Meditação para a Oitavo Segunda-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Meditaremos sobre o exercício da oração, como devendo ser, depois do levantar da cama, sobre que meditamos sábado passado, a primeira coisa que façamos no dia; e veremos:
1.º A sua excelência;
2.º Como devemos preparar-nos para ela.
— Tomaremos depois a resolução:
1.º De nunca omitirmos a nossa oração, e para isto de a fazermos logo depois do levantar da cama, porque retardá-la equivale muitas vezes a omiti-la;
2.º De nos prepararmos para ela com uma vida contemplativa, e principalmente com a determinação do objeto da nossa oração na véspera à tarde.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Davi:
“Se a vossa lei não houvera sido a minha meditação: então de certo houvera eu perecido” – Nisi quod lex tua meditatio mea est, tunc forte periissem (Sl 118, 92)
Meditação para o Dia
Adoremos Nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito adorador de seu Pai, fazendo oração e comprazendo- Se neste santo exercício. Admiremos o zelo com que a ela se aplica. Começa a sua oração começando a viver; persevera nela durante toda a sua vida, e ainda depois da sua morte, nos nossos altares, não falando na oração contínua que faz no céu. Que respeitos não Lhe devemos tributar neste intuito!
PRIMEIRO PONTO
Excelência da Oração
A oração é tudo quanto há de mais sublime na religião: é uma elevação do nosso espírito e coração para o céu; é um colóquio familiar com Deus; é a união da alma com o sumo bem (1); é a ocupação dos anjos no céu permitida aos homens na terra; é a vida do céu começada na terra. Com a oração, elevamo-nos acima de tudo o que é efêmero e o calcamos aos pés; com ela, compreendendo que Deus é tudo, lançamo-nos em seus braços, desafogamos com Ele, protestamos amá-lO e servi-lO, não viver senão para Ele. Que coisa há mais sublime e ao mesmo tempo mais necessária?
“Se a vossa lei, meu Deus, não houvera sido a minha meditação: então por certo houvera eu perecido” – Nisi quod lex tua meditatio est, tunc forte periissem (Sl 118, 92)
“Nunca jamais me esquecerei das vossas justificações, porque nelas me vivificastes” – In aeterno non obliviscar justificationes tuas, quia in ipsis vivificasti me (Sl 118, 93)
É porque efetivamente só a meditação pode conservar na alma essa viva fé nas grandes verdades da religião, na importância da salvação, na santidade dos nossos mistérios, no cabal desempenho dos nossos deveres, sem o qual a salvação é impossível; só ela pode criar e conservar na alma o espírito de humildade, de mortificação, de caridade, de mansidão, de todas as virtudes necessárias à salvação: o que levou São Boaventura a dizer:
“Sem oração não há progresso nas virtudes” – Frusta profectus virtutum sine oratione operatur (Spec. discipul.)
E o piedoso Gerson:
“Sem o exercício da meditação ninguém, a não ser por milagre, atinge a verdadeira vida Cristã” – Absque meditationes exercitio, nullus, secluso miraculo, ad rectissimam religionis norman attingit
Mas a oração não é somente necessária; é também infinitamente útil pelas graças de que é a origem. Torna fácil à alma o que, sem ela, seria difícil ou antes impossível. Com a oração, como que provamos a Divindade, enchemo-nos de amor para com Deus, acostumamo-nos a detestar o pecado, a aborrecer o mundo e a nós mesmo, a fugir dos vícios, a praticar as virtudes, a fazer com uma reta intenção todas as nossas ações, a respeitar as coisas santas, a ter caridade para com o próximo. Finalmente a oração é tudo o que há de mais suave na religião. Perguntemo-lo às almas que a praticam habitualmente como convém; e elas nos dirão, que é para elas um momento delicioso, um paraíso na terra. Imitemo-las, e participaremos da sua felicidade.
“Gostai, e vede quão suave é o Senhor” – Gustate, et videte quoniam suavis est Dominus (Sl 23, 9)
Fazemos este apreço da oração? Amamo-la do fundo do coração como o mais precioso de todos os bens?
SEGUNDO PONTO
Como devemos preparar-nos para a Oração
Para vir a ser um homem de oração, devemos:
1.° Ter a peito conservar pura a nossa consciência, e mortificar os nossos sentidos. Quem não quer mortificá-los e tornar-se melhor, não pode ter esperança de tirar proveito deste santo exercício. Quem não quer desprender-se da terra não pode elevar-se ao céu.
2.° Amar a vida contemplativa e renunciar a uma vida dissipada, que se emprega em quimeras, desperdiça o tempo em frivolidades, se ocupa de toda a sorte de objetos, e concede à natureza tudo o que ela deseja. Estar distraído todo o dia e estar atento à oração são duas coisas incompatíveis.
3.° Finalmente devemos, na véspera à tarde, preparar o objeto da nossa oração, ocupar-nos nisso quando nos deitarmos, e de manhã quando nos levantarmos.
É assim que até ao presente nos temos preparado para a oração ?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Oratio est ascencio mentis in Deum (São João Damasceno). Familare cum Deo colloquium (São Gregório Nazianzeno). Conjuncti hominis et Dei (Santo Efrém)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 23-26)