Muitos sustentam esta tese: “Aceito a Jesus Cristo, mas não a Igreja Católica” ou este simples jargão que tornou-se muito comum “Só Jesus Cristo salva!”. Tornando, portanto, a Igreja em algo secundário, descartável e não necessário. E a partir deste tipo de pensamento, podemos nos indagar ainda:
- É preciso frequentar a Igreja para se salvar?
- Qual a relação entre Jesus Cristo e a Igreja?
- É possível alguém se salvar sem a Igreja?
- É possível alguém se salvar sem nunca ter ouvido falar em Jesus Cristo?
- E alguém, que conhecendo a Jesus Cristo e a Igreja instituída por Ele, pode conseguir a Salvação?
- A Salvação fora da Igreja Católica Apostólica Romana é possível?
Examinemos a Palavra de Deus para buscar as respostas destas questões, tendo sempre como pano de fundo a relação entre Jesus Cristo e Sua Igreja.
As Origens da Santa Igreja Católica
1. A Igreja Católica quando foi Projetada
Antes de se construir um edifício, o primeiro passo que os arquitetos e engenheiros precisam fazer é o Projeto, ou seja, precisam projetar para alcançar este objetivo. Portanto, nossa primeira pergunta vem a ser: onde nasceu o projeto da Igreja Católica?
A resposta é dada pelo Catecismo da Igreja Católica: o projeto da Igreja Católica não está no tempo, e sim, na eternidade.
Deus Todo-Poderoso quis a Igreja Católica antes que o mundo fosse criado, pois o querer de Deus está nEle e Ele é eterno. Pois bem, a eternidade precede o tempo; antes do tempo está a eternidade, e na eternidade está Deus, porque Deus é eterno. E no ser de Deus está o querer de Deus. Aquilo que Deus concretizou, aquilo que Deus realizou, aquilo que Deus operacionalizou no tempo já estava no Seu coração antes que o mundo fosse criado.
Vejamos como nos diz o Catecismo:
“O eterno Pai, que pelo libérrimo e insondável desígnio da sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens participação da vida divina», para a qual a todos convida em seu Filho: «E, aos que creem em Cristo, decidiu convocá-los na santa Igreja». Esta «família de Deus» constituiu-se e realizou-se gradualmente ao longo das etapas da história humana, segundo as disposições do Pai: de facto, a Igreja «prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga Aliança, foi constituída no fim dos tempos, e manifestada pela efusão do Espírito Santo, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos (CIC 759)”.
Este trecho do Catecismo nos explica a razão pela qual Deus cria as coisas, sejam elas visíveis ou invisíveis. A razão é uma só: Deus às criou para que as criaturas pudessem conhecê-Lo, adorá-Lo, amá-Lo, glorificá-Lo, servi-Lo e para que participem da Sua vida.
Ora, se Deus cria com a finalidade de salvar, Ele já tem uma intenção. Santo Tomás de Aquino diz que a finalidade é a primeira na ordem da intenção. E a criação, é a ultima na ordem da execução. Então, primeiro Deus tenciona, Ele tem uma intenção, um projeto, um plano. Tudo começa com um motivo: a salvação da criação, para que ela participe da Sua vida, como dito acima, onde o único motivo é o amor. Deus cria por amor em vista da Salvação. E a Salvação é o ato supremo de amor dessa criação, de tudo aquilo que Deus criou.
Pois bem, na ordem da execução, nós temos o Ato Criador de Deus narrado pelo Livro do Gênesis, onde cria todas as coisas visíveis e invisíveis; a última criatura, Ele decide que seja feita à Sua imagem e semelhança. Constitui e dota toda a criação com leis, no qual a torna ordenada e regida sob a Providência Divina, tendo assim um sentido, uma meta bem precisa. Existe uma harmonia profunda em tudo aquilo que Deus criou. Existem leis que Deus conferiu às criaturas para que elas fossem regidas por essas leis e a lei última é a Providência Divina que conduz, que protege, que guarda e que rege tudo.
Depois da Criação, nós temos uma prefiguração, ou seja, nós temos figuras antecipadas no começo da criação que apontam para aquilo que um dia nós entenderemos como Igreja. Como exemplo, podemos pegar dois sinais prefigurativos da Igreja, a primeira contida no Livro do Gênesis 3, após o pecado do homem, onde ambos (Adão e Eva) desobedeceram a Deus, nos versículos 14 e 15, no diálogo do Senhor com a serpente, encontramos uma profecia:
“Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar.” (Gn 3, 14-15)
De que nosso Deus estava falando quando afirmou isto?
Nossa resposta se encontra no capítulo 12 do último livro da Bíblia, o Apocalipse, onde esta mulher é a Igreja. Uma mulher vestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos pés, coroada de estrelas, estava grávida e prestes a dar à Luz. O dragão colocou-se diante da mulher – sabemos que este dragão é a primitiva serpente, satanás – esta mulher foi protegida por Deus, levada ao deserto, onde foi alimentada por 1.260 dias. O dragão travou um combate contra Miguel e seus Anjos; já não se encontrou lugar para ele no céu e partiu para perseguir a mulher e àqueles que são a descendência da mulher. Eis aí uma prefiguração da Igreja nas Palavras do Senhor Deus.
O segundo sinal nós encontramos no episódio do Dilúvio.
O Senhor Deus determina que Noé construa uma Arca, dentro do qual devia colocar um casal de todos os animais que ele encontrasse na face da terra. E então, Deus envia uma chuva torrencial, chovendo sobre a terra durante 40 dias e somente aqueles que estavam dentro da Arca se salvam. O apóstolo Pedro, em uma de suas cartas no Novo Testamento, vai dizer que a Arca é símbolo da Igreja, símbolo do Batismo que agora nos salva (2 Pd 3, 21).
Portanto, como pudemos ver, lá nos primórdios da Revelação nós tínhamos algumas figuras antecipadas daquilo que um dia virá a ser chamada Igreja.
2. A Igreja Católica quando foi Prefigurada
Também recorreremos ao texto magistral do Catecismo para dar início ao nossos estudos da prefiguração da Igreja Católica, vejamos:
“O mundo foi criado em ordem à Igreja», diziam os cristãos dos primeiros tempos (cf Hermas, vis. 2, 4, 1). Deus criou o mundo em ordem à comunhão na sua vida divina, comunhão que se realiza pela “convocação” dos homens em Cristo, e esta “convocação” é a Igreja. A Igreja é o fim de todas as coisas (cf. S. Epifânio, haer. 1, 1, 5). Até as próprias vicissitudes dolorosas, como a queda dos anjos e o pecado do homem, não foram permitidas por Deus senão como ocasião e meio de pôr em ação toda a força do seu braço, toda a medida do amor que queria dar ao mundo:
«Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, do mesmo modo a sua intenção é a salvação dos homens e chama-se Igreja (Clemente de Alexandria, paed. 1, 6)” (CIC 760)
Prefiguração. Deus quis a Igreja e isso não se encontra no tempo, mas na eternidade. Deus desejou a Igreja. É no projeto de Deus que está a origem da Igreja. Deus cria e coloca na História e nos acontecimentos dos homens, prefigurasse. Pre – antes, Figura – é uma imagem, uma imagem parca, uma imagem ainda muito remota; e Deus vai preparando a humanidade para concretizar aquele desejo que já estava em Seu coração, antes que o mundo fosse criado.
Este trecho destacado do Catecismo faz referência a certos acontecimentos, a certas vicissitudes que são narradas em tons muitas vezes dramáticos no Antigo Testamento, como o pecado do homem; a inclinação do homem ao pecado e todas as consequências do pecado; na história de Israel: dores, aflições, traições, guerras, idolatrias. Toda a história da humanidade ali representada numa nação chamada Israel, escolhida por Deus em Abraão, traduz perfeitamente as vicissitudes, as angustias, as perturbações, os dramas, as aflições da humanidade, desde o pecado de Adão até os tempos atuais. Porém, mesmo tudo isto não é capaz de impedir o plano de Deus de se concretizar.
Em tudo isso, foi permitido por Deus, e quando Deus permite, significa que Deus criou o homem livre e não o impede de fazer o mal e nem o força de fazer o bem, pois dotou o homem de uma prerrogativa impressionante: a capacidade de decisão. E não poderia ser diferente, uma vez que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, e Deus é livre e não age coagido por nada e nem por ninguém. O homem é imagem e semelhança de Deus, portanto, em tudo isso, Deus respeita profundamente a “autonomia” do homem, o poder que o homem tem de decidir, seja para o bem, seja para o mal, de reger e conduzir a si ou os outros, para a felicidade ou para a infelicidade.
3. A Igreja Católica quando foi Preparada
Tudo para ser bem feito, necessita ser preparado. Bem sabemos que nós apreciamos com mais gosto e fervor quando algo nos é preparado antes ao invés de algo feito às pressas. E olhando para a Santa Igreja, não é diferente: Deus prepara a humanidade em vista da Igreja.
A preparação da Igreja durou 1.800 anos, remontando os tempos de Abraão e a Aliança, e para Deus este tempo não é nada, – vale ressaltar que ao analisarmos o agir de Deus, tomemos cuidado para não o submetermos aos nossos critérios caducos, infantis e imperfeitos, – pois Deus é o Senhor do Tempo, Ele é o Alfa e Ômega, Aquele que era, Aquele que é e Aquele que vem. E sua prefiguração já está nos primórdios:
“Faça-se a Luz!” (Gn 1, 3) disse o Senhor Deus à primeira criatura que foi feita e isto é uma alusão à frase de Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho de São João: “Eu Sou a Luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12).
Outra prefiguração se encontra também em Gênesis: “O Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 2), onde no dia da Páscoa, Jesus apresenta-se diante dos Apóstolos, saúda-os e sopra “sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23). Perceba: o que Deus disse no começo, volta a dizer na plenitude dos tempos com relação à Igreja! Coincidência? Não, isto não existe na Bíblia; isto é Providência.
Vejamos o que diz o Catecismo a respeito da Igreja Preparada na Antiga Aliança:
A reunião do povo de Deus começa no instante em que o pecado destrói a comunhão dos homens com Deus e entre si. A reunião da Igreja é, por assim dizer, a reação de Deus ao caos provocado pelo pecado. Esta reunificação realiza-se secretamente no seio de todos os povos: «Em qualquer nação, quem O teme e pratica a justiça, é aceite por Ele» (Act 10, 35) (156). (CIC 761)
Ou seja, Deus começa a por em ato aquilo que Ele havia projetado desde toda a eternidade. Perceba como é maravilhosa e curiosa a ação de Deus: do mal cometido pelo homem, Deus vai tirar um bem maior! Lembrando-nos aquilo que diz em Romanos:
“que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios” (Rm 8, 28)
E Santo Agostinho vai chamar o pecado original de feliz culpa, pois, graças a este pecado veio tão grande Redentor!
A reação de Deus ao pecado original é imediata: “porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn 3, 15). Dado isto, Deus inicia Sua preparação remota em Abraão e sua descendência, constitui um povo, educando-o e preparando-o, tirando-o de sua ignorância a cerca da vontade do próprio Deus – visto que Abraão e o povo naquela época eram politeístas – e com muita paciência e pedagogia, Deus conduz este povo ao amadurecimento e compreensão de seus preceitos.
A Prefiguração das 12 Tribos de Israel
“Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos” (Mt 1, 2), os quais posteriormente tornar-se-ão os 12 patriarcas das doze tribos de Israel. Número este importante gravarmos, pois na plenitude dos tempos, Jesus vai chamar para consigo não 11 ou menos e nem 13 ou mais, mas apenas 12 Apóstolos.
Repare na prefiguração: Deus quis que Jacó, que passou a se chamar Israel (Gn 35, 10) tivesse 12 filhos. E ao olharmos o Livro do Apocalipse, o número dos eleitos – simbolicamente – será 144 mil (Ap 7, 4). Mas o que isto significa?
144 mil é a simbologia de 12 (tribos do antigo Testamento) x 12 (Apóstolos do Novo Testamento) x 1.000 (Número que representa grande quantidade).
Nada acontece por acaso. E Deus vai estabelecendo pacientemente os alicerces, a estrutura que Nosso Senhor Jesus Cristo usará na Constituição da Igreja.
O Episódio do Egito e Moisés
Temos neste episódio a escravidão do povo de Israel, a perda da liberdade e da autonomia… Prefiguração do Pecado, da vida de trevas, onde a humanidade torna-se sujeita a Satanás e suas ardilosas e astuciosas perfídias de enganação e embuste.
Depois de um longo tempo, Deus suscita um homem para a libertação deste povo: Moisés, no qual se apresenta diante do faraó e o Senhor manda 10 pragas para o Egito e somente na décima praga, o coração do faraó permite que o povo saia em direção à terra prometida. Perceba a prefiguração: tal momento é símbolo do Êxodo, da Páscoa que Jesus vai operar com o Seu mistério de Paixão, Morte e Ressurreição.
Depois Israel, 40 anos no Deserto, – prefigurando os 40 dias que Jesus passou no deserto sem comer e sem beber -, símbolo da purificação e sofrimento, murmura contra o Senhor e é castigado duramente. E uma série de acontecimentos trágicos e também gloriosos perdura ao longo desta história numa oscilação de intimidade e rejeição para com Deus, porém, Deus ama Seu povo e mesmo quando o castiga, revela sempre Sua bondade e compaixão para com este povo.
O Exílio de Israel e as Profecias acerca do Messias
Após o Exílio de Israel, na antiga Pérsia e Babilônia – povos estes que eram hostis a Israel -, por meio de Ciro o Rei da Pérsia, sucumbe o império da Babilônia e é chamado de servo de Deus, “o seu ungido” (Is 45, 1) e através de Ciro, Deus traz o povo para sua terra. Povo este que após esta experiência do exílio, torna-se mais madura e voltam a confiar no Senhor. Também é neste período que se multiplicam as profecias acerca do Messias, como por exemplo, as profecias relacionadas á purificação e reparação dos pecados e iniquidades dos homens através do Seu sofrimento (profecias do Servo Sofredor, capítulos 52 e 53 de Isaías); “fomos curados graças às suas chagas” (Is 53, 5).
A preparação já caminha para um desfecho altamente positivo!
Vejamos as profecias de Isaias:
O Messias se chamará Emanuel:
“Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (Is 7, 14).
O Espírito dos 7 Dons:
“Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor” (Is 11, 1-2).
Jesus e o cumprimento das profecias: “o espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade; proclamar um ano de graças da parte do Senhor” (Is 61, 1-2), profecia esta lida e cumprida por Nosso Senhor Jesus Cristo como nos conta o Evangelho de São Lucas:
“Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.
E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21).
Nada acontece por acaso! É impressionante quando lemos o Antigo Testamento à luz do Novo Testamento: como tudo converge! As profecias foram precisas, Deus preparou a Igreja e os indícios estão no Antigo Testamento.
4. A Igreja Católica quando foi Institucionalizada, Constituída
No início de sua vida pública, Nosso Senhor Jesus Cristo cuidou para que toda estrutura, alicerces, aspectos e elementos constitutivos da Igreja fossem estabelecidos. E, não há um único momento determinado no qual podemos dizer: “Ah! A partir deste momento Jesus fundou Sua Igreja”. Não! Mas a fundação da Igreja, que parte do próprio Cristo Jesus – que é a Cabeça da Igreja, Esposo da Igreja e Fundador da Igreja – é uma constituição contínua.
Olhemos o que o Catecismo da Igreja Católica tem a nos dizer a respeito da Igreja, instituída por Jesus Cristo:
“Pertence ao Filho realizar, na plenitude dos tempos, o plano de salvação do seu Pai; tal é o motivo da sua «missão» (163). «O Senhor Jesus deu início à sua Igreja, pregando a boa-nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras» (164). Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou na terra o Reino dos céus. A Igreja «é o Reino de Cristo já presente em mistério» (165).” (CIC 763)
Note a importância da relação entre a Igreja e o Reino dos Céus. Relação esta que é ressaltada por Nosso Senhor Jesus Cristo por meio das diversas parábolas. Interessante notarmos que, em sua maioria, as parábolas se iniciam com “O Reino dos Céus é semelhante a…” ou “O Reino dos Céus é como…”. Jesus instaura o Reino. Ele é o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores (Ap 19, 16). Reino dos Céus, Reino de Deus e Reino de Cristo são expressões sinônimas, porque o Pai reina em Cristo; porque Cristo entregará o Seu reino ao Pai; porque Cristo procede do Pai; porque o reino de Cristo é o reino do Pai. Tudo o que o Pai tem é meu (Jo 16, 15). Eu e o Pai somos um (Jo 10 ,30). Reino e Igreja. Jesus instaurou o Reino na Sua Pessoa: “Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus” (Lc 11, 20). Jesus é a presença, é a manifestação evidente, solene, explícita e incontestável da presença do Reino de Deus no meio dos homens.
Este Reino se manifesta primeiro com palavras e gestos de Jesus: com Suas curas, intervenções miraculosas, exorcismos, seus prodígios sobre coisas e sobre pessoas e sobre a natureza. E a Igreja já é esse germe do Reino de Deus, que já está presente na Igreja. E tudo começa com a pregação de Jesus: o Reino. A evidência do Reino: na pessoa de Jesus, em seu prolongamento, em seu desdobramento e como é a evidência solene de Cristo na presença dos homens.
Este Reino se manifesta aos homens como?
Quais os sinais do Reino de Deus: durante da vida pública de Jesus e nos tempos atuais?
Responde a estas questões, o Catecismo da Igreja Católica:
«Este Reino manifesta-se aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo» (166), Acolher a palavra de Jesus é «acolher o próprio Reino» (167). O germe e começo do Reino é o «pequeno rebanho» (Lc 12, 32) daqueles que Jesus veio congregar ao seu redor e dos quais Ele próprio é o Pastor (168). Eles constituem a verdadeira família de Jesus (169). Aqueles que assim juntou em redor de si, ensinou uma nova «maneira de agir», mas também uma oração própria (170)” (CIC 764).
Jesus é o anunciador do Reino, mas também é a manifestação do Reino. Onde está Jesus ai está o Reinado de Deus no meio dos homens. Quem aceita a Jesus, aceita à Sua Palavra. Ocorre que Sua Palavra é a respeito do Reino; essencialmente a pregação de Jesus é tornar os homens conhecedores da maior prova do amor do Pai pelos homens – que é Ele mesmo – como mesmo disse: “de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
Até na oração o Reino está presente. Quando o homem ora, o Reino deve ser exaltado, deve ser dignificado e deve ser colocado num ponto especialíssimo da oração do cristão. Como podemos verificar na oração do Pai-Nosso. O Reino é onipresente nos atos, nos gestos, nas palavras, nos milagres, nos exorcismos, nos prodígios, na intenção; é uma prioridade na vida de Jesus. E este Reino será evidenciado na família que Jesus constituiu, naqueles que vão circundar a pessoa de Jesus e este é seu propósito: “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12, 32). O Reino, portanto, tem como finalidade colocar a Cristo no centro, Ele é a meta, levando os homens ao conhecimento da Verdade: “conhecereis a verdade e a verdade vos livrará” (Jo 8, 32). A Verdade é Cristo (Jo 14, 6) e Cristo confiou à Igreja a responsabilidade de levar esta mesma Verdade aos homens: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 16).
Reparem como não há como dissociar Jesus de Sua pregação; como não há como dissociar Sua pregação do Reino e, consequentemente, dissociar o Reino da Igreja.
Tendo este raciocínio, volvemos agora nossa atenção a estas palavras do Catecismo da Igreja Católica:
“O Senhor Jesus dotou a sua comunidade duma estrutura que permanecerá até ao pleno acabamento do Reino. Temos, antes de mais, a escolha dos Doze, com Pedro como chefe (cf. Mc 3, 14-15). Representando as doze tribos de Israel (cf. Mt 19, 28; Lc 22,30), são as pedras do alicerce da nova Jerusalém (cf. Ap 21, 12-14). Os Doze (cf. mc 6, 7) e os outros discípulos (cf. Lc 10, 1-2) participam da missão de Cristo, do seu poder, mas também da sua sorte (cf. Mt 10, 25; Jo 15, 20). Com todos estes atos, Cristo prepara e constrói a sua Igreja.” (CIC 765)
Sem pressa, durante 3 anos, o Senhor vai cuidando de constituir esses elementos básicos:
Não existe Igreja sem Hierarquia – Jesus chama e escolhe os 12 Apóstolos (Lc 6, 12-16; Mt 2, 1-4; Mc 3, 13-19)
Não existe Igreja sem Ministérios – Jesus chama para estar consigo homens e mulheres, não apenas apóstolos, mas também discípulos (Mc 8, 34-35; Lc 8, 1-3)
Alusão aos Sacramentos – Jesus manda aos apóstolos a pregarem, ungirem os enfermos, expulsar os demônios, etc. (Mt 10). Já há uma preparação à Eucaristia (Jo 6). A questão do Batismo quando Cristo falou a Nicodemos (Jo 3, 5).
Leia mais sobre a Instituição dos Sacramentos nas Sagradas Escrituras
Jesus ia preparando os Apóstolos em seus encontros, explicando as Suas parábolas. E aproximando-se Sua Paixão, Jesus institui a Santa Eucaristia, o único rito no qual todos os elementos da Igreja estão presentes: a hierarquia, os carismas, o povo de Deus, a Palavra de Deus, o próprio Sacramento, o pão e o vinho, os cantos, a presença do Espírito Santo… Na celebração Eucarística, na instituição da Eucaristia temos todos os elementos que Nosso Senhor cuidou de instituir e consolidar ao longo de sua vida pública. E sem esquecer a sua Santíssima Mãe, ao qual quis que fosse a Mãe da Igreja. Não por acaso, Cristo vai dizer à Igreja, representada por João, filho de Zebedeu, na Cruz agonizando: “Eis aí tua mãe” (Jo 19, 27). Não existe Igreja sem Mãe, porque não existe Cristo sem mãe. E Cristo é cabeça da Igreja e não existe Igreja sem Cristo. Se Maria é mãe de Cristo Cabeça, é mãe também do corpo, portanto, é também mãe da Igreja.
A Instituição da Igreja sob a Fé de Pedro
Jesus faz uma pergunta curiosa aos apóstolos em Cesaréia de Filipe:
“No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16, 13-15).
Pedro, então se adianta e diz:
“Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” (Mt 16, 16)
Nesta fé de Pedro, alicerçada na Fé de Pedro será edificada a Igreja:
“Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mt 16, 17-19)
Aqui não temos o momento fundante da Igreja, mas sim a constituição de um dos elementos fundamentais da Igreja: o Primado do Apóstolo Pedro – primado de honra e primado de jurisdição. Aqui temos o poder das chaves conferido individualmente a Pedro, para que nele e em seus sucessores, perdurasse até a vinda do Senhor. Há também o poder de ligar e de desligar, que não foi dado apenas a Pedro, mas a toda a Igreja (Mt 18).
A Instituição dos Sacramentos da Ordem e da Eucaristia
Na Quinta-feira Santa, já sabemos, temos a instituição da Eucaristia (Jo 6, 54-59; Lc 22), porém temos outro Sacramento instituído neste mesmo dia: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 23). Trata-se do Sacramento da Ordem, no qual Nosso Senhor confia as quatro atribuições particulares do sacerdócio:
Oferecer o santo sacrifício: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). É a ordem de reproduzir o que ele tinha feito: mudar o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue divino.
Perdoar os pecados: Os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes (Jo 20, 23).
Pregar o Evangelho: Ide no mundo inteiro, pregando o Evangelho a todas as criaturas (Mc 16, 15).
Governar a Igreja: O Espírito Santo constituiu os bispos para governarem a Igreja de Deus (At 20, 28).
O Sacramento do Batismo já esta na raiz do Batismo de Jesus no Rio Jordão, mas a ordem de Batizar no final do Evangelho segundo São Mateus:
“Ide, ensinai todas as gentes, disse Jesus a seus discípulos, batizando-as, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).
Portanto, durante estes 3 anos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, incluído o tempo da Sua permanência Ressuscitado entre nós, que decorre da Páscoa até a Ascensão do Senhor, ocorre a preparação da Santa Igreja. E neste período de 40 dias entre a Páscoa e a Ascensão, Nosso Senhor dissipa dos apóstolos todo o receio, inseguranças e dúvidas quanto suas obrigações e missões para com o Reino de Deus.
A Igreja Católica e a Salvação
O que Jesus Cristo disse e pensa a respeito de tudo isso?
Em sua pregação, que lugar ocupa a Igreja? Qual o valor da Igreja para Jesus Cristo?
Qual a importância da Igreja para Jesus?
Vamos refletir sob estas questões sob os próprios pensamentos e palavras de Nosso Senhor em 8 textos das Sagradas Escrituras.
“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16, 18)
Com relação à Igreja, Jesus é o edificador, o fundador da Igreja ao dizer “Eu te declaro”. Então, nos incorre a questão: pode-se aceitar a Jesus e não aceitar aquilo que Jesus fez? “Edificarei a minha Igreja”: foi o próprio Cristo quem fundou a Igreja, pertence a Ele. Aquilo que é de Jesus tem tanta importância quanto Jesus, pois procedeu de Jesus e porque Ele quis e desejou!
“Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Por isso, foram-lhe perguntar: ‘Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?’ Jesus respondeu-lhes: ‘Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não lhes é -possível jejuar. Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão.’” (Mc 2, 18-20)
Jesus é Esposo da Igreja. A Igreja é Esposa de Jesus. Imagem esta que também aparece em Apocalipse como a Jerusalém celeste como uma esposa ornada para o esposo (Ap 21, 2). Ora, pode-se aceitar o esposo e não aceitar a sua esposa?
Recordemos o que nos diz na ótica bíblica: “Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.” (Gn 2, 24). E Jesus comentando este texto: “Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19, 6). Isto também se aplica ao Esposo Jesus e Sua Esposa Igreja.
“Pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4, 15)
Cristo é Cabeça da Igreja. Portanto, aqueles que pensam que precisam de Cristo, mas não da Igreja, estes, à luz dessa imagem pelo Apóstolo Paulo, pretendem decapitar a Igreja. Pensamento este inexistente, visto que não existe corpo sem cabeça, não existe Cristo sem Sua Igreja.
“Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas.” (Cl 1, 18)
A imagem da cabeça associada a Cristo e do corpo associada a Igreja, é muito cara ao apóstolo Paulo. Não dá para separar jamais a Cabeça do corpo e o corpo da Cabeça. Ambos estão intrinsecamente unidos. Cristo quis ser Cabeça da Igreja, portanto, Cristo quis associar a Igreja a Si, numa união quase que hipostática, como bem diz o Apóstolo Paulo: “eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)
“Ninguém vos roube a seu bel-prazer a palma da corrida, sob pretexto de humildade e culto dos anjos. Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu espírito materialista, não se mantêm unidas à Cabeça, da qual todo o corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus.” (Cl 2, 18-19)
Todo o corpo se alimenta, depende da Cabeça. Existe uma relação profunda, tanto para ir quanto para voltar. Cristo quis “depender” da Igreja, pois desposou-a, porque deu a vida por ela e porque “depende” dela. Cristo absolutamente não necessita de nada e nem de ninguém, mas quis necessitar da Sua Igreja, porque com o Mistério da Encarnação e Redenção na Cruz, estabeleceu com ela um vínculo indissolúvel.
“E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu chefe supremo da Igreja, que é o seu corpo, o receptáculo daquele que enche todas as coisas sob todos os aspectos.” (Ef 1, 22-23)
Jesus é o chefe, o comandante, o líder. O Senhor quis liderar Sua Igreja e os que estão sob o comando do Senhor tem uma importância crucial, visto que Cristo os desejou chefiar e governar. Mas a Igreja é chefiada pelo Senhor, não se pode tributar valor ao chefe e menosprezar seus subordinados.
“O marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja – porque somos membros de seu corpo.” (Ef 5, 23-30)
Jesus Cristo deu a vida pela Igreja, morreu por ela para apresentar ao Pai: pura, sem mancha, sem mácula, perfeita! Ele a alimenta, Ele a nutre, Ele a protege, Ele a defende…
Como então sustentar Jesus Cristo sim, a Igreja Católica não? Salvação somente com Cristo?
É claro que Cristo é o autor da Salvação, o único caminho que leva ao Pai, mas Cristo quis operar a Salvação por meio da Igreja.
“Eu não acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse à autoridade da Igreja Católica” (Santo Agostinho 354-430)
A Igreja Católica é imprescindível, é fundamental para a Salvação. É instrumento, é germe do Reino dos Céus. Já é o início do Reino, não é o Reino pleno porque nela ainda subsiste o pecado, mas nela já há sinais desse Reino que cresce, que avança, que se difunde, que é chamado a se estender por toda a face da Terra; o Reino já presente na Igreja em germe, porque ela é a instituição querida por Deus antes que o mundo fosse criado, prefigurada, preparada e constituída pelo próprio Jesus Cristo. Ela continua no tempo e no espaço a ação de Jesus Cristo, “Quem vos ouve, a mim ouve, e o que vos despreza a Mim despreza” (Lc 10, 16).
“Ora, estando eu a caminho, e aproximando-me de Damasco, pelo meio-dia, de repente me cercou uma forte luz do céu. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 22, 6-7)
Jesus já havia Ressuscitado, não estando mais sujeito a nenhuma perseguição, presente na dimensão gloriosa, junto ao Pai. Então, porque Cristo questiona Paulo dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” – porque na Igreja, Cristo continua a sofrer. Porque quem persegue a Igreja, persegue ao próprio Jesus, “todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 40). Na Igreja se manifesta a presença de Cristo Ressuscitado.
Jesus Cristo verdadeiramente salva, “porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4, 12). Sim, Jesus é a razão, é o objeto, é o sentido, é a causa eficiente da Salvação, mas nunca sem a Igreja. E sim, sempre por meio da Igreja. A Igreja não é causa da Salvação, mas é instrumento necessário de Salvação.
Um Não-Católico ou um Não-Cristão pode ser Salvo? Ou será que podemos afirmar que somente os Católicos conseguirão a Salvação? Os Católicos já estão salvos? E alguém que não é católico ou deixou de frequentar a Igreja Católica, pode se salvar?
E aqueles que nunca ouviram falar do Evangelho, podem conseguir a Salvação? E quando esta ignorância é culpável, pode esta pessoa se salvar? E quando a ignorância é inculpável, a pessoa pode se salvar? E aqueles que viveram antes de Cristo e nunca ouviram falar de Jesus e Seu Evangelho e muito menos da Sua Igreja, podem se salvar?
E aqueles que conhecem a Jesus Cristo, mas não aceitam a Sua Igreja, podem se salvar?
Deste assunto, tratou um documento muito importante do Concílio Vaticano II, no qual de forma muito eloquente, a Igreja responde a estas questões através da Constituição Dogmática Lumen Gentium nos números 14 e 16.
Tomemos o primeiro texto, Lumen Gentium 14:
“O sagrado Concílio volta-se primeiramente para os fiéis católicos. Fundado na Escritura e Tradição, ensina que esta Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com efeito, só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos presente no Seu corpo, que é a Igreja; ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Baptismo (cfr. Mc. 16,16; Jo. 3,15), confirmou simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta do Baptismo. Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar.”
Perceba como o ponto de partida do concílio ecumênico é exatamente Cristo como autor da Salvação, o único caminho que leva ao Pai, ninguém vai ao Pai senão por Ele. Portanto, não existe Salvação sem Cristo. Não existe outro caminho para se chegar ao Pai que não seja por meio de Cristo, como podemos observar na 1ª Epístola a Timóteo: “Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem” (1Tm 2, 5).
Cristo está associado indissoluvelmente à Sua Igreja, da qual Ele é a Cabeça. E a Igreja por sua vez, é o corpo de Cristo. Ora, como o homem chega ao conhecimento da fé? Jesus, no Evangelho de São Marcos afirma: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16, 16). Crer. Mas como poderão crer se ainda não ouviram? E como podem ouvir se não houver quem pregue? E como pregarão se não forem enviados? Como é que se chega à obediência da fé? Como é que se crê em Jesus? São Paulo nos responde na carta aos Romanos, capítulo 10: a fé vem da pregação e a pregação é a Palavra de Cristo. E o mandato da pregação é conferido à Igreja, logo, graças á pregação da Igreja se chega à fé. Não existe outra maneira a se chegar a crer. É também por meio da Igreja que somos batizados e é por meio da Santa Igreja que atravessamos as portas dos Sacramentos.
É muito claro e de extrema gravidade saber que Jesus fundou a Igreja; saber que a Igreja é depositaria dos meios de santificação; saber que por meio da Igreja se chega à obediência da fé, se crê em Jesus, graças à Palavra que foi constituída, tutelada, protegida, explicada, perscrutada e proclamada pela Igreja, que é e foi querida por Cristo e que ela é instrumento necessário para Salvação. Portanto, o coração que conheça tudo isto e não aceita, é o mesmo que rejeitar a Cristo, como o próprio Jesus afirmou.
Busquemos explicar agora, às outras respostas tomando o segundo texto da Lumen Gentium 16:
“…aquele povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (cfr. Rom. 9, 4-5), povo que segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cfr. Rom. 11, 28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem; já que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais (cfr. Act. 17, 25-28) e, como Salvador, quer que todos os homens se salvem (cfr. 1 Tim. 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna (33). Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta.”
Neste trecho, o concílio trata daqueles que nunca ouviram falar do Evangelho. De fato, todos antes de Cristo, sem culpa, nunca ouviram falar de Cristo e Sua palavra. E depois, após o Mistério da Encarnação, o concílio contempla aqueles que sem culpa, nunca ouviram falar do Evangelho, nem da existência da Igreja e da necessidade da Igreja. Pois bem, aqueles que sem culpa de sua parte, da pessoa de Jesus e a Igreja, podem conseguir a Salvação se viverem uma vida reta seguindo os ditames da sua consciência, praticando aquilo que eles entendem, concebem como bem e evitando aquilo que eles concebem como mal, não sem o influxo da graça de Cristo, e a Salvação é alcançada para estes que vivem uma vida reta.
Assim a Palavra de Deus se estende como possibilidade como Salvação, ainda que desconhecida explicitamente para tantos homens, também estes podem alcançar a Salvação. Não sem o influxo a graça de Cristo, se se salvaram não foi pelos seus próprios méritos, se hão de se salvar, serão pelos méritos de Cristo, pois “ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14, 6).
Ordinariamente, a Salvação chega aos homens por meio da Igreja, mas a Igreja não é o único instrumento de Salvação, pois Deus tem caminhos misteriosos e mecanismos desconhecidos que não estão dentro da nossa compreensão, por meio dos quais pode conduzir os homens a Salvação.