Skip to content Skip to footer

O conselho dos Juízes e a traição de Judas

Capítulo II

“Reuniram-se os pontífices e os fariseus em conselho e diziam: Que faremos nós? porque este homem faz muitos milagres” (Jo 11,47).

Eis como no mesmo tempo em que Jesus se empenhava em conceder graças e fazer milagres em benefício dos homens, as primeiras personagens da cidade se reúnem para maquinar a morte do autor da vida. Eis o que diz o ímpio pontífice Caifás:

“Considerai que vos convém que um homem morra pelo povo e desta forma a nação toda não pereça” (Jo 11,50).

E desde esse dia, ajunta o mesmo apóstolo S. João, os malvados pensaram em encontrar um modo de fazê-lo morrer. Ah, judeus, não temais, pois este vosso Redentor não vos fugirá, não, ele veio expressamente à terra a fim de morrer e por meio de sua morte vos libertar e a todos os homens da morte eterna.

Mas eis que Judas se apresenta aos pontífices e diz-lhes:

“Que me quereis dar e eu vo-lo entregarei?” (Mt 26,15).

Que alegria sentiram então os judeus em conseqüência do ódio que tinham a Jesus, vendo que um de seus próprios discípulos queria traí-lo e entregá-lo nas suas mãos! Consideremos, a propósito, o júbilo que sente o inferno, por assim dizer, quando uma alma, que por anos serviu a Jesus Cristo, o trai por qualquer mísero bem ou vil satisfação.

Mas, ó Judas, se queres vender o teu Deus, exige pelos menos o preço que ele merece. Ele é um bem infinito e por isso é digno de um preço infinito. Deus do céu, tu fechas o negócio por apenas trinta dinheiros! Ó minha infeliz alma, deixa a Judas, e volve a ti teu pensamento. Diz-me, por que preço vendeste tantas vezes ao demônio a graça de Deus? Ah, meu Jesus, envergonho-me de comparecer em vossa presença, pensando nas injúrias que vos fiz. Quantas vezes vos voltei as costas e vos pospus a um capricho, a um desejo, a um momentâneo e vil prazer? Já sabia que com tal pecado perdia vossa amizade e voluntariamente a quis trocar por nada. Oh! tivesse eu morrido antes de ter-vos assim ultrajado! Ó meu Jesus, arrependo- me de todo o coração e desejaria morrer de dor.

Consideremos, entretanto, a benignidade de Jesus, que sabendo muito bem o contrato feito por Judas, contudo, vendo-o, não o repele de si, não o olha com maus olhos, antes o admite na sua companhia e até à sua mesa e o adverte da sua traição, para que entre em si, e, vendo-o obstinado, chega até a ajoelhar-se diante dele e a lavar-lhe os pés para enternecê-lo. Ah, meu Jesus, vejo que o mesmo fizestes comigo. Eu vos desprezei e vos traí e vós não me repelistes, mas me olhastes com amor e me admitistes também à vossa mesa na santa comunhão. Meu caro Salvador, se vos tivesse eu sempre amado! Já agora não posso mais separar-me de vossos pés e renunciar ao vosso amor.

Voltar para o Índice de Meditações sobre a Paixão de Cristo, por Santo Afonso