Meditação para a Segunda-feira da Quinquagésima
SUMARIO
Para entrarmos no espírito da Igreja, durante estes dias de adoração e de expiação, meditaremos:
1.° Quanto a ingratidão dos homens faz sobressair o amor de Nosso Senhor na Eucaristia;
2.° Que deveres nos resultam de tanto amor desconhecido.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De fazermos hoje uma visita de retratação ao Santíssimo Sacramento por todas as desordens do mundo, durante estes três dias de licença;
2.° De vivermos mais santamente hoje por espírito de reparação dessas desordens.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Davi:
“Eu vi as prevaricações do mundo e afligi-me” – Vidi praevaricantes, et tabescebam (Sl 118, 158)
Meditação para o Dia
Transportemo-nos pelo pensamento para diante do altar, em que, Jesus Cristo está exposto durante estes três dias. Unamo-nos aos anjos do santuário, que procuram com os seus respeitos reparar as prevaricações da terra, e entreguemo-nos a sentimentos de adoração, de amor, de reparação e de expiação.
PRIMEIRO PONTO
Quanto a ingratidão dos homens faz sobressair o amor de Jesus Cristo na Eucaristia
Quando estamos diante do Santíssimo Sacramento, não compreendemos bastantemente o que custou a Nosso Senhor descer até esse ponto. Foi-Lhe necessário partir do seio de seu Pai, onde estava em Deus, onde era Deus, vir à terra e ser nela recebido, refugiar-Se em uma estrebaria, e não escapar à morte senão fugindo; foi-Lhe necessário, depois de trinta anos de uma vida laboriosa e oculta, depois de três anos empregados em evangelizar os povos, fazendo-lhes bem e não recebendo deles senão a calúnia, o ultraje, o opróbrio e a morte, sobreviver a Si mesmo pela instituição do Sacramento da Eucaristia, a fim de ficar no meio dos homens, que O tinham tratado tão indignamente; e depois desse tempo, ó prodígio de amor! Quantas infandas Lhe tem sido necessário sofrer! Quando institui o augusto sacramento do altar, é sepultado vivo na companhia do demônio em uma consciência manchada, na alma de Judas. Desde então, quantas profanações, quantos insultos tem tido que sofrer! O herege renega-O, o mau cristão falta-Lhe ao respeito, o ímpio blasfema-O; a cobiça, para se apoderar do vaso de ouro em que está depositado, lança-O ao chão, calcá-O aos pés.
Ó Senhor, quão caro Vos custa o Vosso amor! Retomai o Vosso voo para o céu, e subtrai-Vos a tantos ultrajes.
— «Não, não o farei, amo muito os homens para que me separe deles. Prefiro sofrer todas as ingratidões e profanações a privar uma só alma da felicidade de me receber e de me possuir»
Por conseguinte, passa através dos séculos sempre e por toda a parte desconhecido, salvo de um pequeno número de almas que sabem apreciar o Seu amor. Durante todo o caminho, é indignamente tratado, ora abandonado nos tabernáculos, ora desprezado e insultado; finalmente, chega ao nosso coração pela comunhão, carregado com dezoito (vinte) séculos de profanações; era o fim a que Ele aspirava com todo o ardor; atingiu-o, está em nós, pertence-nos, está contente. Quanto mais tem padecido no trajeto, mais amor nos mostra, é tudo o que Ele desejava.
Ó amor, quão incompreensível és! Ó amor, ó amor! Poderemos nós jamais apreciar-Te como mereces? Poderemos bastantemente agradecer-Te, e amar-Te?
SEGUNDO PONTO
Deveres que nos resultam de tanto amor desconhecido
1.° Devemos sentir profundamente os ultrajes feitos a um Deus tão terno, principalmente os ultrajes que Ele recebe até durante estes dias de reparação e expiação. Davi e Jeremias desfaziam-se em pranto, caiam em delírio. consumiam-se de dor, à vista das prevaricações do antigo povo; que seria pois, se vissem as prevaricações muito mais culpáveis do nosso povo? Santa Tereza não podia pensar nisto sem soltar gritos de dor e de aflição. Independentemente das irreverências e das profanações, o só fato do abandono dos tabernáculos a punha fora de si. Reunia as suas religiosas, e dizia-lhes:
«Minhas irmãs, o Amor não é amado; amemos o Amor, que não é amado»
Todos os santos têm sentido a mesma dor, vendo o amor de Jesus, na Eucaristia, desconhecido pela ingratidão dos homens; e cada notícia de uma profanação lhes era como que uma punhalada, que lhes traspassava a alma.
2.° Devemos reparar tantos males com fervorosas retratações públicas ao Santíssimo Sacramento, oferecer-Lhe em expiação todos os nossos respeitos, e todos os dos anjos e santos, todas as nossas ações e a nossa própria vida, protestar-Lhe que seria para nós uma felicidade derramar o nosso sangue para Lhe evitar a menor ofensa ou para a reparar, e finalmente viver hoje mais santamente do que de ordinário, visitar o Santíssimo Sacramento com mais amor, comungar para o futuro com mais fervor, assistir ao Santo Sacrifício mais devotamente e mais frequentes vezes.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 72-74)