Escreve o grande Santo e grande gênio que foi Santo Agostinho:
«Na Missa o Sangue de Jesus Cristo corre pelos pecadores»
Estas palavras são tão preciosas, tão claras, que ninguém ousaria deturpar-lhes o sentido. São João Crisóstomo não é menos claro:
«O Cordeiro de Deus imola-Se por nós. O Seu sangue, saído do lado atravessado do Salvador, espalha-se de uma maneira mística sobre o altar e derrama-se no cálice para nos purificar»
Estas palavras do Santo Doutor podem talvez ser comentadas com estas outras de Kisseli:
«Cristo derramou uma só vez o Seu sangue de uma maneira visível e dolorosa. Esta efusão renova-se cada dia na Santa Missa de uma maneira invisível, como se as mãos do Salvador fossem de novo feridas, os Seus pés trespassados, o Seu coração aberto. Nós podemos aplicar-nos os Seus méritos infinitos pelos nossos desejos ardentes, pelo arrependimento, pela penitência, pela Santa Comunhão, mas nunca mais eficazmente que pela Missa»
Meditação para a Oitavo Segunda-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Meditaremos sobre o exercício da oração, como devendo ser, depois do levantar da cama, sobre que meditamos sábado passado, a primeira coisa que façamos no dia; e veremos: 1.º A sua excelência; 2.º Como devemos preparar-nos para ela. — Tomaremos depois a resolução: 1.º De nunca omitirmos a nossa oração, e para isto de a fazermos logo depois do levantar da cama, porque retardá-la equivale muitas vezes a omiti-la; 2.º De nos prepararmos para ela com uma vida contemplativa, e principalmente com a determinação do objeto da nossa oração na véspera à tarde. O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Davi:
"Se a vossa lei não houvera sido a minha meditação: então de certo houvera eu perecido" - Nisi quod lex tua meditatio mea est, tunc forte periissem (Sl 118, 92)
Dentre os mistérios de Jesus, nenhum há de mais útil recordação e mais digno de respeito, que a dolorosa Paixão pela qual nos resgatou. Os Santos Padres não se cansam de a comemorar e prometem, da parte de Deus, grande recompensa aos que Lhe prestam homenagem. Ora, se bem que os meios de prestar homenagem à Paixão sejam numerosos, pensamos que nenhum é sequer comparável à devota audição da Santa Missa, pois aqui a mesma Paixão se renova sobre o altar. É certo que não nos é dado ver por nossos próprios olhos a reprodução dos sofrimentos de Cristo; mas na Missa, tudo nos lembra estes sofrimentos, tudo os simboliza. O sinal da cruz, o mais expressivo dos símbolos, em tudo se nos depara. Encontra-se cinco vezes gravado sobre a sagrada pedra, encontra-se em cima do altar, está desenhado no missal na página que precede o Canon, bordada no amicto, no manipulo, na estola, na casula, cinzelado na patena. O padre faz dezesseis vezes o sinal da cruz sobre si próprio e trinta e nove vezes sobre a oferta. Significativa rememoração!
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 16, 1-9
1Disse ainda Jesus aos discípulos: «Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens. 2Mandou-o chamar e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.’ 3O administrador disse, então, para consigo: ‘Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha. 4Já sei o que hei-de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.’ 5E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’ Ele respondeu: 6‘Cem talhas de azeite.’ Retorquiu-lhe: ‘Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.’ 7Perguntou, depois, ao outro: ‘E tu quanto deves?’ Este respondeu: ‘Cem medidas de trigo.’ Retorquiu-lhe também: ‘Toma o teu recibo e escreve oitenta.’ 8O senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.» Reflexões sobre o dinheiro - 9«E Eu digo-vos: Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas.
«Temos por advogado para com o Pai a Jesus Cristo, o Justo por excelência. E Ele mesmo é a Vítima de propiciação pelos nossos pecados»
Preciosa garantia da nossa salvação é esta de termos o filho de Deus, o próprio assessor do Pai, a intervir a nosso favor e a patrocinar a nossa causa. Mas onde e quando é que Nosso Senhor desempenha esta função? Ensina a Igreja, que não é apenas no Céu, mas também na terra.
«Cada vez que se oferece o Santo Sacrifício, diz o sábio Suarez, Nosso Senhor reza por aquele que o oferece e por aqueles por intenção de quem é oferecido»
Primeiro que tudo reza pelo Padre, pelos assistentes e por todos aqueles que o Padre e os assistentes têm em vista.
«Cristo sacrificado chama por Seu Pai e mostra-Lhe as Suas sagradas chagas a fim de comover o Seu coração e nos livrar das penas eternas»
Meditação para o Sétimo Sábado depois de Pentecostes
SUMARIO
Trataremos das ações particulares, que nos prescreve a nossa regra de vida. Começaremos pela ação de levantar da cama, que é a primeira do dia, e veremos: 1.° A importância de a fazer bem; 2.º A maneira de a fazer bem. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De nos erguermos da cama sempre na hora determinada e de pronto; 2.° De acompanhar esta ação com modéstia, com espírito de piedade, e principalmente com a preparação do objeto da nossa oração. O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São João Crisóstomo.
"Dai ao Senhor as primícias do vosso dia; ele será todo daquele que o ocupar primeiro" - Domino primitias diei tuœ; erit enim tota illius qui prior occupaverit (São João Clímaco, gr. 26, num. 103)
Na Santa Missa, temos ante os olhos o Divino Menino, que os pastores encontraram num presépio desabrigado, que os Magos adoraram, que o velho Simeão teve nos seus braços trémulos de gozo. É Ele que por intermédio do padre, nos prega o Evangelho; e a graça que recebemos não é menor que se da própria boca de Jesus ouvíssemos a Boa Nova. Mudando o vinho no Seu próprio Sangue, opera maior prodígio que o das bodas de Caná. Transformando o pão no Seu próprio Corpo, renova o mistério inefável da última Ceia. É imolado mais uma vez sobre o altar, não pela mão dos algozes, mas realmente entre as mãos do sacerdote, que O oferece como Vítima expiatória ao Deus onipotente. Por isso diz o grande teólogo Sanchez que «aquele que souber aproveitar a Santa Missa, pode receber por ela o perdão dos seus pecados e a efusão das graças celestes, tão bem como se houvesse vivido no tempo do Salvador e assistido a todos os seus Mistérios».
Meditação para a Sétima Sexta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Depois de termos meditado sobre as nossas ações em geral, meditaremos: 1.º Sobre a importância de uma regra de vida, que assine a cada ação em particular o seu tempo e o modo de a praticar; 2.º Sobre o modo de fazer e observar esta regra. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De compor esta regra de vida, se ainda não a temos; 2.° De a observar com pontualidade e amor até nas suas menores partes. Conservaremos como ramalhete espiritual a palavra dos santos:
"Quem vive segundo a regra, vive segundo Deus" - Qui regulae vivit, Deo vivit (São Gregório de Nissa)
Que este mistério se renova em cada Missa, prová-lo-ei pelo testemunho de um mestre célebre:
«A Santa Missa, diz Marchant, é uma representação viva e perfeita, ou antes uma renovação da Encarnação, do nascimento, da vida, da paixão, da morte de Cristo e da redenção, que realizou»
Estas palavras parecerão estranhas a muitos, mas, segundo a exposição seguinte ninguém lhes contestará a verdade. Jesus Cristo não se contentou de Se fazer homem uma vez única. Encontrou, na Sua sabedoria infinita, o sublime segredo de reproduzir todos os dias, a toda a hora, em toda a parte, em nova Encarnação operada no altar, a satisfação já uma vez oferecida à Santíssima Trindade.
Breve introdução sobre a humildade e mansidão e o Apóstolo Patrono
Sem a humildade não se pode agradar a Deus:
"Deus resiste aos soberbos, dá a Sua graça aos humildes" (Tg 4, 6)
A humildade de espírito consiste em nos termos por miseráveis como realmente o somos. Na prática: 1.º Desconfiemos sempre de nós mesmos; 2.º Não nos gloriemos de coisa alguma;evitemos até falar a nosso respeito; 3.º Não nos indignemos contra nós mesmos depois duma falta, mas levantemo-nos, contando com o socorro de Deus para não cairmos mais; 4.º Sejamos compassivos para com as quedas dos outros; 5.º Olhemo-nos como os maiores pecadores do mundo, pois tantas graças havemos recebido e tão pouco nos havemos aproveitado delas. — A humildade de coração exige que folguemos de ser desprezados pelos outros. Na prática: 1.º Recebamos tranquilamente as admoestações, e agradeçamos a quem nos corrige; 2.º Quando recebemos alguma afronta, suportemo-la com paciência, e procuremos amar ainda mais aquele que nos despreza. Que de desprezos não padeceu Jesus por nós? Dize, muitas vezes, com Santo Agostinho:
“Senhor, fazei-me conhecer quem Sois Vós e quem sou eu, para que Vos ame e me despreze”
Sabes quantos pecados cometestes; sabes que tua vida inteira é uma cadeia ininterrupta de faltas e que merecestes talvez mais castigo do que recompensa por tuas boas obras, visto estarem cheias de imperfeições. Persuade-te, pois, que ignomínia e desprezo é que mereces e alegra-te quando os tiveres de suportar. Nunca fales coisa alguma em teu louvor, quer se trate de teus talentos, de tuas boas obras, de teres ilustre descendência ou de qualquer outra prerrogativa. Quando, porém, fores louvado por outros, humilha-te interiormente, lançando uma vista a teus pecados. Sendo criticado, não te irrites com isso, agradece antes a quem te repreende, pois seria muito injusto, como diz São Bernardo, se quisesses te irritar contra aquele que te mostra o caminho da salvação. Mesmo sendo a repreensão injusta, deves, por amor à santa humildade, renunciar à tua defesa, a não ser que a tua justificação seja necessária para evitar um escândalo público. Convence-te que, para chegares à perfeição, deves ser humilhado sensivelmente. Ainda que todos que te circundam fossem santos, Deus saberia dispor as coisas de tal maneira que encontrarias toda a espécie de contradição, e serias desprezado, criticado e posposto aos outros. Por isso toma a peito a bela admoestação que o Pe. Torres dava a seus penitentes:
“Rezai todos os dias um Pai-Nosso e uma Ave-Maria em louvor da vida desprezada de Jesus e oferecei-vos para suportar não só com calma, mas até com alegria, toda a adversidade e desprezo que Deus vos enviar; pedi-Lhe ao mesmo tempo Seu auxílio para que possais executar a vossa resolução’'
Não te deixes dominar jamais peia ira, aconteça o que acontecer. Se às vezes te sentires internamente irritado, encomenda-te quanto antes a Deus, reprime tua língua e nada faças antes de se acalmar por completo tua irritação. Se tiveres de dar alguma ordem a alguém, faze-o mais suplicando do que mandando. Se tiveres de agir com severidade, acautela-te contra todo o azedume, tão desaprovado por São Tiago; ajunta sempre à séria exortação algumas palavras de bondade. Mostra-te benévolo e caridoso para com todos, em toda a ocasião e lugar, mas especialmente quando encontrares alguma contradição. Para esse fim prepara-te na oração para todas as contrariedades que te poderão suceder; assim praticaram os santos e essa prática levou-os a suportar com paciência todas as ofensas, e até pancadas e maus tratos. Não percas igualmente a coragem à vista de teus próprios defeitos, mas ergue-te com toda a tranquilidade de tua queda, humilha-te diante de Deus e continua resolutamente o teu caminho. Sumário I. A sua natureza II. Da grande importância da Humildade III. Da Humildade do Entendimento IV. Da Humildade da Vontade V. Da grande importância da Mansidão VI. Do Exercício da Mansidão VII. Meios contra a Raiva VIII. A Humildade e a Mansidão do Redentor IX. A Prática da Humildade e da Mansidão X. Orações para alcançar a Virtude do Mês