Aos Padres e Irmãos da Congregação do Santíssimo Redentor
Nota: Devido à idade e, mais ainda às enfermidades, julgava o Santo que seria esta a sua última Circular aos confrades; por isso como das outras vezes, insiste nos pontos capitais: a conduta em tempo de missões e a observância regular.
Pagani, 10 de julho de 1778.
Vivam Jesus, Maria e José!
A minha idade avançada e mais ainda as contínuas enfermidades, que não cessam de torturar-me, fazem-me crer que esta será a última recomendação que vos faço, meus caríssimos Padres e Irmãos. Justamente, por isso espero que haveis de por em prática as Recomendações que, em nome de Jesus Cristo, vos dirijo, considerando-as como um último penhor de meu amor para convosco.
É verdade que tenho toda a razão de alegrar-me por ter ouvido que em nossas casas se vive de maneira regular e edificante, atendendo cada um àquele fim para o qual Nosso Senhor o chamou à Congregação; mas também é verdade que, para grande dor de minha alma, me foi referido ter surgido na Congregação muitas desordens, especialmente a respeito das missões, sendo pois necessário empregar remédios oportunos.
Por isso, começando pelas missões, rogo tanto aos Superiores como aos súditos que observem escrupulosamente os antigos costumes no tocante ao comer, beber e não andar girando pelo povoado, a não ser no desempenho do ministério apostólico. E lembro a todos que sempre se reprovou o alimentar-se de aves, doces e bebidas finas e caras. Ora, com imensa dor, tenho ouvido que pouco ou nada disso se observa; dizem-me que alguns até procuram essas coisas e que por vezes fizeram trocar o vinho ou mandaram vir outro de fora com não pequena admiração do povo; e que saem a passeio e fazem visitas que não são necessárias.
Dessa maneira, como poderá Deus dar a Sua graça e abençoar os esforços de Seus operários? E como poderá o povo tirar proveito das pregações, quando os fatos são contrários àquilo que se ensina com palavras? Devem, portanto, os Superiores vigiar sobre este particular; e só permitam o uso de chocolate, quando a necessidade o exigir e a quem de fato dele precisar.
Além disso, recomendo aos Superiores que, no fim de cada missão, se faça o Capítulo das culpas; que nunca dispensem a meia hora de meditação, porque o operário evangélico deve ser iluminado para poder iluminar os outros, e, para acender nos corações dos outros o fogo do divino amor, deve primeiro ser ele mesmo inflamado. Tudo isto se consegue por meio da meditação.
Ademais, recomendo aos Superiores que sempre encarreguem os Padres mais novos das confissões dos homens: desde a fundação da Congregação sempre tem sido esse o costume entre nós.
Sobretudo nunca exijam das comunas pagamento das despesas, presentes ou dinheiro, para que as missões não se tomem odiosas; e, também, para não se extinguir ou arrefecer o exercício das missões, pois para isso unicamente foi fundada a Congregação do SS. Redentor.
Passando, agora, das missões ao que diz respeito ao governo interno das casas, cuide o Ministro de fazer o inventário de todas as coisas existentes em casa, isto é: na sacristia, alfaiataria, cozinha, adega e qualquer outro lugar, para ver se é preciso fazer nova provisão e para manter a boa ordem tão necessária nas Comunidades.
É indispensável, além disso, que se apresentem as contas, conforme a prescrição da Regra, e não se façam despesas que excedam a soma de dez escudos, sem o voto dos Admonitores e Consultores. E se esta minha ordem não for observada, ficam os Admonitores encarregados de me avisar imediatamente, para se dar a providência que convier.
Os Reitores não deem licença a quem quer que seja para demorar-se fora do Colégio por mais de oito dias; se houver necessidade de uma demora mais longa, a licença deve ser pedida ao Reitor-mor, a quem o súdito deverá escrever mensalmente, a fim de que ele saiba onde o mesmo se encontra e por que motivo permanece fora de casa.
Os Reitores jamais admitam estranhos à primeira mesa; e na segunda mesa não se permita que tomem refeição os criados ou gente de vil condição. Para eles prepare-se algum outro lugar decente. Nos primeiros tempos da Congregação usava-se neste ponto de toda a cautela possível; agora, porém, se está relaxando.
Para que tudo quanto afetuosamente acabo de prescrever entre em vigor e seja observado, resolvi (se Deus quiser), mandar a cada casa, todos os anos, um Visitador, que faça as minhas vezes. Ele, notando que minhas determinações não foram observadas (como tantas vezes tem acontecido), me informará de tudo, para eu tomar as providências necessárias. Os transgressores destas ordens saibam, porém, que Jesus Cristo os castigará por não terem ouvido a voz de seu representante.
Por fim, recomendo-vos a mais exata observância da Regra por nós professada; e rogando-vos, ao mesmo tempo, que vos lembreis da minha alma em vossas orações, de bom grado vos dou, caros Padres e Irmãos, em prova do amor que vos tenho, a minha bênção paterna.
Irmão Afonso Maria Bispo e Reitor-mor
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(LIGÓRIO. Santo Afonso de. Cartas Circulares. Oficinas Gráficas Santuário de Aparecida, 1964, p. 122-127)