Meditação para o Undécimo Sábado depois de Pentecostes
Duodécima razão de sermos Humildes
SUMARIO
Meditaremos sobre a duodécima razão de sermos humildes; é:
1.° Porque a humildade é a mãe da caridade;
2.° Porque é o seu encanto.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De tratarmos toda a gente com deferência e bondade, e de pormos a nossa felicidade nas delicadas atenções e obséquios que a caridade inspira, e a humildade pratica.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:
“Adiantai-vos em honrar uns aos outros” – Honore invicem praevenientes (Rm 12, 10)
Meditação para o Dia
Adoremos Nosso Senhor trazendo ao mundo a virtude da humildade, cujo nome lhe era desconhecido antes dWle, e com isto preparando-nos o caminho para a caridade, cujo reino vinha estabelecer sobre a terra. Demos-Lhe graças por este duplo benefício, e desejemos vivamente aproveitar-nos dele.
PRIMEIRO PONTO
A Humildade é a mãe da Caridade
Só quem é humilde, é capaz de ter sempre para com o próximo esta estima e consideração, esse respeito e deferência, que constituem a verdadeira caridade.
1.º A caridade, diz São Paulo, é paciente (1Cor 13); sofre tudo da parte dos outros e nenhum desgosto lhes faz sofrer. Ora a humildade obra assim, mas não a soberba, que é essencialmente impaciente, incapaz de sofrer a contradição, o desprezo, a falta de atenções (1).
2.° A caridade não é invejosa, nem ambiciosa; longe de invejar a felicidade dos outros ou de se entristecer com a sua prosperidade, deseja-lhes tanto como a si mesma; tem tão pouca ambição, que nada há, por mais vil e abjeto que possa ser, que não abrace de todo o coração por amor do próximo. Ora a humildade faz tudo isto com simplicidade, e a soberba não obra assim.
3.° A caridade, continua São Paulo, não se ensoberbece, não sabe o que é mandar com império, repreender com aspereza, falar com frieza, ainda menos tratar alguém com desprezo. Ora a humildade sobressai em todas estas santas coisas; a soberba obra inteiramente o contrário.
4.º A caridade é desinteressada (2), a humildade o é igualmente. Como não se estima a si e estima os outros mais que a si, antepõe sempre os interesses dos outros aos seus. A soberba pensa e obra de um modo inteiramente diverso.
5.° A caridade não se irrita (3); não se indigna, não se ira contra ninguém, qualquer que seja o desgosto que lhe causem. A humildade é capaz desta moderação, mas não a soberba.
6.° A caridade não pensa no mal, que lhe fizeram ou que lhe quiseram fazer; longe de o olhar como uma injúria e de procurar vingar-se, esquece-o, desculpa-o, e perdoa-o. Ora estas disposições encontram-se na humildade e não na soberba.
7.º Finalmente, a caridade, longe de folgar com as quedas do próximo, alegra-se de o ver adiantar-se nas veredas da justiça e excedê-la em virtude (4). Ora assim pensa e obra a humildade. Ao contrário, a soberba não tolera que os outros lhe sejam superiores ou preferidos, e não pode ouvir louvá-los sem os deprimir.
Examinemos, por estes sete caracteres, se uma sincera humildade nos tem inspirado uma verdadeira caridade.
SEGUNDO PONTO
A Humildade é o encanto da Caridade
Nada há mais amável que a companhia do homem verdadeiramente humilde. Como se reputa o último de todos, é cheio de deferência e atenções para com todos. Convencido de que ninguém lhe é obrigado, e que é obrigado a todos, honra e respeita toda a gente. Sofre a contradição, a desconsideração, o mesmo desprezo e vitupério, como coisas que lhe são devidas; parece que não repara nas faltas de atenção ou de deferência, nas palavras de censura ou de escárnio; e só lhes opõe maneiras afáveis, palavras benévolas, todos os bons ofícios que pode prestar-lhes. Tudo nele é humilde, modesto, simples, amável. Não se ofende de coisa alguma e desconhece o amor-próprio. Ora quem não compreende quão cheia de encantos é a companhia de um tal homem? É este o fruto da humildade.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Inter superbos semper jurgia sunt (Pr 13, 10)
(2) Non quaerit quae sua sunt
(3) Non irritatur
(4) Non gaudet super iniquitate, congaudet autem veritate
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 103-105)