A religião católica não teme a ciência. A fé de forma alguma, é inimiga do progresso cientifico.
Verdade é que nossa religião não abandona seus bons e velhos princípios por causa de novas e infundadas hipóteses; mas, nem por isso ela entrava o verdadeiro progresso, antes pelo contrário, sempre o incrementou.
O tempo vem sempre confirmando posteriormente, quão acertado é esse seu modo de agir da Igreja.
Para mostrar quão prudente ele é citemos a teoria da origem do homem, a questão do darwinismo, que assediou durante séculos um dos fundamentos da fé: a diferença essencial entre o homem e o animal.
Não há muito, era nota elegante proclamar que o homem descende do macaco. E o ensinavam francamente como verdade demonstrada pelas ciências naturais. Enquanto, porém todo o mundo parecia adotar o darwinismo, a Igreja Católica não abandonou sua antiga doutrina da criação do homem. Apodaram-na de arcaica e antiquada. Ela não se importou. E o tempo deu razão à Igreja. Hoje emudecem, um por um, os pregadores da doutrina darwinista.
Devemos notar que os verdadeiros naturalistas se externaram, desde o princípio, com muita reserva e cautela a respeito da questão, e absolutamente não foram os sábios que anunciaram espalhafatosamente ao mundo a teoria simiesca da descendência humana. Algumas tímidas opiniões de naturalistas foram apanhadas, e vagas hipóteses vendidas como resultados científicos infalíveis, por certos espíritos a quem se apresentava tal doutrina como meio excelente para suas atividades destrutivas. Ateus, maçons, socialistas, comunistas e outros elementos subversivos, muito satisfeitos lançaram mão da teoria simiesca, pois seus objetivos podiam ser apoiados na aparência da realidade, se o homem de fato nada mais fosse do que um animal, alheio à influência das leis morais.
Desconheciam eles, acaso, a imensa dificuldade que a teoria, ainda por demonstrar tinha, de vencer? Naturalmente que a conheciam. Mas como a doutrina lhes viesse a talho de foice, fizeram ouvidos de mercador.
Qual é essa dificuldade?
O “missing-link”, pois faltava um elo na cadeia. Se realmente tudo se passa como Darwin o imaginou, eram precisos 14O milhões de anos, a fim de que o símio pudesse desenvolver-se em homem, e deveriam existir nas camadas geológicas milhares e centenas de milhares de seres de transição, de fósseis, cujos portadores já não eram macacos mas também ainda não eram homens. E justamente esses achados faltam. Os fósseis encontrados são ou positivamente crânios de macacos, ou verdadeiras cabeças de homem. Falta, pois, a prova decisiva da teoria da descendência animal: o elo de transição.
Apesar de tudo, alguns fanáticos asseclas de Darwin não mediram esforços para descobrir o esqueleto do “pithecanthropus”. Aparecia um crânio em alguma caverna logo pressentiam o macaco. O naturalista francês Quatrefages (fal. em 1892) aplicou-lhes um calmante, dizendo:
“Segundo a verificação unânime dos antropólogos, não temos mais o direito de considerar o cérebro do macaco como um cérebro de homem em evolução, nem o cérebro humano como o de um macaco evoluído… Não há transição entre o símio e o homem”.
Virchow, o mais ilustre dos adversários do darwinismo, externa-se sobre o assunto, como segue (Relação da Assembléia dos “Naturalistas do ano 1877):
“Não me admiraria e sim me horrorizaria se se comprovasse que devemos procurar nossos ascendentes entre os animais vertebrados…. Devo, porém, advertir que cada passo positivo que se deu no campo da antropologia pré-histórica, na realidade só nos afastou da prova dessa descendência”.
Depois disso, com razão, escreve o protestante Roberto Mayer, fundador da moderna teoria térmica (Pequenos Escritos e Cartas, Stuttgart 1893):
“Ao sistema de Darwin parece-me que posso opor o seguinte: Por fecundação e geração se originam ininterruptamente, ante nossos olhos, inúmeros seres vegetais e animais. Como isto acontece, todavia, é enigma indecifrável, intangível mistério para os investigadores da vida… Pois bem, enquanto confessamos nossa completa ignorância a respeito de fatos que ocorrem no presente, a nossa vista, aí vem Darwin, emulo de Deus, a fazer um minucioso relato de como se formaram os seres viventes sobre a terra. Na minha opinião isso está muito acima da capacidade humana…”
No entanto, avancemos um passo. Se a teoria simiesca gozasse de evidência, a transição deveria ter-se realizado não uma vez apenas, mas repetir-se sem cessar, e por isso haveríamos de encontrar hoje, aos milhões, os “seres de transição” que não fossem nem macaco nem homem, cujos avós símios se tivessem exaurido por tornar-se homens Entretanto, alguém jamais viu tais seres?
Donde se originou o homem? Da mão de Deus, cujo pensamento criador construiu o primeiro corpo humano, e lhe insuflou a alma vivificante e sublime, que anseia por tudo que é alto alcandorado. Esta é a resposta da religião.
Se o darwinismo pudesse responder apenas a esta pergunta: Qual foi a força misteriosa capaz de transformar um peludo trepador de árvores, em um Apolo do Belvedere, um Miguelângelo, um Shakespeare, um Rafael, um Marconi; a força que capacitou um macaco a inventar a locomotiva, a eletricidade, o rádio; a força que fez o símio compor a Divina Comédia, as Sinfonias de Beethoven, o Réquiem de Mozart; — e isso a um tempo em que o irmão desses irracionais ainda está trepado nas árvores, sem saber acender fogo, nem mesmo talhar uma cunha de madeira? Ensaie agora uma resposta, aquele que nega não ser o homem mais do que o animal, que o homem não possui uma alma inteligente!
“Não haverá uma fé mais extraordinária, maior do que a crença que admite uma universal emanação, um desenvolvimento natural? Donde, e de que provém a evolução mesma, ela que pôde produzir tão maravilhoso mundo? Realmente, se não quisermos cessar de refletir, precisamente no ponto onde a mais surpreendente manifestação da mais admirável causa nos obriga a investigar, não nos resta senão reconhecer que conseguiremos explicar este mundo unicamente se admitirmos um Espírito infinitamente superior e criador” (Foerster).
Segundo o darwinismo, o homem não é mais do que o resultado de evolução natural, quer dizer, entre homem e natureza não há diferença palpável. Contudo, basta lançar um olhar para dentro de nós mesmos e perceberemos a imensa e intransponível diferença que separa o mundo do. homem do mundo da natureza.
Raciocinemos: se não houvesse pinheiros, ficaria muito mudada, a fisionomia do mundo? Não creio. Viveram outrora muitos animais gigantescos: o elasmossauro de 15 metros, o ictiossauro, o pterodáctilo, etc., e pereceram, desapareceram. Quem lhes sente a falta? Ninguém. Por que? Porque tudo isso pertencia unicamente à imensa natureza. Se dela se perde uma ou outra partícula, não faz diferença.
Imaginemos agora o que seria, se o homem se extinguisse. Com ele sucumbiria um mundo incomensurável: religião, ciência, ideais, templos, direito, artes, indústria, comércio, educação, pinturas, ferrovia, aviação, rádio. Por quê? Exatamente porque o homem representa um mundo diferente do da natureza e todas as citadas riquezas da cultura não fazem parte da natureza, mas são florescências maravilhosas da vida da alma, situada fora da natureza. Destarte, não pode ter razão quem afirma ter-se o homem originado do animal, constituir apenas um ser da natureza, visto que então deveria produzir valores exclusivamente naturais. Ora, o homem é mais do que a natureza, logo não pode ser produto desta, um bisneto do macaco. Não pensemos, pois, que a ciência moderna tenha arrancado de nossa fronte o belo diadema: nossa descendência divina! Orgulhemo-nos dessa semelhança divina! Não! Não somos animais, nem andamos sobre quatro patas. Nossa cabeça não está voltada para o solo, nós olhamos para as estrelas. Não é nossa predestinação conseguir a maior soma de prazeres nesta vida. O amor ao que é belo e nobre, que flameja em nós, não é engano, não é utopia. Não são nossas paixões animalescas que têm o direito de nos comandar, nem o dinheiro ou gozos sensuais são a finalidade máxima de nossa vida.
Espero que ninguém depreenderá, de minhas palavras que se deva desprezar a ciência ou menosprezar o trabalho dos naturalistas. Absolutamente! Todo trabalho científico sério é coisa sagrada. No entanto, pode-se abusar da palavra “ciência” e o que aqui se leu, é apenas um justificado aviso contra os que fazem da ciência um emprego em abuso.
E sem embargo, ainda hoje muitos livros ensinam o darwinismo: Infelizmente assim é! Como se explica que, enquanto entre os sábios o darwinismo está a expirar, conta ainda com tantos adeptos ferrenhos no público?
A razão é clara. O darwinismo traz consigo uma moral cômoda, como hoje tantos desejam: completo desenfreamento moral. Ele é uma excelente máscara para justificar a mais animalesca imoralidade. Por isso a tantos agrada essa teoria. Onde o solo é pantanoso, paira, à noite, o fogofátuo da decomposição; o darwinismo é o fogofátuo da fétida corrupção moral da sociedade moderna.
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 144-150)