Meditação para a Segunda-feira da Trindade
SUMARIO
Consideraremos o Mistério da Santíssima Trindade:
1.° Como o encanto da esperança;
2.° Como o encanto do amor.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De repetirmos muitas vezes durante o dia esta aspiração: A Deus, um só em três Pessoas confiança e amor, e de acompanharmos todas as nossas orações deste dúplice sentimento, que tão bem merecem o Pai, o Filho e o Espírito Santo;
2.° De servirmos a Deus e de fazermos todas as nossas ações, não por espírito de temor, que é próprio dos escravos, mas por espírito de confiança e de amor, que convêm aos filhos.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:
“Deus não nos deu um espírito de pusilanimidade, mas de amor” – Non debit nobis Deus spiritum timoris, sed… dilectionis (2Tm 1, 7)
Meditação para o Dia
Elevemos os nossos pensamentos além dos esplendores dos Santos, a uma distância infinita das mais sublimes inteligências, dos mais puros Querubins. Contemplemos, adoremos e louvemos o mistério da essência divina, da natureza até de Deus considerada no mais íntimo arcano de Sua substância, e supliquemos-Lhe que nos faça ver neste mistério o encanto da nossa esperança, e ao mesmo tempo o encanto do nosso amor.
PRIMEIRO PONTO
O Mistério da Santíssima Trindade encanto da nossa Esperança
Se somente nos considerássemos em nós mesmos, com a nossa fraqueza para todo o bem, a nossa tendência para o mal, e as culpas que temos cometido, haveria motivo para esmorecermos; mas se olharmos para a Santíssima Trindade, imediatamente a nossa esperança renasce e exulta. Nós vemos na primeira das Pessoas divinas um Pai, que nos ama até querer que sejamos chamados Seus filhos, e que com efeito o sejamos (Jo 3, 1); na segunda, um Medianeiro, que oferece o Seu sangue em paga das nossas dívidas, um pontífice que roga por nós, um advogado que defende a nossa causa; e na terceira, um Amigo, ocupado de noite e de dia na nossa santificação, um amparo da nossa fraqueza, uma luz nas nossas trevas, um consolador nas nossas aflições, o inspirador de todos os bons pensamentos, de todos os piedosos afetos ou propósitos, o autor das graças que movem, que convertem, que formam os Santos.
Ó doce nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, como tranquilizais o coração! Como o fazeis andar em esperança! Como a alma, que Vos preza, Vos saboreia com alegria e delícias!
É em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, que o batismo nos regenera, que a confirmação nos torna perfeitos cristãos, que a penitência nos perdoa os nossos pecados, que o matrimônio une os fiéis, e que a ordem consagra os sacerdotes.
É em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, que a Igreja abençoa os seus filhos, que termina os seus salmos e os seus hinos. É este doce nome, que ela ensina primeiro à infância, quando sai do berço, e que ela repete a Deus em favor do moribundo à borda da sepultura (1). Tanto a Igreja vê no mistério da Trindade o amparo, a fortaleza, e encanto da esperança cristã! A exemplo da Igreja, confiemos com amor no Pai e no Filho e no Espírito Santo.
SEGUNDO PONTO
Mistério da Santíssima Trindade encanto do Amor
Nada há mais próprio para encher o coração de amor do que o pensamento do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Nunca Deus me parece mais belo, mais Deus, se assim posso dizer, do que quando, penetrando no segredo da Trindade, contemplo as Suas inefáveis operações, as divinas grandezas plenamente conhecidas pelo Pai, louvadas como merecem pelo Verbo, e amadas dignamente pelo Espírito Santo. Nunca a caridade incita mais vivamente o meu coração a exclamar: Sim, em verdade, Deus é todo amor.
O Pai é amor: porque, não contente de ser o Pai do Verbo eterno, quer ainda ser o nosso: Pai por criação, pois que nos deu a existência (2); Pai por providência, pois que tem tanto cuidado dos filhos, que pôs no mundo (3); Pai por predestinação, pois que desde toda a eternidade nos gerou para sermos Seus filhos adotivos no mesmo seio em que gera o seu Verbo (4); Pai pela pregação do seu Evangelho (5); Pai pela regeneração do batismo (6); Pai pela graça santificante, que põe nos nossos corações o Espírito de seu Filho com a confiança de clamar: Pai, Pai! (7); Pai finalmente por um amor que nenhum pai teve jamais (8); amor inconcebível que chega até a imolar o Seu primogênito para nos salvar da morte (9). Ó Deus! Vós sois, pois, meu Pai, e eu sou Vosso filho. Ouvindo esta palavra, que coração não se derreteria em amor? Quem não teria um coração infantil com tão bom Pai?
E Vós, também, ó Filho eterno de Deus, Sois todo amor. Por mim, fizeste-Vos homem; por mim sacrificastes a Vossa vida, e não Vos pejais diante de Vosso Pai e do Vosso Espírito Santo de me chamar Vosso irmão (10), de me assentar no Vosso trono (11); e não podendo fazer de mim um Deus por natureza, quisestes que eu o seja pela graça (12).
E Vós, Santo Espírito, Sois também todo amor, pois que Sois o primeiro amor do Pai e do Filho, igual ao Vosso princípio; e é por Vós que o Filho se deu a mim; é por Vós que a caridade se derrama nos nossos corações (13); é por Vós que se fazem as boas orações (14). Viveis em nós como no Vosso templo, para corrigir os nossos defeitos, nos formar para as virtudes, e de pecadores que somos nos fazer Santos (15).
— Que há, pois, mais amável que as três Pessoas da Santíssima Trindade! E não termos três corações para amar cada uma delas! Mas consolemo-nos: amando um só Deus, amamo-las todas três ao mesmo tempo, pois que não tem senão uma e mesma natureza. Ó amor! Abrasai o meu coração; não viva eu mais senão para o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Licet enim peccaverit, tamen Patrem, et Filium, et Spiritum Sanctum non negavit, sed credidit (Oração dos Agonizantes)
(2) Ipse est Pater tuus, qui… creavit te (Dt 32, 6)
(3) Tua, Pater, providencia gubernat (Sb 14, 3)
(4) Praedestinavit nos in adoptionem filiorum (Ef 1, 5)
(5) Voluntarie genuit nos verbo veritatis (Zc 1, 18)
(6) Renatus ex aqua et Spiritu Sancto (Jo 3, 5)
(7) Misit Deus Spiritum Filii sui in corda vestra clamantam: Abba, Pater (Gl 4, 6)
(8) Nemo tam pater quam Deus
(9) Benevolentia Patris Christum occidit
(10) Non contunditur fratres eos vocare (Hb 2, 11)
(11) Volo ut ubi sum ego, et illi sint mecum (Jo 17, 24; Ap 3, 21)
(12) Ipsi in nobis unum sint (Jo 17, 21)
(13) Charitas Dei diffusa est in cordibus nostris per Spiritum Sanctum qui datus est nobis (Rm 5, 5)
(14) Spiritus postulat pro nobis gemitibus inenarrabilibus (Rm 8, 26)
(15) Spiritus Dei habitat in vobis (1Cor 3, 16)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 142-146)