Skip to content Skip to footer

A Missa, culto de Ação de Graças

Meditação para a Terceira Quarta-feira depois de Pentecostes. A Missa, culto de Ação de Graças

Meditação para a Terceira Quarta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Depois de termos estudado o Santo Sacrifício como latrêutico, o consideraremos agora debaixo de outro ponto de vista; e veremos:

1.° Que é um sacrifício de ações de graças;

2.° Que devemos unir-nos a este espírito de ações de graças.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos ocuparmos durante a Missa em agradecer a Deus o Seu amor e os Seus inumeráveis benefícios;

2.° De multiplicarmos durante o dia as nossas ações de graças para com a bondade de Deus, dizendo-Lhe por forma de oração jaculatória: Obrigado, meu Deus; obrigado por tudo o que fazeis continuamente por mim, pela saúde que me dais, pelo uso que me deixais dos meus membros, pelo bom pensamento que me inspirais, etc.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do prefácio:

“Demos graças ao Senhor nosso Deus” – Gratias agamus Deo nostro

Meditação para o Dia

Consideraremos Deus como universal benfeitor do céu e da terra. Tributemos-Lhe por este título as nossas ações de graças. Reputemo-nos felizes por Lhe podermos oferecer o Santo Sacrifício, para suprir a nossa inaptidão em Lhe agradecer dignamente; e digamos com São Paulo:

“Dou graças a Deus por Jesus Cristo” – Gratias ago Deo meo per Jesum Christum (Rm 1, 8)

PRIMEIRO PONTO

A Missa é um sacrifício de Ações de Graças

Deve-se a Deus um infinito reconhecimento, porque de toda a eternidade nos amou infinitamente, destinando-nos desde então todos os bens, que nos prodigaliza no tempo. E quais são estes bens? É:

1.º Toda a criação, porque todo o universo foi feito para o homem;

2.° Tudo o que a Providência acrescentou e acrescenta ainda ao benefício da criação, quer na ordem temporal, quer na ordem espiritual: aqui os pormenores seriam infinitos;

3.º Todo o bem, que o próximo nos faz ou nos quer fazer, porque é o espírito de Deus, que lho inspira;

4.° A ação benéfica de Deus em todas as coisas; porque é uma ação de todos os momentos: pois a conservação contínua do nosso ser e de todos os outros, equivale a uma criação sempre nova; é uma ação toda gratuita; pois Deus nada nos devia, nada tinha a lucrar dando-nos esses bens, e longe de merecer os Seus favores, merecemos a Sua vindita; é uma ação da classe mais elevada, pois que os bens, que nos alcança, são de um valor infinito; é o Seu próprio Filho dado para nosso resgate, é o Seu Espírito Santo, que nos envia para infundir a caridade nos nossos corações, para nos fazer cristãos e católicos; é o Seu sangue, com que nos purifica e nos nutre pelos Sacramentos e Sacrifício; são as Suas graças interiores e exteriores, que preservam a alma de tantos pecados, que se cometeriam sem o Seu socorro, e a fazem progredir nas virtudes; é finalmente o Seu paraíso, que Ele nos oferece e põe de alguma sorte à nossa disposição.

Elevemos os nossos pensamentos ainda mais alto. Devemos incluir no número dos motivos de nosso reconhecimento:

1.° A glória que Deus alcança para Si mesmo com as Suas obras, a Sua Encarnação, os louvores que se dão entre si as Pessoas divinas, pois que a glória de Deus deve ser-nos mais preciosa que a nossa própria, e a Igreja nos manda cantar na missa:

“Damo-Vos graças por Vossa grande glória” – Gratias agimus tibi propter magnam gloriam tua (Hino Gloria in excelsis)

2.° As riquezas da graça, de que Deus encheu a santa humanidade de Jesus Cristo, a Virgem-Mãe, todos os anjos e santos, pois que em virtude da comunicação dos santos, as graças, que cada um recebe, são como bens de família. que atraem o reconhecimento de todos. Mas como satisfazer uma imensa divida como esta? Não temos para isso outro recurso senão o Santo Sacrifício superabundante. Porque Jesus Cristo, oferecendo-Se no altar como vítima eucarística, retribui a Deus tanto quanto Deus deu e dará para sempre; retribui-Lhe até mais, pois que aqui a vítima das ações de graças vale tanto como o mesmo Deus. Se, pois, por Jesus Cristo recebemos todos os bens, também por Jesus Cristo os agradecemos a Deus dignamente.

SEGUNDO PONTO

Devemos unir-nos ao espírito de ações de graças de Jesus Cristo no Santo Sacrifício

Jesus Cristo, agradecendo a Deus Seu Pai, não quis dispensar-nos da nossa dívida; ao contrario, quis convidar-nos com o Seu exemplo a agradecer ao autor de todo o bem, unindo-nos à Sua sublime ação de graças; quis agradecer a Deus por todos os Seus membros unidos com Ele e estender deste modo por toda a terra e por todo o céu o reconhecimento devido à Santíssima Trindade. Entrando nos Seus desígnios, o céu agradece-Lhe eternamente, e a Igreja da terra não cessa de cantar:

“Demos graças ao Senhor Nosso Deus!” – Gratias agamus Dominus Deo nostro

Penetremo-nos dos mesmos sentimentos, e do íntimo do nosso coração profundamente comovido, agradeçamos a Deus muitas vezes no dia todo o bem que nos faz; todo o bem que faz à sociedade inteira; tudo o que faz pela Igreja, a quem permite sobreviver a todos os Seus inimigos, e ganhar por um lado o que perde por outro. Ai daquele que não compreende este dever de reconhecimento!

“A ingratidão, diz São Bernardo, seca as fontes da piedade, o orvalho da misericórdia, os arroios da graça, dissipa as virtudes, perde os benefícios, aniquila os méritos, estraga e destrói tudo na alma” (1)

Ao contrário, o reconhecimento por um benefício recebido, atrai outros; e assim como as águas saídas do mar só voltam a ele para tornarem a sair, assim também os benefícios de Deus, que fazemos subir à Sua adorável fonte pela ação de graças, voltam para nós com uma nova abundância.

Finalmente, o reconhecimento excita-nos ao fervor:

Meu Deus, dizia muitas vezes consigo Santa Teresa, patrona das almas generosas e reconhecidas, meu Deus, receber tanto e retribuir tão pouco!

Pensando nisto, teria querido fazer-se pedaços por Deus; e não compreendia, que se pudesse viver neste mundo outra vida senão a do céu, que é um cântico eterno de ações de graças. Quão longe estamos dos sentimentos desta grande santa! Quão pouco agradecemos a Deus os Seus benefícios, e quão pouco reconhecidas Lhe somos! Entremos em melhores sentimentos, e desfaça-se o nosso coração em ações de graças!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Ingratitudo ventus urens, siccans sibi ontem pietatis, rorem misericordiae, fluenta gratiae (São Bernardo, Serm., 1 in Cant.)

Voltar para o Índice das Meditações Diárias de Mons. Hamon

(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 197-201)