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Amor do Próximo

Meditação para a Vigésima Primeira Terça-feira depois de Pentecostes. Amor do Próximo

Meditação para a Vigésima Primeira Terça-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Depois de termos meditado durante algumas semanas sobre o amor de Deus, meditaremos agora sobre o amor do próximo, e veremos os dois mandamentos que Jesus Cristo nos impôs a este respeito. O primeiro é este: Amai ao vosso próximo como a vós mesmos. O segundo, muito maior, encerra-se nestas palavras: Eu dou-vos um novo mandamento, que é que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De tratarmos atenciosamente o próximo, qualquer que ele seja;

2.° De nunca fazermos a ninguém o que não quiséramos que nos fizesse, e de fazermos sempre aos outros o que desejaríamos que nos fizessem.

Conservaremos como nosso ramalhete espiritual as duas palavras do Evangelho:

“Amáveis ao vosso próximo como a vós mesmos, e dou-vos um novo mandamento que é que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei” (Mt 22, 39)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo impondo-nos o preceito de nos amarmos uns aos outros. É um pai de família que quer ver todos os seus filhos unidos pelos vínculos de uma reciproca caridade, de forma que todos sejam uma só alma e um só coração. De onde se segue que entre os homens a caridade é sempre devida, e nunca paga (1), diz Santo Agostinho. Oh! Quanto é amável Jesus neste mandamento, e digno de todo o nosso louvor e admiração!

PRIMEIRO PONTO

Jesus Cristo manda-nos que amemos ao próximo como a nós mesmo

Pesemos o sentido destas palavras: devemos amar ao próximo como a nós mesmo, isto é, que nunca devemos fazer a outrem o que não quiséramos que nos fizesse (2), e que devemos fazer o que quiséramos que nos fizesse a nós (3); isto é, que não basta não querer mal ao próximo, é necessário também querer-lhe bem, alegrar-nos com a sua prosperidade, entristecer-nos com a sua adversidade, como se isso nos acontecesse a nós mesmos; isto é, que devemos estar prontos a prestar-lhe serviços, a socorrê-lo e a assistir-lhe quanto podermos; evitar tudo o que lhe desagradar, quer na conversação, quer nas obras, encobrir os seus defeitos, desculpá-los, atenuá-los quanto possível, e quando os outros falarem deles, desviar a conversação para outros objetos; isto é, finalmente, que devemos interessar-nos com caridade e zelo por tudo o que lhe disser respeito, principalmente pela sua salvação, folgarmos com as graças que recebe, lastimar as culpas que comete, e reputar-nos felizes por tudo o que pudermos fazer para bem da sua alma. São deveres estes tão profundamente gravados no nosso coração, que não podemos omiti-los sem a nós mesmos nos criminarmos e sem sentirmos, que obramos mal.

Entremos dentre em nós: é assim que temos amado ao próximo? Não temos nem ódio, nem ressentimento a pessoa alguma? Amamos a todos os homens do coração ? Estamos dispostos a mostrar bom agrado, e a prestar serviços a todos? Nós que somos tão melindrosos acerca de tudo o que nos respeita, compreendemos quanto nos enganaríamos lisonjeando-nos de amar ao próximo como a nós mesmos, quando nenhum interesse tomamos por ele?

SEGUNDO PONTO

Jesus Cristo manda-nos que nos amemos uns aos outros, assim como Ele nos amou

Ah! Quanto mais explicito é este novo mandamento de que o primeiro! Jesus Cristo amou-nos:

1.° Como Deus; e quem pode exprimir quanto amor, quanta ternura e misericórdia há no coração de Deus para com a sua criatura? Feitos à imagem deste Deus essencialmente bom, infinitamente bom, devemos tender a ser bons como Ele nos nossos sentimentos, ações e palavras.

2.° Jesus Cristo amou-nos como homem-Deus; e quem poderia dizer até que ponto levou esse amor, Ele que nunca causou o menor desgosto a alguém, e andou pela terra fazendo bem e acolhendo a todos com agrado (4); Ele que, depois de uma vida toda de caridade, sofreu por amor quanto é possível sofrer, e morreu de amor; Ele, finalmente, que, há mais de vinte séculos, continua nos nossos altares a sua vida de amor e de sacrifício? Ó Senhor Jesus, quanto devemos pois amar os nossos irmãos! Que amor poderá ser tão forte, tão generoso, que se pareça com o vosso? Há alguma injúria que não devamos estar dispostos a perdoar, algum sacrifício que devamos hesitar em fazer? Há alguma frieza ou indiferença que não deva extinguir-se, algum ressentimento que não deva acabar, alguma repugnância que não deva desaparecer, ouvindo esta palavra:

“Dou-vos um novo mandamento, e é, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei?”

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Charitas semper debetur, et nunquam exsolvitur (Santo Agostinho, Ep. 62, ad Caelest)

(2) Quod ab alio oderis fieri tibi, vid ne tu aliquando alteri facias (Tb 4, 16)

(3) Prout vultis ut faciant vobis homines, et vos facite illis similiter (Lc 6, 31)

(4) Pertansit benefaciendo

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 117-120)

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