Reze o Salmo 119/118,9-16
Agora, leia com piedade e um coração que escuta na fé Dt 1,9-18
9«Nesse tempo, falei-vos assim: ‘Não posso, sozinho, tomar conta de vós. 10O SENHOR, vosso Deus, multiplicou-vos, e hoje sois tão numerosos como as estrelas do céu. 11Que o SENHOR, Deus dos vossos pais, vos multiplique mil vezes mais e vos abençoe, como prometeu! 12Como poderia, eu sozinho, suportar as vossas queixas e as vossas questões? 13Escolhei entre vós, nas vossas tribos, homens sábios, prudentes e experimentados, e eu os constituirei vossos chefes.’ 14Vós respondestes-me, dizendo: ‘O que te propões fazer é excelente.’ 15Então, eu escolhi, entre os principais das vossas tribos, homens sábios e experimentados e nomeei-os vossos chefes, como comandantes de milhares, de centenas, de cinquentenas e de dezenas, responsáveis pelas vossas tribos.
16Naquele tempo, ordenei também aos vossos juízes: ‘Dai audiência aos vossos irmãos e julgai com equidade as questões de cada um, sejam com um seu compatriota, sejam com um estrangeiro. 17Não façais distinção de pessoas no julgamento; ouvi tanto o pequeno como o grande. Não tenhais medo de ninguém, porque o julgamento pertence a Deus. Se uma questão for demasiado complicada para vós, apresentai-ma para eu a resolver.’ 18Naquele tempo, ordenei-vos tudo aquilo que devíeis fazer.»
1. Logo no v. 9, aparece uma virtude de Moisés: a humildade, a consciência dos seus limites:
“Sozinho, eu não posso levar-vos!”
Deste modo, ele estabelece em cada tribo outros que julguem as causas do povo santo (cf. v. 13-15). Moisés, pois, não tem aquele maldito complexo de onipotência, que tudo centraliza, que tudo toma sobre si mesmo! Quem vive diante de Deus deveria aprender que é limitado, deveria saber abandonar-se à divina Providência e partilhar com outros o fardo das tarefas e das decisões; deveria saber ouvir! A própria Escritura previne:
“O homem sensato não despreza os conselhos! Não faças nada sem conselho: não te arrependerás de teus atos” (Eclo 32,18a.19)
Eis uma bela norma de vida!
É útil, aqui, se perguntar: Sei ouvir conselhos? Reconheço minhas limitações? Sei pedir ajuda ou o orgulho mo impede? Confio, verdadeiramente, na Providência divina, que tudo governa, tudo dirige, tudo conduz segundo uma sábia disposição (cf. Sb 14,3; Jó 10,12; Sl 31/30,15s; Mt 6,25-34)? Reflita. Reze…
2. Outro tema presente nesta perícope é o da justiça, que, nas Escrituras, é, sobretudo, o reconhecimento do direito de cada um: aquele que julga – desde o pai de família, o chefe, a autoridade, até juízes dos tribunais – deve ser sábio e competente (cf. v.14), pronto para ouvir (cf.v.16: “Ouvireis!”) e equânime no trato com os que o procuram para a justiça:
“Não façais acepção de pessoas no julgamento: ouvireis de igual modo o pequeno e o grande. A ninguém temais, porque a sentença é de Deus”
Em outras palavras: em todo o juízo, todo aquele que julga, em certo sentido, faz as vezes de Deus e deve exprimir a Sua justiça. Em certo sentido, como já expliquei mais acima, todos somos juízes! Nossos julgamentos, nossos relacionamentos e atitudes para com os outros devem ser pautados no reconhecimento do espaço do outro, do direito do outro, da originalidade do outro, da dignidade do outro! Deus ama o justo e abomina todo aquele que pisa no direito e na dignidade de seu próximo, sobretudo se ele for pequeno, desamparado, frágil, desvalido, hipossuficiente!
Reze o Salmo 82/81: todo aquele que julga participa do poder do Deus Juiz… Mas, que recorde que, em si mesmo, não passa de pó e um dia prestará contas a Deus!
E você: procura ser reto nos seus critérios e juízos? É movido pelo desejo de justiça, que respeita o direito e o espaço dos demais ou, ao invés, é guiado pela paixão, pelos próprios interesses, de modo a pisar a dignidade e o direito do próximo? Prestaremos contas Àquele que julga com justiça e equidade!
3. No v. 9, Moisés constata que o Senhor Deus multiplicou o Seu povo, de modo que, agora, “sois numerosos como as estrelas do céu!” É o cumprimento da promessa feita a Abraão nosso pai:
“Ergue os olhos para o céu e conta as estrelas, se as pode contar. Assim será a tua posteridade!” (Gn 15,5)
Deus é fidelidade, Deus é fecundidade, Deus é vida! Todo aquele que Nele confia e a Ele se entrega não ficará nunca desiludido na sua esperança! Nas palavras de Moisés podemos escutar, como que um eco antecipado das palavras de São Paulo sobre Abraão:
“Ele, esperando contra toda a esperança, creu e tornou-se, assim, pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: Tal será a tua descendência!” (Rm 4,18)
Nunca esqueça: no Senhor, nossa vida sempre será fecunda, sempre será semente de Eternidade! É triste, é a frustração de toda uma existência ter uma vida estéril, não sendo rico para Deus nem para os demais (cf. Lc 12,13-15).
4. Para rezar, bendizendo a bondade e a justiça do Senhor, tome o Sl 92/91.