Aos Padres e Irmãos da Congregação do Santíssimo Redentor
Nota: Sempre preocupado com as faltas e a pouca observância, o Santo volta a exortar os Confrades a fugirem dos defeitos e a praticarem com fervor as virtudes religiosas.
Arienzo, 26 de fevereiro de 1771.
Vivam Jesus, Maria, José e Teresa!
Caríssimos Irmãos meus. Sabeis que dentro de pouco tempo Deus chamou para a eternidade mais de um de nossos companheiros. Sabeis, igualmente, quanto está sendo perseguida a nossa pobre Congregação. Nada disto me amedronta. O que mais me causaria temor, seria ver muitos companheiros de pouco espírito e com muitos defeitos. São Felipe Neri dizia que dez operários santos bastariam para converter o mundo.
Tenho ouvido que, com a graça de Deus, nossas missões fazem prodígios onde se pregam. Dizem geralmente, nos lugares onde se pregam as missões pela primeira vez, que nunca se viram semelhantes missões. Mas, ao mesmo tempo, experimentei espinhos muito pungentes ao ouvir que um ou outro congregado pretendeu, na missão, algum exercício que não lhe fora destinado pela obediência. Não sei que proveito possa esperar de suas práticas, instruções ou outros exercícios quem assim procede, porque Deus não dá sua bênção aos orgulhosos. Santo Agostinho diz: Erigis te? Deus fugit a te.
Cuidado, meus filhos e Irmãos! Fugi do orgulho, que leva a pretender e desejar certos exercícios em casa ou nas missões. O exercício mais agradável a Deus é aquele que nos indica o Superior sem nosso pedido.
O orgulho talvez, e sem «talvez», expulsou da Congregação mais de um confrade: sim, o orgulho e o desejo de viver em liberdade. Por isso muitos dos nossos estão fora da Congregação, e é certo que nunca gozarão de verdadeira paz nesta vida; porque a paz vem de Deus, e Deus não a dá a religiosos que resistiram às suas luzes e quiseram perder a vocação. E na hora da morte sentirão remorsos mais dolorosos, porque, tendo entrado na Congregação, por própria vontade estão fora dela.
Tive de sorrir, ao ouvir que alguns dizem: «Na Congregação não tenho boa saúde». Então, quem entra na Congregação deve adquirir a imortalidade e a isenção de toda a enfermidade? Temos de morrer, e antes de morrer devemos suportar enfermidades.
Qual há de ser o fim principal de quem entra na Congregação, senão dar gosto a Deus e ter uma boa morte, terminando seus dias na Congregação? Essa graça obtiveram-na muitos de nossos Confrades, que agora estão na eternidade, e tenho por certo que todos estão dando graças a Deus por terem morrido na Congregação.
Por isso, Irmãos meus, quando a enfermidade se apresentar, recebamo-la das mãos de Deus, e não demos ouvido ao demônio, que, vendo um Irmão enfermo, logo se põe a tentá-lo contra a vocação.
Cuidai, Irmãos meus, de não persistir nas faltas; pois, quem comete uma falta e logo a detesta, não sofre dano; mas quem a comete e não a detesta, antes a defende e desculpa, está quase perdido e não encontra paz na oração nem na comunhão. E dessa falta logo se aproveita o demônio para tentá-lo contra a vocação.
Não vos descuideis, pois, da humildade e da obediência às Regras e aos Superiores, se quereis agradar a Deus e gozar dá paz de que gozam os obedientes. Valhamo-nos sempre das súplicas nas meditações, na visita e sempre, sempre, sempre; do contrário, baldados serão todos os nossos propósitos e promessas. Eis por que recomendo fazer as meditações geralmente pelos meus livros (Preparação para a morte, Meditações sobre a Paixão acrescentadas às Visitas, Setas de fogo acrescentadas ao Caminho da salvação, e as Meditações do Advento até à oitava da Epifania, que estão no meu livro de Natal). Digo, isso, não para dar preferências às minhas pobres obras, mas porque as referidas meditações estão seguidas de devotos afetos e (o que mais importa) enriquecidas de fervorosas súplicas, que em outras obras quase não se encontram. Peço, por isso, nas meditações, mandem sempre ler o segundo ponto dos afetos e súplicas.
Irmãos, eu rezo sempre por vós; rezai também por mim, e a cada um em particular ordeno que me recomende a Jesus Cristo, pedindo-lhe me conceda uma boa morte, a qual sinto estar próxima quer pela idade, quer pela enfermidade. Estou com setenta e cinco anos e já vou beirando os setenta e seis.
Espero salvar-me e, na outra vida, quero tratar com Deus dos negócios da Congregação. Mas digo a cada um que desprezar estes meus ensinamentos, que no dia do Juízo, diante do tribunal de Jesus Cristo, me encontrará como primeiro acusador: pois, embora nunca tenha deixado de inculcar aos Confrades estas mesmas coisas, vejo que muitos voltaram as costas a Deus e à Congregação. A todos eles hei de esperar no dia do Juízo.
Abençoo a todos nos corações de Jesus e de Maria.
Irmão Afonso Maria, Bispo de S. Águeda e Reitor-mor
(Leia-se esta minha carta num dia de Capítulo, quando estão presentes todos ou quase todos os padres, estudantes e os outros irmãos da Congregação).
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(LIGÓRIO. Santo Afonso de. Cartas Circulares. Oficinas Gráficas Santuário de Aparecida, 1964, p. 74-79)