Capítulo XXI
Terminada esta protestação, escuta em espírito e atentamente a sentença que no céu Jesus Cristo há de pronunciar do seu trono de misericórdia, em presença dos anjos e dos santos, no mesmo instante em que o sacerdote, aqui na terra, te absolver de teus pecados. Há de cumprir-se então no céu o que Jesus Cristo nos predisse, porque haverá aí júbilo ao verem o teu coração, de novo cheio de amor de Deus, reentrar na companhia dos anjos e dos santos, que se reunirão com tua alma no espírito de amor e paz e que entoarão na presença de Deus os cânticos sagrados repassados de alegria espiritual.
Ó meu Deus! Filotéia, que pacto mais admirável e feliz este, pelo qual tu te dás a Deus e Deus te dá a si mesmo e te reentrega a ti própria, para viveres eternamente. Nada mais te resta a fazer do que tomar a pena e assinar este ato de protestação e depois achegar-te ao altar, onde Jesus Cristo ratificará a promessa que fez, de dar-te o paraíso, pondo-se a si mesmo em seu Sacramento, como um selo sagrado sobre o coração renovado deste modo em seu amor.
Eis aí, pois, a tua alma neste primeiro grau de pureza, que consiste na isenção do pecado mortal e dos afetos que te podem levar a cometê-lo. Entretanto, como estes afetos costumam renascer em nós muitas vezes facilmente, devido à nossa fragilidade ou concupiscência, a qual podemos moderar e regrar, mas nunca podemos extinguir, torna-se necessário que eu te previna contra este perigo e desgraça, dando-te os avisos que me parecem mais salutares. Mas, porque estes mesmos avisos te podem conduzir a um segundo grau de pureza de alma muito mais excelente ainda que o primeiro, é necessário que, antes de os dar, eu fale desta pureza de alma mais preferida, a que te desejo conduzir.
Voltar para o Índice de Filoteia ou a Introdução à Vida Devota
(SALES, São Francisco de. Filoteia ou a Introdução à Vida Devota. Editora Vozes, 8ª ed., 1958, p. 72-74)