Meditação para a Segunda-feira da 2ª Semana depois da Páscoa
SUMARIO
Meditaremos sobre os tocantes cuidados de Jesus Cristo, nosso Bom Pastor:
1.° Em nos proteger e nos defender contra os inimigos da nossa alma;
2.° Em sarar todas as nossas enfermidades.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De encomendarmos muitas vezes a Jesus Cristo as necessidades da Igreja e da paróquia onde nascemos;
2.° De O invocarmos debaixo do título de Bom Pastor nas nossas tentações e tribulações, e de nos apresentarmos a Ele como um enfermo que pede a sua cura, dizendo-Lhe as palavras do Salmista, que nos servirão de ramalhete espiritual:
“Sarai a minha alma porque pequei contra vós” – Sana animam meam quia peccavi tibi (Sl 40, 5)
“Dizei à minha alma, eu sou a tua salvação” – Dic animae meae: Salus tua egosum (Sl 36, 3)
Meditação para o Dia
Adoremos Jesus Cristo, como Bom Pastor, vigiando dia e noite sobre as Suas queridas ovelhas para as salvar da boca dos lobos, que quisessem devorá-las, ou para as curar das suas enfermidades. Oh! Quão bem merecem tantas atenções e tanto zelo pela salvação das nossas almas todo o nosso reconhecimento e amor!
PRIMEIRO PONTO
Tocantes cuidados de Jesus Cristo em nos proteger e nos defender contra os inimigos da nossa salvação
O nosso primeiro inimigo é o demônio.
O pecado tinha-nos vendido a ele, e só podíamos ser resgatados à custa do sangue (1). Jesus Cristo não hesita diante de um tal resgate. Até à Sua vinda, tinham sido vistos pastores defender o seu rebanho com a mão e com a voz; mas dar o seu sangue e a sua vida pelas suas ovelhas, e o que nunca se havia visto. Foi a glória exclusiva do nosso Bom Pastor amar as suas ovelhas até este ponto (2). Ele tinha dito: O Bom Pastor dá a própria vida pelas ovelhas; Ele deu-Se efetivamente. Derramou o Seu sangue para nos remir; esse sangue, como o do Cordeiro pascal, preservou-nos do gladio do anjo exterminador, e o Apóstolo pôde dizer aos fiéis de todos os tempos:
“Havíeis sido resgatados, não por ouro, nem por prata, mas pelo precioso sangue do Cordeiro imaculado” (1Pd 1, 18)
O nosso segundo inimigo são os homens assanhados pela paixão e pelo ódio contra a Igreja e seus filhos.
Aqui o Bom Pastor não nos fez mais falta que no caso precedente. Notemos com admiração e amor tudo o que fez. Há dois mil anos que não deixa de proteger a Sua Igreja, o Seu prezado rebanho, que Ele adquiriu à custa de todo o sangue das Suas veias. Defende-a contra o gladio dos tiranos e o ódio dos ímpios, contra os escândalos do cisma e da heresia, contra o espírito arrazoador de uma ciência vã e orgulhosa, que põe em dúvida toda a verdade; e conserva-a sempre pura e santa, sempre católica e apostólica, sempre a mesma no meio das opiniões que mudam, dos impérios que desabam. Coisa admirável! Não somente protege todo o corpo, mas cada membro em particular. A sua Providência vela sobre cada um com mais ternura que a mais terna mãe sobre o seu filho; e podemos dizer com o Salmista em um êxtase de confiança e de amor:
“O Senhor me governa; nada me faltará” – Dominus regit me, et nihil me mihi deerit (Sl 22, 1)
“Colocou-me em um lugar de pastos; e me conduziu junto a uma água de refeição” – In loco pascuae ibi me collocavit, super aquam refectionis educavit me (Sl 22, 2)
“Ainda quando andar no meio da sombra da morte, não temerei males, porque ele está comigo” – Et si ambulavero in medio umbra mortis, non timebo mala, quoniam tu mecum es (Sl 22, 4)
“A sua vara e o seu báculo me consolarão” – Virga tua et baculus tuum, ipsa me consolata sunt (Sl 22, 4)
Que motivos de reconhecimento pelo passado, de confiança para o futuro, de amor para o presente! Expandamos estes sentimentos do fundo dos nossos corações para com Jesus, o Bom Pastor.
SEGUNDO PONTO
Tocantes cuidados de Jesus, o Bom Pastor, em sarar as enfermidades das Suas ovelhas
Ai! Nós somos todos enfermos no entendimento, que é cheio de ignorância, de preconceitos e de erros, sujeito a milhares de desvarios e de alucinações; enfermos no coração, que contém o gérmen de todos os vícios e o princípio de todas as paixões; enfermos no corpo, que se revolta contra a lei e embota o juízo. ó Bom Pastor! Curai-nos, ou estamos perdidos; Vós dissestes outrora pela boca de Ezequiel:
“Eu ligarei os membros às minhas ovelhas, que tinham algum quebrado, e fortalecerei os que estavam fracos” (Ez 34, 16)
Vós cumpristes a profecia apenas chegastes à terra, e assinalastes todos os Vossos passos com curas e benefícios (3); os cegos viram, os coxos andaram, os leprosos foram purificados, os mortos restituídos à vida. Todos os dias ainda, quantas chagas e quantos males curados pela vossa graça e virtude vivificante dos Vossos Sacramentos! Quantas, ovelhas fracas e frouxas fortalecidas! Quantos leprosos limpos, quantos mortos ressuscitados! Ó celestial médico! Vós fizestes do Vosso Sangue um banho precioso, em que a nossa alma acha a cura, se está enferma, um acréscimo de saúde e de força, se já está sã. Aos méritos deste divino Sangue juntais os exemplos da vossa vida, os conselhos do Vosso Evangelho, os ensinos da Vossa Cruz e das Vossas sagradas Chagas, todos os meios de salvação que a Vossa Igreja e os Seus ministros põem cada dia à nossa disposição. Ah! Se com tantos recursos estamos ainda enfermos, é por nossa culpa. Mil graças, Bom Pastor, por nos terdes conservado tantos remédios contra as nossas enfermidades!
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Sine sanguinis effusione non fit remissio (Hb 9, 22)
(2) Propter nimiam caritatem suam qui dilexit nos (Ef 2, 4)
(3) Pertransiit benefaciendo et sanando omnes (At 10, 38)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 286-289)