Parte V
Capítulo VII
Demorei-me mais nos pontos antecedentes, que servem para conhecer os progressos feitos na vida espiritual; porque o exame dos pecados tem em mira a confissão daqueles que não aspiram a perfeição. Entretanto, é bom deter-se em cada um desses pontos, considerando o estado da alma e as faltas maiores que se poderão ter cometido.
Mas, para resumir tudo, limitemos este exercício ao exame das paixões e consideremos unicamente o que temos sido e como nos temos comportado quanto aos pontos seguintes:
- Em nosso amor para com Deus, para com o próximo e para com nós mesmos;
- No ódio aos pecados, tanto aos nossos, como aos dos outros; porque tanto devemos desejar a sua correção como a nossa;
- Em nossas ambições de riquezas, prazeres e honras;
- No temor dos perigos de pecar e de perder os bens desta vida, se tememos muito a uns e pouco aos outros;
- Na esperança fundada, talvez muito, neste mundo e nas criaturas, e pouco em Deus e nas coisas eternas;
- Na tristeza, se é demasiada e por coisas que não a merecem;
- Na alegria, se é excessiva e por coisas indignas.
Enfim, observemos que afetos embaraçam o nosso coração, que paixões o possuem e em que pontos principalmente ele se tem desregrado. Pelas paixões se conhece o estado da alma; porque, como o violinista toca todas as cordas para afinar as dissonantes, esticando mais umas e afrouxando outras, assim também se, depois de termos observado todas as nossas paixões, as achamos pouco conformes ao nosso desejo de glorificar a Deus, as poderemos ajustar com a graça divina e o auxílio do diretor espiritual.
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(SALES, São Francisco de. Filoteia ou a Introdução à Vida Devota. Editora Vozes, 8ª ed., 1958, p. 351-352)