Meditação para a Terça-feira antes do Pentecostes
SUMARIO
Continuaremos a meditar os dons do Espírito Santo, e tomando por objeto da nossa oração o Dom de Conselho, veremos:
1.° A excelência deste dom;
2.° As condições com que se comunica;
3.° Os obstáculos, que o afastam da alma.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De desconfiarmos do nosso próprio espírito, e de pormos a nossa confiança no espírito de Deus a respeito de tudo o que temos a fazer, seja na ordem espiritual, seja na ordem temporal;
2.° De chamarmos em nosso auxílio o espírito de Deus com frequentes e fervorosas orações jaculatórias;
3.° De não anteciparmos pela precipitação nem retardarmos pela lentidão a ação do Espírito Santo em nós.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra do salmo:
“O nosso espírito que é bom, Senhor, me conduzirá a uma terra de retidão” – Spiritus tuus bonus deducet me in terram rectam (Sl 142, 10)
Meditação para o Dia
Adoremos o Espírito Santo comunicando-se à alma, para a dirigir, como um amigo fiel, no caminho da vida, para lhe mostrar o fim, a que ela deve tender e revelar-lhe os meios de o alcançar. Demos-Lhe graças por tanta bondade e supliquemos-Lhe que leve a nossa vontade a seguir em tudo as Suas inspirações.
PRIMEIRO PONTO
Excelência do Dom de Conselho
O Dom de Conselho é concedido à alma para a dirigir nos seus atos, e é na ordem sobrenatural o que é a prudência na ordem natural. Ele mostra o que se há de fazer, ou não fazer, dizer ou calar segundo as pessoas, os tempos e os lugares; ajuda as luzes da razão com as luzes melhores da sabedoria lá de cima em todas as empresas, ações e palavras. Ensina-nos a aproveitarmo-nos de tudo para a nossa própria salvação, para a santificação dos outros, para o adiantamento da obra de Deus; e até a tirarmos proveito do pecado para o bem (1), dizem São Paulo e Santo Agostinho. Esta só noção do conselho revela-nos a sua excelência; porquanto, que mais difícil que sempre falar bem, e fazer bem tudo o que é preciso, sem exceder os limites da perfeita discrição?
É pouco saber, que uma medida é boa em si; tudo o que é bem nem sempre é necessário, e as melhores coisas tem muitas vezes graves inconvenientes. O essencial é conhecer o que é a propósito ou conveniente na ocasião presente, e é este segredo, que ensina o Dom de Conselho. Com este dom, aprendemos a conhecer os homens e a maneira de os compreender, a escolher os tempos e as ocasiões favoráveis, a nada dizer e nada fazer que ofenda, a obrar com discrição, a calar tudo o que é preciso calar, e a evitar todos os maus passos. Antes de terem recebido este dom, os Apóstolos chamaram o fogo do céu sobre Samaria, que recusava acolher o Salvador; depois de o terem recebido, suportam todos os desprezos com paciência e resignação. Um dentre eles, São Paulo, confunde os saduceus e os fariseus indispondo-os uns com os outros, e apela do tribunal de Festus para o de Cesar. Pela virtude do mesmo espírito, Jesus Cristo confunde os acusadores da mulher adultera, assim como aqueles, que o arguiam de não pagar o tributo a Cesar. Oh! Quão excelente é este dom! Quantas palavras imprudentes ou pouco caritativas nos faria calar! Quantas ações indiscretas nos ensinaria a evitar! Quantas dificuldades, em que não sabemos como haver-nos, esclareceria e resolveria! Com a só prudência humana, não se navega senão a custo e à força de remos, como o navio, que voga com todo o pano e vento em popa. Reconheçamos quantas culpas temos cometido por falta deste dom, e quanto nos importa obtê-lo à força de orações e de santos desejos.
SEGUNDO PONTO
Meio de conseguir o Dom de Conselho
É preciso:
1.° Renunciar ao espírito do mundo: porque evidentemente a pessoa guiada deve tender ao mesmo fim e seguir o mesmo caminho que o seu guia. Ora o espírito do mundo é oposto ao espírito de Deus no seu fim e nos seus desígnios. O espírito do mundo só tem em vista a felicidade da vida presente; o espírito de Deus tende a conduzir as almas à felicidade eterna.
O espírito do mundo usa de meios tortuosos e dissimulados, contente com enganar os outros por aparências; o espírito de Deus usa de meios diretos e claros, quer que sejamos o que devemos ser, e não apenas o que parecemos.
2.° Consultar o espírito de Deus, e pedir-lhe com humildade e confiança, que nos auxilie, dizendo do fundo do coração:
Meu Deus, compadecei-vos da minha miséria: sou cego, fazei que eu veja (2); sou um ignorante, alumiai as minhas trevas (3); sou incapaz de me conduzir de mim mesmo, conduzi-me (4)
E convém que se diga esta oração cada manhã para todas as ações do dia; que se repita todas as vezes que se tem a tomar uma resolução, a dar uma resposta, todas as vezes, finalmente, que se tem de obrar ou de falar.
3.° Oferecermo-nos habitualmente ao Espírito Santo dispostos interiormente a ouvir e a fazer tudo o que Ele disser, por mais que isso nos custe.
TERCEIRO PONTO
Obstáculos ao Dom de Conselho
O primeiro obstáculo é a Presunção.
Está escrito: Deus resiste aos soberbos (5): por conseguinte, não ha Dom de Conselho para o presunçoso que, cheio de suficiência, julga não ter necessidade de um auxílio estranho. Demais, para que lhe havia de falar Deus? Ele não atende à sua palavra, não a ouve nem a estima, porquanto não pensa que lhe seja necessária.
O segundo obstáculo é a Precipitação.
Se se quiser seguir a vivacidade natural, Deus, que nunca se apressa, deixará o imprudente prosseguir com o seu próprio espírito, tão inconsiderado em palavras e temerário em projetos como irrefletido em tudo o que faz. O que é apressado, tropeçará (6), dizem as Santas Escrituras.
Finalmente a lentidão forma o terceiro obstáculo.
Se, depois de uma resolução tomada com madureza, se demora a sua execução, as circunstâncias mudam, a ocasião perde-se, e o Espírito de Deus abandona o retardatário à sua indolência.
Não temos nós oposto estes três obstáculos à ação do Espírito Santo em nós?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Diligentibus Dominum omnia cooperantur in bonum, etiam peccata
(2) Domine, ut videam (Lc 18, 41)
(3) Deus meus, illumina tenebras meas (Sl 17, 29)
(4) Deduc me, Domine, in via tua (Sl 85, 11)
(5) Deus superbis resistit (Zc 4, 16)
(6) Qui festinus est pedibus, offendet (Pr 19, 2)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 98-101)
1 Comment
aldo jose ferreira costa
Obrigado. primeira visita na página. Vou voltar se Deus quiser.