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A Salvação é o nosso único negócio

"A minha vida é um só instante, uma hora passageira A minha vida é um só dia que me escapa e me foge Tu sabes, ó meu Deus! Para amar-Te na terra Só tenho o dia de hoje!…" (Santa Teresinha)
“A minha vida é um só instante, uma hora passageira
A minha vida é um só dia que me escapa e me foge
Tu sabes, ó meu Deus! Para amar-Te na terra
Só tenho o dia de hoje!…” (Santa Teresinha)

Porro unum est necessarium – “Só uma coisa é necessária” (Lc 10, 42)

Sumário. O único fim pelo qual o Senhor nos pôs neste mundo é a salvação de nossa alma. Pouco importa sermos aqui pobres, perseguidos e desprezados, salvando-nos nada mais teremos a sofrer e seremos felizes por toda a eternidade. Se, porém, perdermos este negócio e nos condenarmos, de que nos servirá no inferno termos gozado de todos os prazeres do mundo, de havermos sido ricos e cortejados? Perdida a alma, está perdido tudo e para sempre! Meu irmão, dize-me, como cuidaste até hoje deste negócio único?… Estás ao menos resolvido a tratá-lo no futuro seriamente?

I. São Bernardo lamenta a incoerência dos cristãos, que tratam de loucura os brinquedos infantis, e chamam negocio sério as suas ocupações terrestres, enquanto na realidade elas não são senão loucuras maiores. “De que serve, diz o Senhor, ganhar o mundo inteiro e perder a alma?” – Quid prodest homini, si universum mundum lucretur, animae vero suae detrimentum pafiatur? (1) — Se te chegares a salvar, meu irmão, pouco importa que tenhas neste mundo sido pobre, perseguido e desprezado; salvando-te, nada mais terás a sofrer e serás feliz por toda a eternidade. Se, porém, perderes a alma e te condenares, de que te servirá no inferno o teres gozado de todos os prazeres do mundo, o haveres sido rico e cortejado? Perdida a alma, perdem-se os prazeres, as honras, as riquezas, perde-se tudo.

Que responderás a Jesus Cristo no dia das contas? Se um rei encarregasse o seu embaixador de ir a uma cidade para tratar um negócio importante, e se, chegado ali, em vez de cuidar do negócio que lhe fora confiado, só pensasse em festas, espetáculos e banquetes, e assim levasse o negócio a mau êxito, que contas daria ao rei quando voltasse? Ó Deus! Que contas mais rigorosas não terá de dar ao Senhor no dia do juízo aquele que, colocado no mundo, não para se divertir, enriquecer, adquirir honras, mas para salvar a alma, de tudo se tiver ocupado exceto dela? Os mundanos só pensam no presente e nunca no futuro.

São Filippe Neri, conversando um dia em Roma com um moço talentoso, chamado Francisco Zazzera, que só pensava nas coisas do mundo, falou-lhe desta maneira: Meu filho, alcançarás grande fortuna, será bom advogado, depois prelado, depois talvez cardeal, e quem sabe? Talvez Papa. E depois?… E depois?… Vai, disse-lhe, vai e pensa nestas duas palavras, Francisco voltou para casa, e tendo refletido seriamente nestas duas palavras: E depois?… E depois?… renunciou às ocupações mundanas e entrou na Congregação de São Filipe, entregando-se inteiramente aos trabalhos de Deus.

II. A salvação é o nosso negócio único, porque só temos uma alma. Um príncipe solicitava de Bento XII uma graça, que só com pecado podia ser concedida. Respondeu o Papa ao embaixador: Dizei ao vosso soberano que, se tivesse duas almas, poderia sacrificar uma por ele e reservar a outra para mim; mas como só tenho uma, não posso nem quero perdê-la.

Dizia São Francisco Xavier que no mundo havia um só bem e um só mal: o único bem, salvar-se; o único mal, condenar-se. É o que Santa Teresa repetia também às suas religiosas: Minhas irmãs, dizia, uma alma! Uma eternidade! Queria dizer: Uma alma! Perdida esta, tudo está perdido; uma eternidade! Perdida a alma uma vez, está perdida para sempre. Por isso suplicava Davi: Unam petii, hanc requeiram: ut inhabitem in domo Domini (2) — “Senhor, uma só coisa Vos peço: salvai-me a alma e isso me basta”.

É isso o que eu também Vos peço, ó meu amado Redentor: salvai-me a alma, fazei que um dia possa ir ao céu a gozar de Vós. Ai de mim! No passado tenho escolhido o inferno pelos meus pecados, e no inferno já devia estar há muitos anos, se a vossa misericórdia não me tivesse suportado. Graças Vos dou, ó meu Deus, e arrependo-me, acima de todos os males, de Vos haver ofendido. Espero que no futuro nunca mais seguirei o caminho do inferno. Amo-Vos, ó meu Bem soberano, e quero amar-Vos para sempre. Pelo sangue que por mim derramastes, dai-me a santa perseverança. — A vós também, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, a vós também peço esta graça.

Referências:

(1) Sl 29, 6
(2) Sb 3, 9

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 303-305)