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Dom de Temor de Deus

Meditação para a Sexta-feira antes do Pentecostes. Dom de Temor de Deus

Meditação para a Sexta-feira antes do Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre o Dom de Temor de Deus, e veremos:

1.° A excelência deste dom tão pouco compreendido;

2.° A desgraça daqueles que o não possuem.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De pedirmos hoje muitas vezes ao Espírito Santo o Dom de Temor de Deus, que nos fará praticar todas as outras virtudes;

2.º De nos conservarmos no respeito de Deus na oração, na igreja, em toda a parte.

Repetiremos frequentes vezes como ramalhete espiritual as palavras de Davi:

“Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor” – Beatus vir, qui timet Dominum (Sl 111, 1)

Meditação para o Dia

Recolhamo-nos profundamente dentro em nós na presença de Deus; demos-Lhe graças por ter enriquecido a Sua Igreja do Dom de Temor; roguemos-Lhe que no-lo faça compreender e estimar.

PRIMEIRO PONTO

Excelência do Dom de Temor de Deus

O temor, considerado como um dos sete dons do Espírito Santo, nada tem de comum com o medo, que se sente na presença do perigo, nem com o receio do pecado, que atormenta a alma escrupulosa, nem com o temor, até cristão, das penas do inferno. O temor de que falamos, é um temor suave, inspirado pelo amor e respeito das vistas de Deus fixadas sobre nós. Por isso só que se ama a Deus, se teme, mas sem perturbação, que alguma coisa possa desagradar-Lhe, seja nas ações ou palavras, seja nos pensamentos ou menores movimentos do coração, sobre os quais sabemos, que Ele tem os olhos sempre fixos: e este temor torna-nos circunspectos em todo o nosso procedimento, solícitos em fazer bem todas as coisas, atentos em dar a cada um dos nossos atos toda a perfeição, de que somos capazes.

“O sábio, diz o Espírito Santo, teme, e desvia-se do mal; o insensato passa adiante, e dá-se por seguro” – Sapiens timet et declinat a malo, stultus transilit et confidit (Pr 14, 16)

Por isso só que nos sentimos na presença de Deus, somos tomados de um sumo respeito para com a Sua augusta majestade, reverenciamo-lO com sentimentos tão humildes e tão profundos, que estamos como que aniquilados, lembrando-nos somente de que nos observa, e nada fazemos diante de um Deus tão grande, que não seja santo e perfeito. Tal é o temor, considerado como um dos sete dons do Espírito Santo, e não seria possível dizer todos os bens, que traz à alma.

Conserva-a em uma eminente pureza, dando-lhe um extremo horror à menor ofensa de Deus, um receio inexprimível do menor pecado, a ponto que antes quereria mil vezes precipitar-se em chamas e tormentos semelhantes aos do inferno, que cometer o mais leve.

Este temor penetra-a, na oração, de uma grande devoção, que repele toda a frouxidão e pusilanimidade, e que fixa na meditação a leveza do espírito.

Inspira-lhe no lugar santo uma atitude respeitosa, um olhar comedido, uma profunda adoração; por toda a parte, em particular como em público, uma modéstia exemplar, um perfeito recato, porque por toda a parte ele conserva no respeito da presença de Deus.

Finalmente, a alma favorecida do Dom de Temor tem para com Deus uma confiança cheia de fortaleza (1), diz o Espírito Santo, e ao mesmo tempo um amor sempre crescente, à proporção que tem mais elevado sentimento da incomparável grandeza das perfeições divinas.

Deduzamos daqui quão excelente é este dom, e com que fervor devemos pedi-lo e chamá-lo a nós durante estes santos dias.

SEGUNDO PONTO

Desgraça da alma que não tem o Dom de Temor de Deus

Esta alma é desgraçadíssima e corre perigo de se perder. Como não é contida pelo temor, sucumbe ao amor das suas comodidades, dos seus caprichos, e da sua liberdade, que se tornam a sua única regra de proceder. Não há já ordem na sua vida nem no emprego do seu tempo; não há já exatidão nos seus exercícios de piedade; e quando os faz, é com numerosas distrações, e até sem a devoção exterior, que deve sempre acompanhá-los. Não há já modéstia, decoro, e gravidade em todo o porte; é leviana, inconsiderada, arrebatada pelos seus ímpetos ou pelos movimentos desordenados do seu exterior, que denota uma pessoa irrefletida. Se obra, é sem cuidar em tornar sobrenaturais os seus atos praticando-os por Deus e por Seu amor, e assim perde todo o seu mérito. Se fala, segue a sua vivacidade natural de falar e de responder; e quantas palavras lastimáveis lhe escapam! Se ora, é sem amor, sem respeito, sem atenção ao que diz; e deste modo a sua oração, que devia salvá-la, perde-a, pois que se converte em pecado. Finalmente, em todo o conjunto da sua vida, ela faz pouco caso das pequenas faltas, das negligencias, que ela não julga pecado mortal; triste sintoma que carateriza a tibieza, esse horrível mal que indigna o coração de Deus, e conduz ao pecado mortal sem que se suspeite, pode haver coisa mais desgraçada do que uma alma neste estado?

Excite-nos esta consideração a passar santamente os dois dias, que vão seguir-se, para dispormos o nosso coração para a vinda do Espírito Santo em nós.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) In timore Domini fiducia fortitudinis (Pr 14, 26)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 108-111)