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A Natividade da Santíssima Virgem

Compre o livro Flores a Maria!

Motivo de alegria para o céu

A Santíssima Trindade contemplou desde sempre com a maior complacência esta amável menina, obra prima de Suas mãos. Deus Pai a olhou como sua Filha querida e digno objeto de Sua ternura; Deus Filho a considerou como sua Mãe e templo vivo, onde devia residir um dia; Deus Espírito Santo a amou como Sua esposa diletíssima, e lhe preparou toda a abundância das Suas graças mais preciosas. As celestes inteligências a reconheceram como sua Rainha, e se empenharam em celebrar seu nascimento e oferecer-lhe o tributo de seu respeito e amor. Bendigamos e adoremos os inefáveis desígnios da augusta Trindade em favor de Maria. Unamo-nos aos espíritos bem-aventurados, e regozijemo-nos com eles pelas graças especiais que o céu concedeu a esta menina no momento de seu nascimento. Peçamos-lhe que nos tome debaixo de sua proteção desde já e por toda a nossa vida.

De esperança para a terra

Havia quatro mil anos que o universo suspirava pela vinda do Redentor prometido. Aproxima-se enfim o momento, em que Ele deve aparecer sobre a terra, e livrar os homens do triste cativeiro a que o pecado os havia reduzido. Assim como a aurora precede o sol e anuncia a chegada deste astro benéfico, que vem alumiar e fertilizar a terra; assim o nascimento de Maria anuncia o próximo aparecimento do verdadeiro Sol de justiça, que vem ilustrar a todos os homens, dissipar de seu espírito as trevas da ignorância e do pecado e derramar sobre eles as celestes influencias da graça. Com que empenho não devemos sair ao encontro desta Virgem amável, apresentar-lhe a homenagem de nossos sentimentos, tributar-lhe respeitos como a nossa Soberana, consagrar-lhe os corações como a nossa Mãe, implorar sua assistência, e dirigirmo-nos a Ela como a nossa protetora e advogada?!

De terror para o inferno

Grande sem dúvida deveria ser a raiva do demônio, quando viu pela primeira vez esta Mulher forte, anunciada desde o princípio do mundo para lhe esmagar a altiva cabeça. Com que inveja não veria ele as graças admiráveis, as sublimes prerrogativas de que sua alma era enriquecida?! Este inimigo do gênero humano tinha, pela sua malícia, precipitado o homem na mais terrível desgraça e conservava-o cativo debaixo de seu horrível império; mas a Virgem, vai dar ao mundo o divino libertador, combater o demônio, desarmá-lo, vencê-lo. Rendamos mil ações de graças a Deus por nos ter dado a Maria para lançar por terra todos os inimigos que tão cruamente nos perseguem. Recorramos com firme confiança a esta poderosa protetora, invoquemo-la com fervor, especialmente nas tentações, Ela afugentará de nós todos os inimigos da salvação.

ORAÇÃO

Amável Menina, divina Maria, eu me prostro com respeito junto de vosso berço, saudando-vos no instante de vosso feliz nascimento como à aurora que nos anuncia a vinda do Sol de justiça; e vos peço que aceiteis a oferta do meu coração, neste primeiro momento de vossa vida mortal. Nasceis para nossa felicidade; vindes à terra para ser a consoladora dos aflitos, o amparo dos fracos, o refúgio dos pecadores, o asilo de todos os desgraçados. Recebei-me, pois, debaixo de vossa proteção, dignai-vos interceder por mim a vosso divino Filho, para que me livre do peso de meus pecados, dissipe as trevas do meu espírito, afaste os afetos desordenados do meu coração, reprima os esforços e tentações dos meus inimigos, e assim ajudado por sua graça, eu regule de tal modo a minha vida, que possa, com seu socorro e debaixo de vossos auspícios, chegar ao feliz porto da vida eterna.

Agora se faz o Ato após a Meditação

EXEMPLO

Sittour e a Virgem Santa Maria

A seguinte narração é uma notabilíssima vitória alcançada pela Santíssima Virgem.

Trata-se de uma jovem indiana. Apresentou-se ela um dia em um hospital, onde serviam de enfermeiras algumas religiosas franciscanas, acompanhada de uma velha que havia ainda pouco tempo lá tinha sido tratada com desvelo pelas boas religiosas.

Apenas entraram a moça declarou que não queria mais dali sair. Ouvindo isto a superiora, interrogou-a, e eis o que ela lhe contou:

“Sou filha unica; mal conheci meu pai, porque, quando ele faleceu, era eu ainda pequenina. Bem cedo perdi, pois, a proteção paterna!… Minha mãe adorava-me, e, como era uma pagã muito piedosa, quando ia ao templo, levava-me sempre consigo. Enquanto não tive uso de razão acompanhava-a, mas desde que a minha inteligência se formou, a minha razão se esclareceu, não entrei mais nesse templo, onde se adoravam uns ídolos, que eu não podia adorar.

Quando minha mãe ia assistir às festas, em honra dos seus deuses, eu ficava só, e então, levada por um íntimo sentimento que me dizia que não podia ser aquela a verdadeira religião, entregava-me a profundas cogitações.

Assim vivi até que completei 19 anos. Foi então que nos apareceu um dia à porta de casa uma senhora que eu até ali nunca tinha visto. Apenas chegou, fitou-me com olhar impregnado de ternura e, voltando-se para minha mãe, disse-lhe estas palavras, desaparecendo imediatamente:

— Leva tua filha para o convento

Ouvindo isto, senti repentinamente desejos de lhe obedecer e quis partir para aonde essa senhora me mandava, porém minha mãe opôs-se. Um mês depois, essa senhora voltou e, dirigindo-se novamente a minha mãe, repetiu-lhe as mesmas palavras; mas recebeu uma resposta negativa. Então voltando-se para mim, me disse com voz doce mente melodiosa:

— É preciso que sejas cristã”

Fez depois o sinal da cruz e ensinou-me a fazer também, dizendo em seguida:

“Fica em paz! Graças a este sinal, o demônio não virá nunca junto de ti. Não esqueças também que para entrares no Céu é preciso que sejas cristã”

Neste ponto da narrativa a superiora interrompeu Sittour, que assim se chamava a jovem indiana, e perguntou-lhe se ela sabia de onde vinha essa senhora.

“Nem sei de onde vinha nem para onde ia. Minha mãe também nunca a tinha visto antes das suas repentinas aparições em nossa casa”

A superiora pediu-lhe algumas explicações sobre o rosto e vestuário da desconhecida, ao que Sittour respondeu com entusiasmo:

“Oh! A senhora era linda, muito linda, e trajava um longo vestido branco. A cútis não era negra nem como a de nenhuma indiana, era alva, muito alva, o que mais fazia sobressair o rosado das faces. Os cabelos, semelhantes à cor do cobre, mas muito mais lindos, e as mãos que rivalizavam na alvura com o rosto, eram tão brancas, tão brancas!…”

“E essa senhora teria filhos?” —perguntou-lhe a superiora.

“Não tinha; disse-me que era virgem e desde então eu que jamais tinha desejado casar-me, formei a resolução de me conservar virgem também, e sinto que de dia para dia esta resolução se fortifica e aumenta”

“Perguntaste como se chamava?”

“Perguntei e disse-me que era a Virgem Santa Maria, e logo em seguida partiu”

“Para onde? — perguntou a Superiora. — “Não sei, respondeu Sittour melancólica, e debalde tenho perguntado por ela que ninguém a conhece!”

“Não imagina quanto sofro pela não tornar a ver! Amo-a tanto, tanto!”

E Sittour calou-se, não podendo exprimir o que sentia. Depois de ’uma ligeira pausa continuou:

“Minha mãe faleceu daí a pouco e eu fiquei entregue á solicitude de minha tia e toda a minha família se desvelou em cuidados por mim.

Cobriram-me de jóias, mas eu lembrando-me que a Virgem Santa Maria não as trazia, e querendo imitá-la quanto possível, tirei-as. Minha tia encolerizou-se comigo e eu para acalmar-lhe a cólera, consenti em que me pusessem ao pescoço um colar de pérolas e nada mais.

Mas a luta não terminou aqui. Passado algum tempo resolveram que eu devia casar-me, e, como me negasse a fazê-lo, deram-me a escolher entre o casamento, ou o abandono dos meus. Sofri e sofri muito, mas a minha resolução estava tomada, e não consenti em me casar. Minha tia convencida de que eu não acederia aos seus desejos, pôs-me fora de casa. Esta boa mulher que me conduziu aqui, teve pena de mim e recolheu-me por caridade.

Ela não é cristã, mas tem sido muito boa para mim. Um dia adoeceu e veio para este hospital onde a trataram. Voltando para casa disse-me: — Sittour, vou dar- te uma notícia; sabes quem me tratou no hospital em Coimbatour? Foram virgens cristãs que lá têm um convento.

Ouvindo isto, lembrei-me da ordem que a senhora cristã tinha dado a minha mãe, e, como esta boa velha tinha que voltar para hospital, resolvi-me a vir na companhia dela. Pedi-lhe que m’o consentisse e da melhor vontade anuiu ao meu pedido. Desde que entrei nesta casa, sinto imensa alegria e diz-me o coração:

— Eis aqui o lugar aonde deves viver. Se me perguntais porque tenho esta vontade, não vo-lo poderei dizer, porque eu própria o não sei. Foi por certo o Deus dos cristãos que a fez brotar no meu coração, sem que eu saiba como. Antes de para aqui entrar, sentia-me doente, e agora parece que a saúde me foi restituída repentinamente. Contudo deixai-me confessar-vos que ainda um grande pesar me enluta o coração: É a ideia de que nunca mais verei essa cristã, a Virgem Santa Maria! Ela é tão boa e eu amo-a tanto!

— Tornarás a vê-la, Sittour, prometo-te eu, lhe disse carinhosamente a superiora, se continuares sempre a amá-la muito, e procurares constantemente imitá-la nas suas sublimes virtudes, as quais eu te farei bem conhecer”

A esta tocante narrativa só temos a acrescentar que as boas religiosas, vendo no rosto dessa criança os reflexos de uma alma que o divino Mestre escolheu, a receberam com imenso júbilo na sua comunidade, onde, passado algum tempo, professou. Quando lhe falam de Deus, o seu rosto, que impressiona quantos o vêem, ilumina-se de uma alegria divina!

Mais uma vez não podemos deixar de acreditar que, mesmo entre os pagãos, há almas predestinadas!

— É certo que só as autoridades eclesiásticas tem direito de dar o seu parecer sobre a narrativa da jovem conversa; nós faremos somente notar que uma mulher alva e rosada, cabelos castanhos e vestida de branco, é um mito nesse grande país das índias; e além disso a candura e ingenuidade da jovem indiana, não permitem que se suspeite da sua boa fé! Parece relatar a sua história sem pensamento reservado, não suspeitando sequer da intenção que as pessoas mais ilustradas possam dar às suas palavras.

Ah! Quem poderá jamais conhecer todas as vitórias alcançadas pela Santíssima Virgem!

OUTRO EXEMPLO

O Marechal Bugeaud e a sua medalha

No mês de Maria, quando a veneração, a confiança e o amor para com a Santíssima Virgem, vibram mais que nunca nos corações, julgamos a propósito recordar uma historinha, que muitos talvez conheçam já, mas que é muito própria a confirmá-los nos seus bons sentimentos, lembrando-lhes, com que nobre altivez, algumas das mais belas glórias militares, praticavam a devoção à Rainha do Céu!

O Marechal Bugeaud, nunca mais se quis aparar de uma medalha de Nossa Senhora, que sua filha lhe tinha dado quando fez a primeira Comunhão. Comprovam-no os seguintes fatos:

Certo dia de expedição, duas horas depois da partida, Bugeaud, reparou que se tinha esquecido da medalha; chama um soldado e diz-lhe:

“Meu bravo, o teu cavalo árabe pode sem custo andar quatro léguas por hora; eu deixei a minha medalha pendurada na barraca de campanha, e não quero dar batalha sem ela. Vai, pois, buscar-m’a que eu demoro a partida e, com o relógio na mão, espero-te duas horas”

O cavaleiro partiu a toda a brida e uma hora depois estava de volta.

Quando entregou a medalha ao marechal, este, sem se envergonhar, beijou-a piedosamente e, colocando-a no peito, disse em voz alta:

“Agora posso partir sem receio. Com a minha medalha, nunca fui ferido. Avante soldados, vamos derrotar os Rabilas”

E partiu confiado em Maria a bater o inimigo.

No ano seguinte, o bispo de Alger, convidou para um jantar o referido marechal e vinte dos seus principais oficiais, em honra dos sucessos obtidos contra os mesmos Rabilas. Depois do banquete, quando conversavam no salão, o marechal Bugeaud, vendo que o venerável prelado agitava distraidamente a cruz episcopal, disse-lhe sorrindo:

“Julga talvez Vossa Grandeza que é o único que traz ao peito semelhante emblema?

— Acaso o Sr. Marechal aspira às honras do episcopado?

— Não, monsenhor, mas isso não me impede de trazer ao peito alguma coisa parecida com a sua cruz”

E o valente guerreiro mostrou a medalha dizendo:

“É a minha salvaguarda; desde que minha filha m’a deu, nunca mais dei batalha sem a levar ao peito!”

Estas palavras foram escutadas com respeitosa admiração pelos generais e coronéis, que não esperavam uma tal resposta da parte do Governador da Argélia.

Que belo exemplo de confiança na Santíssima Virgem nos legou este bravo militar!

LIÇÃO
Sobre a Devoção a Maria Santíssima

A estimação que Deus faz de uma coisa deve ser a única regra para justamente a avaliarmos; as suas afeições devem ser a regra invariável das nossas.

Para compreender o que deveis julgar de Maria e até que ponto deveis amá-la, ponderai a estimação que Deus fez dela, os sinais de amor que lhe deu.

“A multidão das minhas Esposas, nos diz o Espírito Santo, é inumerável: porém, há uma, a quem mais que a todas, adornei de perfeições”

Esta Esposa tão particularmente presada de Deus, deve ter o império dos nossos corações, possuir, depois de Deus, todo o nosso afeto.

O amor que Deus lhe tinha, O moveu a conceder-lhe todos os privilégios que a podem distinguir; e o amor que lhe devemos ter, deve distingui-la entre tudo o que, depois de Deus, pode merecer a nossa afeição.

Deus amou-a tanto, que depois de Si lhe deu o primeiro lugar no céu, e na terra. No céu e na terra não há, depois de Deus, objeto mais digno do nosso obséquio, do nosso respeito e amor.

Por isso todos os justos lhe deram em seu coração o primeiro lugar depois de Jesus.

Dizem os Santos Padres, que debalde se lisonjeia de amar o Filho quem não amar a Mãe, porque estes dois amores não se separam.

Dizem que olhemos para o amor que temos a Maria, como para um dos mais certos sinais de predestinação, um dos mais preciosos dons da graça.

E o amor que Maria Santíssima nos tem, não nos está incessantemente falando do amor que lhe devemos ter?

Ela estuda as nossas necessidades, sente-se de nossas aflições, antecipa-se às nossas súplicas, suporta os nossos defeitos, esquece as nossas ingratidões. Com quanto empenho, pois, lhe devemos mostrar um amor reciproco?

Aproveitemo-nos cuidadosamente das ocasiões de lhe agradar; nada de quanto se encaminhar ao seu serviço nos pareça de pouca importância, pois tudo quanto diz respeito à Mãe de Deus, à soberana do mundo, é verdadeiramente grande.

Inclinemo-nos prontamente a quanto se refere ao seu culto, a quanto pode contribuir para ser honrada e amada.

Máxima Espiritual

“Quem pretende obter graças sem a intercessão de Maria tenta voar sem asas” – Santo Antonino

Jaculatória

Sancta Virgo Virginum, ora pro nobis

Santa Virgem das Virgem, rogai por nós.

Agora se faz as Encomendações e outras Orações


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(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 63-75)

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