança, quando nos prostramos aos pés de Maria. Ela é a Mãe de misericórdia, mas a misericórdia não tem razão de ser onde não há misérias para aliviar. Uma boa mãe não hesita em tratar do um filho coberto de chagas repugnantes, ainda que lhes custe abnegações e trabalhos, observa Ricardo de São Lourenço. Da mesma forma também não sabe nossa boa Mãe abandonar-nos, quando por ela chamamos por mais horripilantes que sejam os pecados de que nos precisa curar. E justamente isto quis Maria significar, quando se fez ver a Santa Gertrudes, estendendo o seu manto para cobrir com ele todos os que a ela recorriam. Ao mesmo tempo entendeu a Santa que todos os anjos têm cuidado de defender os devotos de Maria contra os assaltos do inferno.
É tal a compaixão desta boa Mãe e tanto o amor que nos consagra que nem espera por nossas orações.
“Ela se antecipa aos que a desejam” (Sb 6, 14)
EXEMPLO
Havia no mosteiro de Reichensberg um cônego regular, por nome Arnaldo, muito devoto da Santíssima Virgem. Estando para morrer, chamou, após a recepção dos santos sacramentos, os religiosos e pediu-lhes que não o abandonas¬sem naquele último momento. Apenas isto dissera, começou a tremer, a revirar os olhos e a suar frio.
“Irmãos — perguntou com voz trêmula — não vedes os demônios que me querem levar para o inferno? Invocai meus irmãos, invocai por mim o auxílio de Maria; eu nela confio; ela me fará triunfar”
Rezaram então os presentes a Ladainha da Mãe de Deus, e às palavras “Santa Maria, rogai por ele”, disse o moribundo:
“Repeti o nome de Maria, pois já estou perante o tribunal de Deus”
Parou um pouco e depois acrescentou:
“É verdade, eu cometi este pecado, mas também dele fiz penitência”
Dirigindo-se à Santíssima Virgem, suplicou:
“Ó Maria, assisti-me e eu serei salvo”
De novo o assaltaram os demônios, mas Arnaldo se defendia com o santo Crucifixo e com a invocação do nome de Maria. Assim passou a noite inteira. Ao alvorecer, completamente sereno, exclamou com alegria:
“Maria, minha Senhora e meu refúgio, obteve-me o perdão e a salvação”
Olhando em seguida para a Virgem que o convidava a segui-la, disse:
“Já vou Senhora, já vou”
E fez um esforço para levantar-se. Não podendo, contudo segui-la com o corpo, seguiu-a com a alma, ao reino da glória eterna, expirando docemente.
ORAÇÃO
Aqui está aos vossos pés, ó Mãe de meu Deus e minha única esperança, um miserável pecador que tantas vezes por suas culpas se tem tornado escravo do inferno. Reconheço que de mim triunfou o demônio, porque não recorri ó meu refúgio, ao vosso auxílio. Se eu vos tivesse chamado sempre em meu socorro, se vos houvesse invocado, jamais teria perecido. Eu espero, amabilíssima Senhora, por vossa intercessão ter já saído das mãos do demônio e ter obtido de Deus o perdão. Receio, entretanto, vir para o futuro e cair novamente em pecado. Sei que meus inimigos não perderam a esperança de tornar-me a vencer e me estão preparando novos assaltos e tentações. Ah! Minha Rainha e meu refúgio, ajudai-me, tornai-me sob o vosso manto e nunca permitas que eu torne a ser presa do inferno. Sempre que haveis de valer e dar vitórias todas as vezes que vos invocar.
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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 90-95)