Meditação I – Quinta-feira depois das Cinzas
Por Dom Henrique Soares da Costa
Reze o Salmo 118/119, 1-8:
1Felizes os que seguem o caminho da rectidão
e vivem segundo a lei do SENHOR.
2Felizes os que cumprem os seus preceitos
e o procuram com todo o coração,
3que não praticam o mal,
mas andam nos caminhos do SENHOR.
4Promulgaste os teus preceitos
para se cumprirem fielmente.
5Oxalá os meus passos sejam firmes
no cumprimento dos teus decretos.
6Então não terei de que me envergonhar,
se observar os teus mandamentos.
7Poderei louvar-te de coração sincero,
instruído pelos teus justos juízos.
8Hei-de cumprir as tuas leis;
não me abandones mais!
Leitura da Epístola de São Paulo aos Gálatas 1, 1-5:
1Paulo, apóstolo – não da parte dos homens, nem por meio de homem algum, mas por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos – 2e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia: 3Graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, 4que a si mesmo se entregou pelos nossos pecados, para nos libertar deste mundo mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai. 5A Ele a glória pelos séculos dos séculos! Ámen.
1. Primeiramente, recorde que esta Epístola é Palavra de Deus. Nas palavras de São Paulo, escritas por ele de modo tão humano, o Senhor Deus nos instrui sobre o Seu Filho, na luz e na potência, no conhecimento e na profundidade do Santo Espírito. Procure, portanto, ler e reler este trechinho com o coração aberto; um coração que escute.
Peça como Salomão: “Dá ao Teu servo um coração que saiba escutar” (1Rs 3,9), que saiba ouvir a santa Palavra do Senhor como realmente ela é: Palavra de Deus. Leia 1Ts 2,13.
2. São Paulo começa recordando aos gálatas que ele é apóstolo, isto é, “enviado”; enviado não por homens, não pelos Doze, não por Pedro, mas pelo próprio Jesus Cristo, o Enviado de Deus Pai!
Atenção: Paulo não era dos Doze, Paulo não conhecera Jesus neste mundo e, no entanto, livre e soberanamente, Jesus Cristo o chamou para ser apóstolo. Trata-se de uma escolha inesperada e graciosa do Senhor, por pura liberalidade.
Leia At 22,1-22. Aí, o próprio Apóstolo conta a sua vocação surpreendente e absolutamente gratuita por parte do Senhor. Paulo não se considera apóstolo contra os Doze nem desprezando os Doze, mas sabe que o seu chamado foi diretamente feito pelo Senhor. Se os pastores da Igreja devem ser sempre respeitados, no entanto não são os donos do rebanho nem proprietários da fé e da vocação dos discípulos. Só o Senhor é soberano absoluto da Igreja e ninguém mais: nem um Papa nem um Bispo nem um padre nem ninguém!
3. A palavra “apóstolo”, na Igreja, indica aquele que é enviado como representante do Cristo que envia. O apóstolo faz as vezes do próprio Cristo: “Quem vos ouve e Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita” (Lc 10,16) de modo que acolhê-lo ou rejeitá-lo equivale a acolher ou rejeitar o próprio Cristo.
Quem são os apóstolos?
a) Primeiramente e de modo todo especial os Doze primeiros que o Cristo chamou e enviou em Seu nome.
b) Depois, de modo absolutamente único, Paulo de Tarso, escolhido não por meio de homens, mas diretamente de Jesus Cristo.
c) Depois ainda homens que receberam dos Doze ou de Paulo, em geral pela imposição das mãos, isto é, o Sacramento da Ordem, a autoridade de enviados em nome de Cristo para ensinar e pastorear a Igreja.
d) Finalmente, todos aqueles que pelo Batismo, a Crisma e a Eucaristia são, neste mundo, sal e luz por ordem do próprio Cristo (cf. Mt 5,13).
4. Reflita:
a) Na Igreja, aqueles que sucedem a Pedro e aos Doze são o Bispo de Roma e os Bispos e seus cooperadores, os presbíteros. Eles devem ter o respeito e a obediência por parte dos fieis (cf. 1Cor 3,9; 1Ts 3,2; Hb 13,7) Mas, isto não é absoluto:
“O que se exige do administrador é que cada um seja fiel” (1Cor 4,1s)
Sendo enviados pelo Cristo, os sucessores dos primeiros apóstolos devem ser fieis na doutrina católica e apostólica, no zelo pelo pastoreio do rebanho segundo o Coração de Cristo Bom Pastor e na santificação do rebanho pelo exemplo e pela celebração dos mistérios de Cristo.
b) Além dos pastores da Igreja, todos os batizados e crismados têm um dever de apostolado na Igreja, comunidade dos discípulos do Senhor Jesus. Atenção: esta missão não é dada por nenhum ministro ordenado, mas diretamente pelo Cristo, no Batismo e na Crisma e alimentada em cada Eucaristia! A missão deve ser vivida em comunhão com os pastores e sob a orientação deles, mas não vem deles! Só Cristo é a fonte absoluta e o critério absoluto da vida cristã e da missão!
c) Aqui cabe a pergunta: Você é um apóstolo do Senhor, isto é, você é alguém que se deixa enviar pelo Senhor como testemunha da Sua presença, do Seu amor, da Sua verdade, da Sua salvação? Leia com atenção Mt 5,13ss. É uma séria advertência do Senhor!
Recorde que seu primeiro apostolado é no ambiente em que você vive, no estado de vida em que o Senhor o colocou: família, esposo, pai, mãe, patrão, funcionário, empregado, namorado, estudante…
Leia Is 6,1-8. Pense rezando:
Senhor, onde queres me enviar? Onde desejas que eu seja sinal de Ti, presença de Ti? Senhor, aqui estou! Ajuda-me a ser Teu apóstolo, Teu enviado, Teu embaixador nas várias situações e locais deste mundo e desta vida! Faz-me corajoso, faz-me disponível, faz-me fiel! A Ti a glória, Senhor, pelos séculos sem fim. Amém.
5. Agora observe: Quem chama Paulo ao apostolado? É Jesus Cristo! É Ele o Enviado do Pai, é Ele “que Se entregou a Si mesmo pelos nossos pecados a fim de nos livrar do presente mundo mau, segundo a vontade do nosso Deus e Pai” (v.4) e, tendo-Se entregado, foi ressuscitado dentre os mortos pelo Pai (cf. v. 1). Aqui há ideias muito importantes, centrais, para a nossa fé:
(a) Toda a Vida, toda salvação, toda vocação nasce do Pai e nos vem por Jesus Cristo nosso Senhor. Foi o Pai Quem “amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16). A obra da salvação tem seu princípio no Pai, manifesta-se através do Filho feito homem de morte e ressurreição por toda a humanidade e se efetiva seja em Cristo seja na Igreja até o fim dos tempos na potência do Santo Espírito que o Ressuscitado derrama continuamente na Sua Igreja.
(b) A Vida divina que o Pai nos quer dar, a comunhão com Ele, isto é, a salvação, por vontade livre e soberana do Pai, vem-nos pela Morte e Ressurreição do Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ele Se entregou em perfeita obediência e comunhão com o Pai (cf. Jo 10, 17s) e pelo Pai foi ressuscitado na potência do Espírito Santo, que foi pelo Ressuscitado derramado sobre nós (cf. Rm 1,3s; At 2,32s).
(c) Esta salvação que o Senhor Jesus Cristo nos trouxe nos separa do “mundo mau”. O cristão é separado do mundo! O que isto significa? O cristão, iluminado pela luz do Cristo Jesus, sabe que o mundo foi marcado pelo pecado. Este mundo atual, bom em si mesmo, é ferido gravemente pelo mistério da iniquidade. Jesus fala de Satanás como o “Príncipe deste mundo” de pecado (cf. Jo 12,31; 16,11) e deixa claro que a Sua escolha nos separou do mundo (cf. Jo 17,14-16). São Paulo nos previne claramente de que aqueles que desejam agradar ao mundo não são amigos de Cristo (cf. Gl 1,10) e que a lógica da Cruz de Cristo é loucura para o mundo: ele não consegue compreender porque não tem o Espírito de Cristo (cf. 1Cor 2,14) São afirmações tremendas e de grande atualidade, sobretudo quando se vê na Igreja muitos que são tentados a mundanizar a Esposa de Cristo, a prostituí-la ao modo de ver, sentir, pensar e agir do mundo, inimigo de Cristo! O cristão verdadeiro, que se pauta por Cristo, jamais aceitará isto, pois vivemos na carne, mas não podemos militar segundo a carne! Leia com atenção 2Cor 10,3-6.
6. Pensando nos seus próprios sofrimentos, mas sobretudo, pensando na Igreja, novo Israel, e naqueles que, dentro e for a dela, querem destruí-la ou desfigurá-la, reze o Sl 94/93.
(Fonte: retirado do blog pessoal de Dom Henrique Soares -a Visão Cristã)