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Espírito do Mundo

Meditação para a Vigésima Quarta Segunda-feira depois de Pentecostes. Espírito do Mundo

Meditação para a Vigésima Quarta Segunda-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Continuaremos a meditar sobre o mundo, e veremos:

1.° O quanto o espírito do mundo é oposto ao espírito de Jesus Cristo;

2.° Que não se pode ser cristão, sem que se renuncie ao espírito do mundo e se abrace o espírito de Jesus Cristo.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De conformar as nossas ações, bem como todos os nossos sentimentos, com o espírito de Jesus Cristo, perguntando-Lhe muitas vezes o que pensaria no nosso lugar;

2.° De não nos importarmos com os juízos do mundo, e de tomarmos por divisa:

Fazer bem, e deixar falar

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Não vos conformeis com este século” – Nolite conformari huic saeculo (Rm 12, 2)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor ensinando-nos, pelo seu Apóstolo, que não recebemos o espírito do mundo, mas sim o espírito que vem de Deus (1). Revela-nos por isto a grande oposição que há entre estes dois espíritos, e quanto devemos ser vazios do espírito do mundo, se quisermos ser cheios do espírito de Deus. Demos graças a este divino Salvador por tão útil ensino.

PRIMEIRO PONTO

Oposição entre o espírito do mundo e o espírito de Jesus Cristo

1.° O espírito do mundo leva a prezar e a amar o ouro e o dinheiro, o esplendor e a magnificência, o luxo nos vestidos e moveis, as diversões profanas, as assembleias públicas, os espetáculos e as inúmeras vaidades que recreiam os filhos dos homens. Ao contrário, o espírito de Jesus Cristo induz a evitar o esplendor e a grandeza, a amar a simplicidade e a pobreza, a fugir, quanto possível, de tudo o que distrai, a desprezar o que o mundo preza, a prezar o que ele despreza, a evitar o que ele busca e a buscar o que ele evita, a amar o que ele odeia e a odiar o que ele ama.

2.° O espírito do mundo, pondo a felicidade nos bens terrenos, leva a fazer e a sofrer tudo para possuí-los; e dominado por esta paixão, não o detém a mentira nem o vício, não lhe custa sacrificar o seu descanso e a sua saúde. Ao contrário, o espírito de Jesus Cristo, pondo a felicidade no céu, leva a desprezar, como uma vaidade indigna de uma alma imortal, tudo o que não tende para ele, e a estimar, buscar, e fazer tudo o que pode tornar a sua posse mais segura e completa.

3.° O espírito do mundo, tendo em pouco o pecado, contanto que se divirta, sinta prazer, busca sem repugnância todas as ocasiões de queda; ao contrário, o espírito de Jesus Cristo, antepondo o dever e a inocência a tudo, induz a fugir do perigo, a orar, a evitar as ocasiões mais ou menos perigosas, a fim de ser igualmente fiel em tudo.

4.º O espírito do mundo não é senão soberba, maledicência, e amor de dominação; manda com império, tende a suplantar todo o rival, e a vingar toda a afronta; ao contrário, o espírito de Jesus Cristo não é senão humildade, mansidão, obediência, paciência, perdão das injúrias.

Examinemo-nos depois disto, e vejamos que espírito nos anima.

SEGUNDO PONTO

Não se pode ser Cristão sem que se renuncie ao espírito do mundo, e se abrace o espírito de Jesus Cristo

O Espírito Santo disse em formais termos:

“Se alguém não tem o espírito de Jesus Cristo, este tal não é dele” – Si quis spiritum CHristi non habet, hic non est ejus (Rm 8, 9)

Nós, cristãos, não recebemos o espírito deste mundo, mas sim o espírito de Deus (2).

“Não ameis ao mundo nem ao que há no mundo” – Nolite diligere mundum neque ea quae in mundo sunt (1Jo 2, 15)

“Se algum ama ao mundo, não há nele o amor do Pai” – Si quis diligit mundum, non est charitas Patris in eo (Ibid.)

“A amizade deste mundo é inimiga de Deus; logo todo aquele que quiser ser deste mundo, se constitui inimigo de Deus” – Amicitia hujus mundi inimica est Dei. Quicumque ergo voluerit amicus esse saeculi hujus, inimicus Dei constituitur (Zc 4, 4)

O mundo não pode receber o espírito de Deus (3), e Jesus Cristo exclui-o das suas orações (4). Se, pois, não podemos deixar o mundo, devemos ao menos viver nele como se não vivêssemos, resguardar-nos do seu espírito, de seus preconceitos, de seus erros, de seus vícios, e preferir a todos os seus prazeres a boa consciência, a prudente mediocridade, a virtuosa frugalidade, a simplicidade evangélica, a modéstia cristã, a fervorosa piedade, a viva fé, a doce confiança na Providência, e o amor de Deus, do qual um só ato vale mais que milhares de mundos.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1, 2) Non spiritum hujus mundi accepimus, sed spiritum qui ex Deo est (1Cor 2, 12)

(3) Spiritum…, quem mundus non potest accipere (Jo 14, 17)

(4) Non pro mundo rogo (Jo 17, 9)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 184-187)